Capítulo 16

942 116 5
                                    

Samantha Cordeiro

Acordei sobressaltada com um estrondo vindo do quarto. Ergui a cabeça, confusa, para descobrir o que estava acontecendo e dei de cara com Marcelo parado ali, segurando uma bandeja com café da manhã, um sorriso provocante no rosto.

– Bom dia, bebum! – ele zombou ao se sentar na cama e me entregar o café.

– Obrigada – levantei a cabeça do travesseiro, mas tudo começou a girar.

Fechei os olhos com força, sem acreditar que estava sofrendo uma ressaca de proporções devastadoras. Minha cabeça parecia girar e explodir ao mesmo tempo.

– Você precisa comer alguma coisa, vai ajudar com a ressaca. – disse ele, avaliando meu constrangimento.

O que aconteceu? Eu não me lembro de nada – me encolhi embaixo do lençol, sentindo a vergonha me consumir de dentro para fora, meu rosto em chamas.

– Não foi nada demais – ele mordeu o lábio e olhou para baixo, hesitante. – Quando cheguei em casa, te encontrei completamente bêbada, chorando – ele enfatizou essa parte. – Depois te levei para o quarto, e aí... você me agarrou e...

Merda. Merda. Merda, mil vezes merda!

Caí para trás na cama, incapaz de ouvir o resto da história que certamente seria vergonhosa. Afundei no colchão enquanto puxava lentamente o lençol para cobrir meu rosto, tentando imaginar que tipo de situação constrangedora eu tinha criado. Senti como se estivesse prestes a desaparecer sob o olhar penetrante de Marcelo.

– Que horas são? – perguntei.

Ele conferiu seu relógio de pulso e olhou na minha direção.

– São dez e vinte e três. E... – Seu tom ficou sério. – Precisamos conversar, Samantha.

Não havia nada pior do que saber que eu tinha exagerado na bebida e, sem dúvida, causado algum tipo de vexame horrível, que agora era a razão dos olhares embaraçados de Marcelo em minha direção.

–Eu... – olhei para a torrada que estava no prato da bandeja e senti enjoo. – Preciso de mais tempo para me recuperar. – Mas, o que você quer falar comigo?

– Por enquanto, só quero que se recupere dessa ressaca. Estarei no meu escritório, caso precise de mim. – Ele deu as costas e caminhou em direção à porta.

Droga, não consigo acreditar que fui tão infantil a ponto de me embriagar e fazer um completo papelão?

Eu queria que a terra se abrisse e me engolisse. Ouvir aquela voz rouca e descontente me dizendo "precisamos conversar" só aumentava o meu medo.

***

Não era a primeira vez que eu teria uma conversa difícil com Marcelo. Eu sabia que ele me daria uma bronca terrível por ter me embriagado em sua casa e ainda correr o risco de Clarice me ver naquele estado, sendo um exemplo negativo.

Eu não era a garota perfeita, mas odiava falhar. Odiava saber que tinha decepcionado alguém, e sabia que esse tipo de comportamento não era o que Marcelo esperava de mim.

Saí do quarto com os cabelos ainda molhados do banho que havia tomado alguns minutos antes. Estava vestindo apenas um short jeans e uma blusa larga.

Passei o dia inteiro na cama, sentindo náuseas e vomitando o vinho que ainda estava em meu estômago.

Procurei por Marcelo no escritório, mas ele não estava lá. Na verdade, a casa estava envolta em absoluto silêncio, diferente quando Clarice estava em casa. Os risos e brincadeiras da menina enchiam o ambiente, tornando a casa mais alegre.

Desci as escadas que levavam ao andar de baixo e encontrei Marcelo deitado no sofá, lendo um livro. Sua posição revelava suas pernas, enquanto ele usava um simples short e uma regata que destacava seu físico perfeito.

Respirei fundo, enchendo meus pulmões de ar antes de chamar sua atenção.

– Hum-Hum... Marcelo? – Ele ergueu o olhar em minha direção e sentou-se no sofá com uma postura séria.

– Como você está se sentindo? – me avaliou por alguns instantes depois de fechar o livro que estava em seu colo.

Aquela pergunta simples trouxe à tona toda a vergonha e arrependimento que eu sentia. Era constrangedor vê-lo me olhando daquela forma como se eu fosse um experimento de laboratório que deu errado. Principalmente porque não sabia o que estava passando por sua cabeça, e também porque não me lembrava do que exatamente fiz durante minha embriaguez.

Como pude ser tão absurda e imprudente a ponto de ficar completamente bêbada?

– Melhor... – respondi, me encolhendo e coçando a cabeça, sem ter nenhuma maneira madura de encarar a situação.

Marcelo se levantou do sofá, pegou sua carteira e as chaves do carro, olhou em direção à porta e caminhou até lá.

– Venha!

Espera aí? E a conversa? E a bronca?

– Para onde vamos? – perguntei, sem entender o que ele tinha em mente.

– Vamos a um lugar, prometo que não vai se arrepender.

Eu me movi de onde estava, completamente confusa. Pensei que Marcelo, por ser um homem de poucas palavras, fosse rígido e quisesse seguir as regras à risca. Mas pelo visto, ele estava mostrando mais compreensão do que eu imaginava.

Ele dirigiu tranquilamente por vários quilômetros, seguindo as mesmas vias que eu percorria durante a semana quando ia trabalhar no restaurante.

Por ser fim de semana, as ruas estavam vazias, com pouco tráfego e congestionamento. Marcelo parecia confortável com o que estava prestes a fazer, e eu não ousei questioná-lo. Seu rosto exibia uma expressão incomum, como se estivesse prestes a me surpreender a qualquer momento enquanto eu evitava as palavras, não queria me complicar ainda mais.


Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
O preço da LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora