Capítulo 35

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Samnatha Cordeiro

Meus sequestradores estavam comemorando alguma coisa, talvez porque soubessem que receberiam mais dinheiro do que o combinado pelo simples fato de eu estar grávida. Eu conseguia ouvir os risos e as músicas que tocavam naquela noite; podia até imaginar que estavam embriagados, aproveitando-se de mulheres vulneráveis, já que eles não tinham limites nem escrúpulos.

Sentia meu corpo quente, como se estivesse com febre. Por ter recusado o café da manhã, eles resolveram me punir, deixando-me sem comida quase o dia todo. Eram realmente pessoas sem coração. Mesmo sabendo sobre a gravidez, não sentiam nenhum pingo de compaixão ou remorso pelo que estavam fazendo. Aurora não apareceu mais, e eu não tive ninguém para apelar por um copo d'agua.

Além de me sentir doente, estava fraca, quase desfalecendo, e certamente desnutrida. Eu não conseguia ver claramente, mas era evidente que havia perdido muito peso durante o tempo em que estive trancafiada ali. Tinha medo de não conseguir suportar e morrer devido aos maus-tratos, mas precisava ser forte pela pequena vida que crescia dentro de mim. Afinal, tudo estava chegando ao fim.

Encolhi-me no colchão, tentando aliviar os calafrios que percorriam meu corpo, e fechei os olhos, entregando-me a um sono profundo. Horas depois, acordei com barulhos altos, parecendo tiros, e gritos desesperados dos sequestradores. Assustada e temerosa pelo que poderia estar acontecendo, sentei-me no colchão, arrastando-me pelo chão frio até uma pilha de tambores amontoados em um canto do galpão, onde me escondi, encolhida, com medo de que os portões de ferro se abrissem e meus sequestradores voltassem para me fazer algum mal.

Fechei os olhos com força, rogando a Deus para que minha vida e a vida do meu bebê fossem poupadas, enquanto os sons de uma troca de tiros se intensificavam. De repente, os ruídos foram se distanciando, até que ouvi um estrondo alto vindo de trás da porta, como se alguém a estivesse chutando. E, de repente, ela se abriu. Naquele momento, ouvi uma voz que soou tão doce em meus ouvidos, trazendo um profundo alívio.

– Samantha? – Era a voz de Marcelo. Parecia ofegante e desesperado.

Fechei os olhos com força, enquanto lágrimas caíam dos meus olhos, trazendo uma sensação de alívio. Mesmo fraca, me joguei no chão e me arrastei para sair de trás dos tambores, a fim de me tornar visível. Foi então que vi a imagem do homem que representava minha salvação. Era Marcelo, vestido com uma roupa social preta, colete à prova de balas e uma arma na mão. Seu braço esquerdo estava ferido, mas, mesmo assim, quando me viu, correu em minha direção e me puxou para seus braços, com uma expressão de sofrimento e alívio.

– Samantha, você está bem? – Ele removeu a mordaça da minha boca enquanto, de forma desesperada, tentava se manter em posição de guarda.

– Estou... – Finalmente consegui falar, vendo-o soltar as amarras dos meus braços e pernas, me deixando completamente livre. – Você precisa ir, eles podem voltar, e...

– Fique tranquila, a polícia veio comigo, eles estão todos mortos. Não vão fazer mal a ninguém nunca mais. Agora vou te levar para casa. – Ele me beijou na testa, com um beijo demorado e aliviado. Fechei os olhos, sentindo aquele beijo na minha testa, e senti gratidão por Deus ter colocado um homem tão maravilhoso em minha vida, capaz de arriscar sua própria vida pela minha.

Ele pareceu notar minha febre.

– Você está com uma alta temperatura, precisamos sair daqui imediatamente... – Mesmo soltando um grunhido de dor, causado pelo ferimento em seu braço, Marcelo me pegou no colo com bravura, determinado a me tirar dali.

– Marcelo, você está ferido – comentei, sentindo meu corpo reagir cada vez menos.

– Eu estou bem... – respondeu, enquanto me levava para fora do cativeiro.

E quando meus olhos finalmente puderam contemplar a suave luz da lua, as cintilantes estrelas pontilhando o céu noturno e o ar fresco da liberdade acariciando meu rosto, um sorriso se formou em meus lábios trêmulos. Naquele momento, senti uma profunda gratidão por estar viva e por ter sido resgatada das garras da escuridão.

No entanto, antes de sucumbir completamente à exaustão, uma lembrança crucial invadiu minha mente. Com todas as forças que me restavam, sussurrei com uma voz fraca, mas carregada de emoção:

– Aurora, Marcelo. Por favor, ajude ela! Ajude-a! – As palavras escaparam dos meus lábios trêmulos, desvanecendo-se na escuridão que me envolvia. Mas, mesmo perdendo a consciência, senti uma sensação de esperança, sabendo que aqueles que amava estavam lá para me proteger.



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