Cinque

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Filippo Fontana


Fiquei me perguntando o porquê de não ver nada relacionado ao meu desaparecimento na TV. Mais dois dias tinham se passado e nenhuma notícia sobre a família Fontana havia sido sequer mencionada. Deduzi que Leonardo estava cuidando de tudo, já que me lembrava bem de uma de nossas reuniões a respeito de desaparecimento e possível morte de um membro grande da família. Não anunciaríamos até termos um corpo, até termos uma reunião com o conselho e a escolha de um substituto.

Foi assim que aconteceu quando meu pai passou mal cerca de dois anos atrás e eu assumi logo depois. Deixar uma família desestabilizada, sem um líder, podia gerar suspeitas e até perda de associados. Como confiariam os territórios e comércios deles para um grupo de pessoas que mal podia coordenar à eles mesmos?

Dois dias...

E como combinado, Olívia tinha afrouxado as regras para com o meu repouso. Eu já me sentia bem melhor, sem febres e conseguia me movimentar um pouco mais rápido. Ainda assim, trocas de curativos eram feitos de maneira constante e os olhos azuis daquela mulher sempre me fuzilavam quando fazia qualquer tipo de brincadeira com ela no processo de cuidados.

A simplicidade daquele local me intrigava e me agradava na mesma medida. A mãe de Olívia, senhora Mariah lavava roupas na parte de trás do quintal, onde havia uma lavanderia improvisada. Era pouco mais de cinco da tarde e as luzes alaranjadas que vinham dos raios do sol do lado de fora, iluminavam toda a sala.

Saí do sofá, caminhando até a entrada da casa e abri um sorriso, admirando aquela paisagem que parecia ter sido tirada de um dos quadros que tinham em minha mansão. Ao longe, pessoas se banhavam beira-mar e outras só caminhavam pela areia molhada, aproveitando o tempo, aproveitando a vida.

Não me lembrava a última vez que tinha tirado férias e bem, não imaginei que o faria de forma forçada e depois de ter levado um tiro. 

Avistei Olívia ao longe, vindo com uma sacola grande e bonita pendurada nos ombros. Seus cabelos voavam devido ao vento, assim como a saia longa que usava. Tinha um sorriso nos lábios e cumprimentava algumas pessoas que passavam por ela, provavelmente vizinhos. Seus olhos encontraram os meus e me movi na porta, dando um passo para descer os dois degraus que tinham ali, dando um gemido em seguida.
- O senhor deveria estar no sofá.

- Dio mio, Olívia. E perder essa vista incrível? - Apontei em direção ao sol, que ia se pondo no horizonte, deixando tudo em sua volta num tom dourado, alaranjado e vermelho. - Vamos negociar.

- E o que você entende de negócios? - Seu sorriso foi brincalhão.
Eu também ri, respondendo mentalmente que era o próprio dono de milhares deles, mas dei de ombros, voltando a atenção a bolsa que tinha nos ombros:

- Esse é seu material de trabalho?

- Sim, foi eu que fiz. - Olívia tocava o barbante bem entrelaçado da alça de sua bolsa, orgulhosa de poder falar aquilo - Dentro eu levo os materiais encomendados. Geralmente passo o dia todo fora de casa, fazendo orçamentos, entregando, comprando linhas novas.

Aquilo parecia ser tão cansativo! Não tinha andado muito pela vila, mas sabia que tinha muito mais do que só aquela área que estávamos. Pouco a via durante o dia e quando a noite chegava, a assistia ajudar sua mãe com o jantar e depois, com os afazeres domésticos. Ainda assim, a maneira com que falava sobre, tinha tanto respeito, tanta gratidão.

Mais que Negócios - Duologia Família Fontana - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora