XII: Som e Fúria

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I

Erina estava ansiosa pela chegada do seu marido. Era sempre uma surpresa os seus encontros, mesmo que fossem "todos iguais" com o passar das décadas. Sonhando acordada, pensou que não faltava muito para chegar aos vinte e cinco anos de casados. A maior parte dos bruxos passavam dos sessenta anos fáceis, mas não como os dois. Pareciam adolescentes apaixonados e cheios de fogo. Seu marido um pouco mais do que ela — literalmente, bem mais.

Estava no Blue Solomon, o pub de Ravenclaw's Pride, como fora combinado pelo casal. O estabelecimento estava um tanto monótono e sem graça para um Dia das Bruxas. A decoração remetia a temática, com abóboras iluminadas, faixas alaranjadas e gente fantasiada de algum personagem das duas culturas. Viu pessoas vestidas dos famosos detetives bruxos da literatura Conebush e Persimmons, e outros usando fantasias como da 13ª Doutora de Doctor Who ou o Doutor Estranho dos filmes da Marvel.

Pediu um drink enquanto aguardava. O banquete especial iria ser servido mais tarde, quando desse dez da noite — horário em que Erina nasceu naquela noite cheia de raios, de acordo com a sua mãe falecida — e a meia-noite, sairiam para cantar as famosas músicas para a Deusa-Mãe envoltas da estátua de Rowena Ravenclaw. A dona do pub vinha trazendo uma bandeja com os drinks até a mesa dela; um era de taça avermelhada com um morango na ponta e o outro um copo simples de bebida contendo também, um líquido avermelhado.

— Aqui está. Batida de gin com água tônica e xarope de morango, e um simples whisky-de-fogo. E claro, todos com gelo que não derrete.

— Muito obrigada. — quando Erina iria pegar sua carteira para pagar, a dona do pub pegou na sua mão.

— É por conta da casa. E feliz aniversário, senhora. — ela se curvou em respeito.

A dona do pub saiu ligeiramente e Erina sequer entendeu a lógica das pessoas de Ravenclaw's Pride. Alguns pensam que ela e o marido são algum tipo de deuses antigos — só ver o que fazem todos os anos — mas para quê tudo isso? Ela sendo tratada como uma pessoa normal já era o suficiente. Sempre foi assim... as pessoas a adulavam, transformavam-na em uma celebridade. Erina odiava isso.

— Espero que ele chegue logo. — disse enquanto tomava um gole de sua batida de morango, olhando o tempo todo para a entrada do pub.

Logo, suas preces foram atendidas. Seu marido entrara no estabelecimento como se não quisesse ser atormentado, e procurava por onde a esposa estava. Severo vestia o mesmo de sempre: seu sobretudo preto coberto pela longa capa da mesma cor mais o bônus de um cachecol fino que lhe dava um ar de charme. Erina não deixou de suspirar apaixonada.

Erina não iria acenar. O combinado foi chamar a atenção menos possível, para que pudessem ter um pouco de paz. Ele não demorou muito para achá-la e se sentou do lado oposto da mesa.

— Você preparou tudo, esposa. Pediu a minha bebida favorita.

— Eu não iria deixar de te dar um agrado, Severo. Hoje é o meu aniversário, mas a festa é nossa.

— Ah isso sim, e a mesa está bem afastada. Melhor assim. Detesto ter de olhar para eles. — ele pegou o copo de whisky e bebeu um gole — Me diga... quando será esse tal banquete?

— Às dez, que foi o horário que eu nasci.

— Isso é verdade? Sinceramente, eu tenho minhas dúvidas...

— Bom, quem falou isso foi a minha mãe. Ela me dizia que estava sentindo contrações desde as seis da manhã daquele Dia das Bruxas de 1972... ela não entrava em trabalho de parto de jeito nenhum, estava travada, com medo que eu morresse dentro dela, sabe aquele mesmo medo que eu senti quando fui para ter a Cassiopeia. — Erina fez uma careta rançosa e mostrou as mãos em posição de ataque, que deixou Severo um tanto na defensiva.

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