Ventisette

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Aquilo deveria ser um sonho. Não havia outra explicação.

Eu conhecia aquele iate e não pertencia a mim... Não pertencia a meus associados e o sobrenome que estava gravado no casco do mesmo, não tinha mais nenhum poder territorial, de armas ou de comércio dentro da Itália.

Sorrentino.

Aquele era o mesmo iate que havia visto Francesca pela última vez e não entendia muito bem o motivo de estar sonhando com ela. Isso aconteceu muito, mas só logo após sua morte, já que durante meu luto, todas as noites eram uma batalha para dormir. Odiava a sensação que me tomava quando sonhava com aquela mulher e não queria que aquilo me atormentasse agora. Tudo já estava difícil demais para administrar mais um demônio do passado.

Não queria sair da área que estava, mas parecia não estar comandando meu próprio corpo e conforme andava, seguia exatamente para o local que tinha acontecido a queda dela. Eu precisava acordar, cazzo... Eu devia acordar! Por mais que tentasse diminuir o ritmo dos passos, sentia como se minhas pernas pesassem uma tonelada! Então eu continuava seguindo, seguindo e seguindo. Engoli em seco assim que parei bem próximo a proa do iate e fiquei confuso ao ver que tinham duas pessoas paradas ali. Uma delas era... Olívia.

- O que?

Sussurrei e minha voz quase não saiu. Ela olhava diretamente para a pessoa que estava em sua frente e sua expressão era de completo medo. Lágrimas escorriam por seu rosto bonito e quando Olívia me olhou, pisquei surpreso ao ver que durante sua movimentação, havia se tornado Francesca.

Dei mais um passo na direção dela, mesmo sendo uma mulher só e aquilo me deixou extremamente confuso. Qual era o maldito significado de toda aquela merda?

A pessoa parada na frente de Francesca virou o rosto para me encarar e me surpreendi ao ver que se tratava de mim mesmo. Senti meu coração travar e tentei dar mais um passo, hesitando assim que meu outro eu a agarrou pelo pescoço e no segundo seguinte, Francesca voltou a se tornar Olívia. 

Por que eu estaria machucando ela?!

- Não, não, não! Solte ela!!

Apertava os meus olhos, forçando-me a acordar, mas nada adiantava. Parecia que quanto eu mais me forçava a despertar, mais as coisas tornavam-se ainda mais reais. Eu podia ouvir os gemidos de dor de Olívia, os gritos de desespero de Francesca e toda a dor que senti naquele dia voltou a me acertar em cheio.

Forcei meu corpo para a frente, disposto a lutar comigo mesmo fosse para salvar a mulher que amava ou a mulher que amei, mas antes que eu me aproximasse o suficiente, meu outro eu a empurrou contra as grades do iate e a mesma cena que acabou comigo há anos se repetiu. Enquanto o corpo de Olívia caía para fora do barco, seus gritos tornaram-se os gritos de Francesca e meu eu maligno e cruel encarou meu rosto, apontando o dedo em minha direção:

- A culpa é sua. A culpa é sua. A culpa é sua. - Sua voz era gutural, cruel e ecoava, como se tentasse grudar em minha mente, conseguindo facilmente esse feito.

Finalmente despertei, praticamente pulando da cama. Me apoiei nos ombros, respirando ofegante e nitidamente assustado. A luz do abajur que ficava sobre nossas cabeças, foi acesa e Olívia me olhou com a testa franzida em preocupação:

- Você está bem?

Minha respiração estava ofegante e ainda tentava assimilar tudo o que tinha acontecido no sonho. A maneira com que meu outro eu havia empurrado Olívia contra as grades para que ela caísse nas pedras, exatamente como tinha acontecido com Francesca, os olhos tão frios e cruéis que minha parte má encarava a mulher que amava em sua frente. Dio mio, eu jamais faria mal para Olívia, mas... nunca quis fazer mal a Francesca também.
A culpa é minha, a culpa é minha, a culpa é minha...

Mais que Negócios - Duologia Família Fontana - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora