Capítulo 12

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Samantha Cordeiro

A chuva ainda caía quando ouvi o som do motor do carro de Marcelo se afastando da casa, deixando para trás uma sensação de solidão. Ele havia levado Clarice para a escola e mencionou que não voltaria para o almoço.

Após a conversa que tive com ele na biblioteca, uma série de perguntas se formaram em minha mente. Lembro-me vividamente dele mencionar que conheceu minha mãe. Eu estava ávida por respostas, desejando saber como, quando e onde ele a conheceu e qual foi o papel que desempenhou em sua vida, mas ainda estava sem jeito de perguntar certas coisas.

Tentei me ocupar com diversas atividades para afastar o tédio e as grandes questões que constantemente surgiam em minha mente, mas sem sucesso. Quando dei por mim, já estava adentrando a cozinha de Adelaide. Se havia alguém capaz de me fornecer as respostas que buscava, essa pessoa era ela.­

– Dona Adelaide – chamei casualmente enquanto entrava na cozinha.

A venerável senhora estava posicionada diante da pia, vestindo um avental vermelho e cortando legumes. Assim que me avistou, ela virou o corpo em minha direção, um sorriso nos lábios e uma expressão repleta de doçura.

– Diga, querida, precisa de alguma coisa?

Sim! De respostas!

Claro que não tive coragem de dizer o que estava pensando, então apenas me aproximei sem jeito, mordendo a ponta do polegar enquanto os dedos agarravam a manga do meu casaco.

– Não, eu... eu só queria saber se a senhora precisa de ajuda. É que essa casa é muito grande e estou bastante entediada.

Ela me avaliou por alguns instantes e depois voltou-se para a pia, cortando os legumes lentamente e em silêncio.

– Parece que você está com uma cara de quem quer saber alguma coisa – murmurou. – Mas se quiser, pode me ajudar a cortar os legumes.

Me aproximei da pia lentamente. Como ela sabia que eu precisava de respostas? Dona Adelaide me entregou um avental e um descascador de legumes. Após passar o avental pela minha cabeça e levantar a manga do casaco, peguei uma cenoura e comecei a descascá-la, concentrada na tarefa.

– Está gostando de viver aqui, minha querida? – perguntou, com tom investigativo.

– Estou. Na verdade, ainda me sinto deslocada, mas a pequena Clarice sempre dá um jeito de me fazer sentir em casa.

Adelaide sorriu ternamente.

– Essa menina é um anjinho.

Talvez fosse a oportunidade para começar minhas investigações.

– Marcelo me disse que a pobrezinha não tem mãe... – comentei, jogando o verde e focando no maduro. – Que elas os deixou.

– É uma pena. Ainda tenho esperança, sabe... – ela abriu a geladeira, pegou mais alguns legumes e os colocou na pia. – Esperança de que a mãe da menina se arrependa do que fez e do que está fazendo.

Parei de cortar os legumes e olhei em sua direção.

– E... o que exatamente ela fez? – perguntei, com os olhos arregalados.

– A mesma história se repete, homem rico, mulher interesseira, filho, pensão e depois o abandono. Parece que esse menino tem um imã para atrair esse tipo de situação. Com Penélope foi a mesma coisa.

Então, era isso. Penélope estava ligada a uma desilusão de Marcelo? Foi por isso que ele não quis falar sobre o assunto.

– Que horror! Quer dizer que a mãe da menina engravidou por interesse e a abandonou depois de obter dinheiro? Que tipo de ser humano tem coragem de fazer isso?

– É uma boa pergunta, minha querida... uma boa pergunta.

Voltamos a realizar nossas atividades em silêncio. Pelo menos eu, tentava não demonstrar o quanto estava chocada com o que ouvi. Aquela criança era tão doce, não merecia ter uma mãe tão cruel. E Marcelo? Como ele deveria se sentir ao saber que foi usado? Certamente, aquele homem carregava muitos fardos.

– Dona Adelaide? – Voltei a perguntar após alguns minutos de silêncio.

– Sim, minha querida.

– Marcelo me disse que conhecia minha mãe. A senhora sabe alguma coisa a respeito disso?

Olhei para o rosto da mulher e percebi que seus olhos estavam fixos em mim, seus lábios cerrados e sua expressão antes calma agora estava atormentada, como alguém que procura uma saída, mas não a encontra.

– Eles eram amigos de infância, é tudo o que sei.

Era óbvio que havia mais informações, mas Adelaide não iria trair a lealdade ao seu patrão por uma desconhecida. Desisti do assunto e perguntei o que teríamos para o almoço. Rapidamente e quase com alívio por não precisar me dar respostas, Adelaide respondeu que teríamos sopa de legumes, mudando completamente de assunto.

Passamos alguns minutos na cozinha, conversando e preparando o almoço. Mesmo em meio a uma conversa tão amigável, eu não conseguia parar de pensar em qual momento do passado a vida da minha mãe se cruzou com a de Marcelo e que história havia por trás dessa tal Penélope.


O preço da LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora