Mais que Negócios - Duologia Família Fontana - Livro II

Ventuno

Quando acordava e via Olívia dormindo ao meu lado, sentia que tudo ao longo do dia daria certo. Fazia bastante tempo, mas me lembrava das poucas vezes que Francesca fora em minha casa, já que sempre tinha alguma desculpa ou estava ocupada demais para passar a noite. 
Além de Liv, Francesca foi a única a frequentar a mansão dos Fontana, mas nunca tinha ficado o suficiente para acordar ao meu lado no outro dia.

Depois que ela morreu e me recuperei do luto, decidi que nunca mais levaria uma mulher para meu quarto, caso eu não tivesse certeza de que valeria à pena. Em todas as minhas relações que vieram a seguir, sendo basicamente casuais, não tive problema em transar dentro de minhas boates ou em algum hotel cinco estrelas que pertenciam ao comando dos Fontana.

Mas ali, naquele instante, ver Olívia Valente dormindo sobre os lençóis brancos de minha cama, eu tinha certeza de que não poderia ter feito melhor escolha. Sua pele bronzeada parecia brilhar, além de sua cascata dourada estar espalhada por seu travesseiro, dando a ela um ar de poder. E Dio, ela tinha tanto poder... Não tinha ideia do quanto!

Cautelosamente saí da cama para não acordá-la, já que decidimos voltar para Nápoles após a maldita festa de Moretti. Eu estava tenso e nervoso demais para continuar em Roma e depois dos planos que tive, preferi por voltar a mansão só para poder debatê-lo com meu pai. Sabia que o certo seria avaliar as opções com o conselho de minha família, mas antes de fazê-lo, preferia a opinião de alguém experiente e que nunca baixou o respeito entre nossos associados.

Tomei uma ducha rápida e me vesti com algo mais confortável, já que tinha combinado com meus sócios de que adiaria algumas reuniões para o dia seguinte. Mesmo sabendo que teria que conversar com Olívia antes, eu precisava ir até minhas boates e demonstrar que ainda estava cuidando delas. Don's não tinham obrigação nenhuma para com estabelecimentos, poderíamos colocar capos, sub-chefes e até alguns associados para tomarem conta delas, mas como foram os locais que me ajudaram a crescer em vários aspectos, principalmente no financeiro, eu sentia que era de minha responsabilidade cuidar de tudo.

Sorri ao chegar nos degraus finais da escada e ver meu pai sentado na área de espera que havia ali, uma pequena sala de estar cercada por duas estantes com livros e dois sofás grandes. Ele retirou os óculos de leitura quando me viu e deu um sorriso simpático:

- Buongiorno, bambino. Imaginei que fossem voltar só durante a tarde.

- Chegamos de madrugada.

- E já está de pé...?

Sua pergunta foi desconfiada e o respondi com um aceno de cabeça. Me aproximei devagar, buscando as palavras certas para começar aquela conversa e respirei fundo:

- Decidi que brigarei por Capri.

O velho Giuseppe continuou me encarando por alguns minutos e pelo que conhecia daquele homem, sabia que estava buscando algum blefe em mim. Meu pai sabia exatamente do que eu era capaz e principalmente de que eu era um sujeito explosivo. Bem, as pessoas mudavam.

- Vamos até a sala de reuniões. - Ele deixou o livro que lia na mesa de centro em sua frente e se colocou de pé.

- Não... Quero ouvir conselhos do meu pai, não do antigo Don Fontana. - Dei um leve sorriso - Que tal alguns cornettos? Eu faço.

Ele não negou e seguimos juntos até a cozinha. Pedimos que as cozinheiras nos dessem licença e foi a minha vez de colocar as mãos na massa, literalmente. Enquanto preparava a massa, meu pai fazia o café e colocou uma xícara ao meu lado, sentando-se em uma banqueta próxima ao balcão e esperando que eu começasse a falar.

- Decidiu que brigará por Capri? - Repetiu o que tinha lhe falado - E isso tem algo a ver com a forma que sua dona te vê?

- Talvez. - Respondi, colocando os ingredientes em uma tigela, sem encará-lo nos olhos - Devemos nos lembrar de que nenhum de nossos associados querem estar do lado de alguém responsável pela morte de um grupo tão pequeno. E isso nos faria perder poder e respeito.