Capítulo 8

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Marcelo Medeiros

Acordei com a mente cheia de preocupações sobre os problemas em que João havia envolvido Samantha devido à sua própria imprudência. Embora eu entendesse que ele estava lidando com a dor da perda da esposa, não havia desculpa para colocar a vida da filha em perigo, envolvendo-se com pessoas perigosas. E, Samantha, com sua juventude e beleza, despertava em mim um senso de responsabilidade e proteção. Eu não conseguia sequer imaginar as atrocidades que aquelas pessoas poderiam cometer caso a encontrassem.

Ao me levantar, caminhei até o banheiro e, enquanto escovava os dentes, refleti sobre a melhor forma de cuidar de Samantha sem trazer tantas consequências para a minha vida. Tomei um banho demorado, permitindo que a água quente acalmasse minha mente tumultuada. Era sábado e eu não havia planejado nada para o dia. Tudo o que eu tinha em mente era garantir a segurança de Samantha e dar um pouco de atenção a minha filha.

Após me vestir com roupas simples – uma camisa de algodão e jeans –, segui para a cozinha. Lá encontrei minha filha, Clarice, e Adelaide, trabalhando em conjunto para preparar um café da manhã delicioso. O aroma dos ovos mexidos e café fresco invadiu o ambiente, aguçando meu apetite.

– Bom dia! O que estão fazendo? O cheiro está delicioso! – me aproximei, observando a mesa posta com todos os itens para o café da manhã.

Minha filha estava em pé na ponta dos pés em cima da cadeira, lutando para alcançar a tigela que estava sobre a mesa. Ela usava um vestido rosa, e seus longos cachos caíam sobre seus ombros. Distraída, ela mexia a massa de panquecas na tigela enquanto Adelaide, que vestia um vestido florido largo, acompanhado de seu avental vermelho, amarrado firmemente em sua cintura, cuidava da frigideira na beirada do fogão.

Clarice sorriu animada ao me ver entrar na cozinha.

– Bom dia, Papai! Ocê veio bem na hola! Estamos pepalando um café da manhã especial.

– Bom dia, filho – Adelaide disse retirando do forno um bolo recentemente assado e o colocou em cima da mesa. – Estamos fazendo panquecas. A Clarice teve a ideia de preparar um café da manhã especial para a Samantha.

– Sa-man-tha – minha filha recitou o nome da jovem com um sorriso inocente. – Café para Samantha.

Sorri orgulhoso, minha filha era tão doce, não se parecia nada com a mãe.

– Que gesto adorável, filha.

Dei um beijo na testa da minha pequena, puxei uma cadeira e me sentei, relaxando e abrindo o jornal com as informações do dia que estava sobre a mesa.

Adelaide gentilmente me serviu uma xícara de café forte e voltou sua atenção à frigideira.

Adelaide era a empregada de confiança do meu pai, e quando ele faleceu, decidi que ela deveria trabalhar para mim, já que éramos como uma família. Ela praticamente me viu crescer, e eu tinha um profundo carinho por ela. E agora ela me ajudava a cuidar da minha filha. Eu sabia que ela trabalhava incansavelmente e já estava na hora de se aposentar, mas a teimosa resmungava, insistindo que ainda dava conta de tudo sem a ajuda de ninguém.

– Adelaide, a senhora parece cansada. Por que não tira o dia para descansar? – sugeri, fechando o jornal e olhando diretamente em seus olhos.

A mulher me lançou um olhar penetrante, como sempre fazia quando eu tentava interferir em seus afazeres.

– Já disse, menino, estou velha, mas não estou morta – retrucou Adelaide com um murmúrio.

Soltei uma risada diante da resposta previsível dela. Era sempre assim.

O preço da LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora