I: Neném Mijão

80 5 317
                                    

I

Gritos misturados com choros eclodiram por toda a residência.

Mas de novo. Não podia mais ler em paz naquela casa.

Severo Snape só queria terminar a sua leitura. Depois que preparou o almoço, foi até o quarto e pegou o livro que estava terminando. — não faltava nem vinte páginas — Sentou na sua poltrona favorita, pegou os óculos de leitura e iniciou. Conseguiu ler as primeiras cinco páginas com facilidade, mas então, os filhos começaram a criar confusão. Já era a segunda vez que ouvia os gritos de Alan Severo, e nem era meio-dia e meio.

O período de férias era o pior possível. Os mais novos estavam em casa, e os mais velhos trabalhando. Sentia saudades de sua filha mais velha, Cassiopeia, e não via a hora dela retornar. Não tinha outra opção a não ser ver o que estava acontecido. Colocou o livro em cima da escrivaninha junto com os óculos e foi até o hall de entrada da casa.

Alan Severo, com o rosto inchado de tanto chorar e com os olhos carregados de lágrimas, vinha até ele. Atrás, seguia Joanne Snape, com o cabelo e as roupas sujos de alguma coisa que parecia ser esterco. Severo olhou com desdém para eles, e estava com medo de perguntar o que havia acontecido — mesmo sabendo o que, possivelmente, ocorreu.

— Que gritaria é essa Alan Severo?! — seu tom de voz era de total indignação.

— PAPAI! A JOJO ME BATEU!

Os gritos seguiram. Tanto Severo quanto Jojo tiveram de abafar seus ouvidos por causa dos choros do menino. As lágrimas quentes continuavam escorrendo e molhando parte de seu macacão azul escuro. Severo olhou frio para Alan, que cessou os berros, mas ainda chorava. Joanne nunca obedecia às ordens dele e de sua esposa Erina de não bater em Alan. Era a mesma história: ele aprontava, ela ficava irritada e lhe aplicava um castigo.

Severo fez um sinal com a cabeça para que Joanne se aproximasse, e ela com os braços cruzados e cheia de deboche, deu um olhar gelado tanto para o pai como para Alan, que se afastou deles para olhar a prateleira de objetos mágicos que ficava bem em cima do armário embaixo da escada.

— Joanne... eu já te falei milhares de vezes que não é para bater nos seus irmãos. Você vive desobedecendo as ordens minhas e da sua mãe!

— Mas ele jogou esterco da Polly em cima de mim. Só olhar as mãos dele.

Severo agora olhou para Alan, que escutou e tratou de esconder suas mãozinhas sujas de esterco. Erina costumava guardar os dejetos de Polly Shelby, a pufosa verde neon de Joanne e transformá-las em esterco para plantas mágicas. Ninguém entendia que tipo de nutrição as fezes de um pufoso poderiam ter.

— Estou cheia de bosta de pufoso. Por que a mãe guarda a merda da Polly?

— Deve pensar que tem alguma nutrição...

— Tem porra nenhuma! A Polly come o mesmo que eu (só algumas vezes dou feno ou ração), e a alimentação dos humanos é péssima, só comemos porcaria. Por isso a nossa carne é tão amarga...

— Onde você aprendeu isso?

— Na internet. Tem de tudo lá... inclusive, tutoriais de como tirar o amargor da carne humana...

Severo ficou preocupado. O que ela estava vendo naquela porcaria criada por trouxas? A Rede Mundial de Computadores, chamada também de internet, chegou aos bruxos pela Prismatik, com os seus modems de 50MB de velocidade, até mais do que os míseros 1MB que os trouxas tinham via rádio na época — e às vezes, nem chegava a isso — e eles foram um dos primeiros a ter os pen drivers (cortesia de Aruto Hiden, que é muito amigo de sua esposa).

Apenas em SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora