Marcelo Medeiros
Voltei para casa depois de um dia cansativo de trabalho. Tudo o que precisava era de um banho, roupas limpas e finalmente desfrutar de um bom vinho. Afinal, Clarice estava na casa da tia, então eu poderia ter um tempo para mim e fazer algo que já não fazia há muito tempo.
Ao entrar pela porta de casa, deparei-me com uma cena que mexeu profundamente comigo.
Samantha estava sentada no canto do sofá, abraçando suas pernas, e ao seu lado havia uma garrafa de vinho quase vazia. Aproximei-me balbuciando, sem saber o que dizer. Ela levantou os olhos em minha direção e percebi que estavam cheios de lágrimas. Foi então que notei que ela segurava uma foto de seus pais em suas mãos.
Sua pele estava pálida, sem cor. Ela pegou novamente a garrafa e terminou de beber o restante do líquido, virando-a pelo gargalo, olhando fixamente para a foto.
– Eles estão juntos agora, não é? – ouvi seu tom embriagado.
– Sim. Eles estão juntos – aproximei lentamente, me agachei e retirei a garrafa de suas mãos.
– Eu também quero ir! – disse ela, deixando algumas lágrimas escorrerem por seu rosto.
Droga! Odeio ver uma mulher chorar.
Seu olhar devastado mostrou o quanto ela ainda sofria com a perda dos pais. Não conseguia pensar em nada que pudesse ajudá-la naquela situação. Eu pensei que ela estivesse se recuperando do luto, nos últimos dias estava mais feliz, circulando pela casa, ajudando Adelaide com algumas coisas na cozinha e sendo uma boa companhia para minha filha. Quando saí de casa, ela estava animada e se preparando para receber a visita de uma amiga. Não entendi o que a levou a se embebedar de repente.
– Venha, você está embriagada! – Segurei sua cintura enquanto ela lutava para se manter de pé, mal conseguindo sustentar seu próprio peso. Ela afundou a cabeça no meu peito e começou a chorar inconsolavelmente. Sentindo-me culpado por tê-la deixado sozinha em casa numa noite de sexta-feira, acariciei sua nuca, tentando confortá-la.
– Só bebi o suficiente para afogar a dor – ela disse, tentando se equilibrar.
– Que dor?
– Sim, Marcelo, a dor que está aqui – ela apontou para o peito. – Você não vê?
– Acho que essa dor não é visível, apenas sentida – disse, e ela riu e balançou a cabeça.
– Olhe bem, dá para ver! Você é quem não quer enxergar.
– Do que está falando?
Ela se aproximou-se do meu ouvido e sussurrou.
– As borboletas. Acho que elas estão morando aqui, na minha barriga.
– Borboletas, que borboletas?
– Seu bobinho – ela riu novamente enquanto secava algumas lágrimas e afastou a cabeça do meu peito. – Estou falando das borboletas que voam aqui! – apontou para sua barriga.
– Ah! – suspirei desistindo de entendê-la. – Você está bêbada!
Com cuidado, a peguei no colo e a levei para o quarto. Assim que a deitei na cama, ela segurou minha camisa.
– Fica comigo? Não quero ficar sozinha aqui. Papai dizia que há monstros embaixo da cama – sua voz soou chorosa e manhosa.
Sorri e acariciei seu rosto.
– Não há monstros debaixo da cama, Samantha.
– Então, mesmo assim, fica comigo? Poderíamos fazer amor, eu nunca fiz amor.
Meu Deus! Estou realmente ouvindo isso?
– Não seja absurda – a repreendi com firmeza. – Você está embriagada, não sabe o que está dizendo.
– Mas é claro que sei! Fazer amor é quando duas almas apaixonadas se unem em seus corpos e se tornam um só, pelo menos é isso que li nos livros.
Eu sabia que não havia nada cômico em ouvir essas palavras vindas dos lábios de uma garota tão inocente, mas não consegui conter uma risada, levantando as sobrancelhas. Ela riu junto comigo, sentindo-se ousada.
Eu tinha certeza de que ela se arrependeria disso no dia seguinte.
– Faça amor comigo, Marcelo, eu preciso resolver esse problema. – Ela me puxou com força e determinação, tentando alcançar meus lábios e deixando seu hálito embriagado próximo ao meu rosto. – Ou você não quer?
– Se comporte, Samantha! – Me afastei abruptamente, e ela me olhou franzindo a testa com esticando um biquinho.
– Parece que ninguém se interessa pela patética garota virgem.
– Samantha... – A palavra "virgem" me atingiu em cheio, então ela ainda era virgem? – Você precisa descansar – disse, afastando suas mãos da minha camisa, mesmo que aquele convite fosse uma tentação, já que fazia muito tempo desde a última vez que estive com uma mulher.
E, em um momento de distração, ela puxou novamente minha camisa e conseguiu colocar seus lábios nos meus. Senti o suave sabor do vinho preenchendo aqueles lábios tão macios, e tive o desejo de corresponder, mas não podia me aproveitar de uma garota embriagada.
– Faça amor comigo, Marcelo! Faça... – sussurrou ela em meu ouvido, com uma voz incrivelmente sedutora.
– Samantha... – tentei escapar, mas ela me puxou novamente, arranhando meu braço com suas unhas. – Pare com isso, menina. Você não quer isso, está apenas embriagada! – a repreendi com mais autoridade, com a voz rouca e autoritária.
Percebendo meu tom de voz, ela colocou as mãos no rosto, envergonhada, e se jogou na cama. De repente, ouvi gemidos confusos e ela começou a chorar como uma criança que recebeu um castigo.
– Eu sou tão patética!
– Não, você não é... – disse sentindo-me um tanto arrependido por ter sido tão brusco.
Deitei-me ao seu lado na cama e a abracei, aconchegando sua cabeça em meu pescoço enquanto acariciava suavemente seu braço.
– Shhh, está tudo bem... Está tudo bem...
E, de repente, ouvi-a suspirar junto de soluços que iam se desfazendo aos poucos e minutos depois, percebi que ela havia caído em um sono profundo. Dei-lhe um beijo na testa, levantei-me da cama e a cobri com cuidado, refletindo sobre toda a cena.
Saí do quarto com a certeza de que precisávamos ter uma conversa.
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O preço da Liberdade
RomansaCom o desaparecimento súbito de seu pai, Samantha Cordeiro se vê na residência de Marcelo Medeiros, um enigma de homem cujo passado sombrio está intrinsecamente conectado ao dela. Em meio a um turbilhão de temores e suspeitas, um amor inesperado flo...