Samantha Cordeiro
– O que você disse? – Perguntou minha amiga Lorena, enquanto enchia as taças de vinho.
– Estou confusa, é estranho, sabe? A forma como ele me toca, fala comigo, me olha...
O dia foi tão monótono quanto todos os outros. Clarice foi levada para o colégio logo cedo, e Marcelo fez questão de faltar ao trabalho para levar pessoalmente dona Adelaide ao médico. Descobrimos que ela estava com estafa de tanto trabalhar. O médico receitou algumas vitaminas e recomendou muito repouso.
Resmungando, ela aceitou ficar quietinha no quarto, sem se preocupar com suas tarefas. Por volta das três horas, quando Clarice já havia chegado do colégio, Cassandra apareceu com sua postura elegante e levou-a para passar o final de semana em sua casa. Marcelo aproveitou a oportunidade para fugir para o trabalho, deixando-me sozinha naquela casa enorme. Então, liguei para Lorena e convidei-a para passar um tempo comigo, afinal, eu tinha a total permissão do dono da casa.
Foi divertido ver as reações da minha amiga ao perceber o tamanho da casa e todo o luxo ao nosso redor. Prontamente, como duas adolescentes que conquistaram liberdade pela primeira vez, escolhemos um vinho tinto de Marcelo na adega, pegamos duas taças e nos sentamos na área das espreguiçadeiras, à beira da piscina. O tempo estava fresco e a noite começava a cair.
Contei para minha amiga os últimos acontecimentos, incluindo os toques que Marcelo me dava quando conversávamos e a forma como eu estava me envolvendo com a família. Ainda estava confusa com tudo e precisava de conselhos de alguém que realmente tivesse experiência.
– Você precisa resolver esse problema o mais rápido possível – disse minha amiga, entregando-me a taça cheia.
– Que problema, Lorena? – Recebi a taça e dei um longo gole na bebida adocicada.
– O problema da sua virgindade! É óbvio que está rolando um clima, mas você não percebe por que é muito inexperiente.
Deixei os ombros caírem e me deitei na espreguiçadeira.
– Para com isso, Lorena! Nem tudo está relacionado a sexo. E minha virgindade não é um problema.
– Amiga? – Lorena sentou-se na espreguiçadeira ao meu lado e colocou a mão no meu ombro. – Você está vivendo na casa dele há dias. O cara é solteiro, pelo que me contou, é gatíssimo. Tudo o que você está sentindo são seus hormônios, e você deve tomar cuidado com as borboletas.
– Cuidado? Borboletas? – Perguntei sem entender. – Do que você está falando, Lorena?
– Sim, borboletas, paixão – ela descansou a taça em cima da mesa de bambu que estava entre nossas espreguiçadeiras e me olhou. – Cuidado para não se apaixonar por ele. Você está sozinha, sensível, frágil, vulnerável, e o cara apareceu como um salvador... é um terreno fértil para você se apaixonar, e se ele não corresponder, você vai ter o coração partido.
Bebericando a taça, pensei que talvez minha amiga estivesse certa. Eu precisava tomar cuidado, caso contrário, acabaria apaixonada por Marcelo, o que não era difícil. Ele era um cara tão perfeito, o homem que toda mulher quer como pai de seus filhos: educado, preocupado, forte, cheio de atributos admiráveis que uma mulher procura em um homem.
– E não é só isso – falei em tom de confissão. – Estou me apegando a eles, sabe? São uma família tão unida, amorosa e, mesmo eu sendo uma completa estranha, eles sempre dão um jeitinho de me fazer sentir em casa.
– Isso pode ser bom, amiga. Aproveite que agora você está tendo a chance de ter uma vida melhor e...
Conversamos sobre todo tipo de assunto e nem percebemos como o tempo passou rápido. Como diz o ditado, "tudo que é bom dura pouco". Algumas horas depois, Lorena deixou sua taça em cima da mesinha e se levantou da espreguiçadeira.
– Tenho que ir para o trabalho, amiga.
Fiz biquinho, abaixando as sobrancelhas.
– Mas já?
– Sim, eu não tive a oportunidade de morar em uma mansão dessas, debaixo da proteção de um homem maravilhoso, então tenho que entregar pedidos e lavar pratos – ela riu e me beijou no rosto. – Se cuida, amiga! Qualquer coisa que precisar, me liga, e pensa no que te falei.
Acompanhei Lorena até a porta de saída, nos despedimos e ela se foi, e, quando voltei para a área das espreguiçadeiras, olhei para a garrafa de vinho e me convenci de que ela não merecia ser bebida até a metade.
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O preço da Liberdade
RomanceCom o desaparecimento súbito de seu pai, Samantha Cordeiro se vê na residência de Marcelo Medeiros, um enigma de homem cujo passado sombrio está intrinsecamente conectado ao dela. Em meio a um turbilhão de temores e suspeitas, um amor inesperado flo...