Mais que Negócios - Duologia Família Fontana - Livro II

Ventisei

Filippo Fontana

Estávamos bem próximos do porto de Nápoles, mas entendia que Leonardo não esperaria até chegarmos lá para conversar comigo. Enquanto levava Olívia até os pais dela, percebi só pela forma que meu amigo me encarou, o quanto estava bravo comigo. Bem, não esperava nada diferente, já que o feri em todos os âmbitos de nossa relação, seja pessoal ou na profissional.

Sabia também que tinha usado força demais para derrubá-lo num soco, só não imaginei que fosse ficar tão... marcado. Catarina iria acabar comigo!

O silêncio se fez presente por bons minutos dentro da sala que estávamos. A área em questão era a usávamos para julgar nossos desertores e traidores. Muita das vezes jogávamos os homens no mar após darmos sua sentenças e essas, geralmente eram de morte. '' Dormir com os peixes'' sempre foi uma das nossas frases preferidas de O Poderoso Chefão.

Deixaria que Leo tomasse o tempo que fosse preciso, já que provavelmente estava buscando as palavras certas para começar a falar. Nós éramos amigos, isso era um fato, mas eu ainda continuava sendo o chefe dele. E tentava sempre separar as coisas, mesmo sabendo que dessa última vez, tinha pensado mais de forma emocional do que racional.

- Estamos nos aproximando das docas, se quer me falar algo, deveria começar agora.

- Você é o Don, tenho certeza que pode fazer com que esperem. - Leonardo cruzou os braços e encostou em uma das paredes, me encarando sem nenhuma emoção transparente.

- Vai usar de ironia comigo?

Ele riu, apontando para o próprio olho machucado e deu de ombros em seguida:

- Se eu usar vai me acertar de novo? - Leonardo caminhou em passos lentos em minha direção, mantendo os olhos fixos em mim - Tem alguma ideia de como me ofendeu de todas as fodidas maneiras possíveis?

- Leo, eu...

- Cazzo, Filippo! Você foi egoísta pra caralho! Se algo tivesse acontecido com você, se tivesse sido morto em alguma armadilha, como acha que sua irmã me olharia? Como acha que seu pai me olharia? - Ele respirou fundo - Só pensou em si mesmo.

Leonardo não estava entendendo absolutamente nada! E mesmo tendo certeza de que o que eu tinha feito não tinha nada a ver com egoísmo, não conseguia encontrar palavras para poder me defender daquelas acusações:

- E pior, como conselheiro e segundo no comando, não confiou no trabalho que deu a mim e  tomou decisões sozinho. Decisões que não lhe cabia tomar! Lorenzo não é um mafioso e não fazemos trato com ladrões. Como acha que ficará sua reputação após isso?

- Eu só quis proteger você.

- Não! Sabe bem da merda que tem nos enfiado e não queria que eu participasse pra não sujar meu nome também. - Ele apontou o dedo em minha direção e aquilo me surpreendeu. Leonardo estava nervoso e se esquecendo do lugar dele dentro da família. - Se tivesse minimamente preocupado com minha integridade física de verdade, nem teríamos ido para Capri.

Afastei sua mão de minha direção, querendo usar o menos possível de hostilidade e respirei fundo. O nervosismo estava fazendo com que Leonardo falasse besteira e aquela conversa toda estava começando a me estressar...

- E eu deixaria Sergio morrer?

- O homem é um traidor de um grupo rival ao nosso! O que te garante que ele não vai te trair também, Filippo? Ele é um maldito informante! Lorenzo pode estar usando-o para descobrir coisas nossas e você nem nota!