Uno

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Olívia Valente


Gostava da maneira que a costura trilhava por todo o tecido, delineando exatamente a forma que faria com o corpinho do bebê quando ele nascesse. Erguia a roupinha para o alto, como quem mostrava um troféu e Antônio, filho mais velho de Cassandra, a vizinha para qual eu estava costurando, batia palmas, orgulhoso de meu trabalho.

O sol estava forte e brilhava intensamente sobre o céu de Capri. Morávamos todos na ilha, mas distantes da parte turística do local. Acho que nunca me acostumaria com a vida agitada que levavam lá e pelo que minha mãe falava, ter a vida observada e controlada por mafiosos não era exatamente um tipo de vida que queria que eu vivesse.

A maioria das casas da área que morávamos eram a beira mar, permitindo que os homens de família fizessem dinheiro através de pescados e para ajudar com as despesas de casa, aprendi costura muito nova e hoje, era a artesã mais solicitada da Villa San Luigi.

Cassandra vivia a poucas casas de distância de onde morávamos e eu estava com uma sacola feita por mim também, cheia de roupinhas que havia desenhado e costurado para o bebê que ela estava esperando.

Nem acreditava que tínhamos a mesma idade e que ela já estava esperando o segundo filho! Lembro de quando fazíamos planos quando adolescentes, de deixar a ilha e nos rebelar um pouco. Escutávamos tantas histórias de meninas de vila que saíram de suas casas e se tornaram mulheres de negócios... Me perguntava o que o futuro reservava pra mim.

- O que é aquilo ali na areia? - Antônio apontou na direção do mar, a quase um quilômetro de distância de onde estávamos e franzi a testa, usando minha mão um pouco acima da testa, para tentar aplacar a luz do sol que ardia meus olhos.

Não dava pra identificar muito bem o que era de onde estávamos, então me coloquei de pé, disposta a ir averiguar. Muitas vezes golfinhos ou grandes tartarugas marinhas encalhavam ali e se não agíssemos rápido, poderiam morrer sufocados.

- Fique aqui. - Pedi ao menino, já que a mãe dele estava preparando o almoço dentro da casa.

Caminhei em passos largos, ouvindo o som das ondas quebrando na areia, pássaros grasnando ao longe e fazendo voos rasantes  para cravar suas garras nos peixes que se aproximavam da superfície. Olhei para trás, vendo cada vez mais a casa de Cassandra ir diminuindo de tamanho devido a minha distância e a coisa encalhada na areia ficava cada vez maior, até me aproximar o suficiente e ver que se tratava de... um homem?

Pisquei algumas vezes, ainda perplexa com a cena. A areia estava manchada de sangue e ele estava desacordado, com o rosto virado contra a água, recebendo as ondas que quebravam sobre sua face. Oh, meu Deus. Ele iria se afogar!

Corri, me abaixando rapidamente, virando-o de frente pra mim, mantendo o rosto dele apoiado em minhas pernas e fiquei ainda mais surpresa. Ele era tão lindo. Lindo e poderoso! Era nítido devido as suas vestimentas, eu conhecia um bom tecido quando via um! Havia um ferimento na altura de seu abdômen e sangrava muito.

Sua pele estava tão quente, deveria estar com febre. Mas o que aquele homem de terno estava fazendo baleado, jogado no mar?! 
Talvez fosse um bandido e tentaram matá-lo...
Talvez fosse um bom homem e tentaram matá-lo...

Ele grunhiu e tossiu, tentei mantê-lo com o rosto de lado, para que pudesse vomitar toda a água que tinha aspirado enquanto estava no mar, mas ele era forte demais para que eu conseguisse mantê-lo parado. Mais um gemido, agora de dor e mais tosse. O que era bom, já que expelia todas as impurezas que tinha ingerido.

Mais que Negócios - Duologia Família Fontana - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora