VI: Sob Fogos e Máquinas II - A Queda

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I

Joanne não queria enfrentar o seu pai. Não quando ele estava de péssimo humor. Polly já tinha o estressado bastante com aquela voadora e não queria mais problemas, porém... ele é o único que pode lhe dar a autorização de deixá-la ir a Hogwarts com o carro. Era para impressionar a Sonserina... ele não negaria. Amava a sua antiga casa, que fora tão marginalizada ao longo dos anos, com os malditos estigmas de que era a "casa dos sangues-puros supremacistas amantes das Artes das Trevas". Ele aprovaria se fosse para eles.

O choro não o convenceria. O coração de seu pai era duro demais para cair em meras manhas infantis... tinha que atingi-lo em seu interior, bem onde dói... não para causar dor interna, claro, mas o suficiente para que a adamantina que reveste sua alma fosse quebrada, nem que causasse uma pequena rachadura.

Entrou na sala de estar, e lá estava ele, esperando que sua mãe esquentasse o almoço. Seu pai estava sereno, um tanto irritadiço pelo episódio nada feliz. Usava seus óculos redondos e grandes de leitura, que o deixavam com cara de homem culto — não que ele não fosse, mas aumentava seu intelecto — e lia um livro de capa azul céu, mas não conseguia ver exatamente como era a ilustração.

Como o enfrentaria? Papai... será que posso lhe pedir um favor? Não... meloso demais. Ela raramente o chamava de "papai"... seria fingimento, e os muros que cercam seu interior ficariam mais robustos. Tentaria outra coisa... precisava chamar a atenção dele...

Teve uma ideia! Mas a achou perigosa.

Perigosa porque envolvia Polly, e ela poderia despertar e saltar em cima de seu pai a qualquer momento. Tentaria a sorte, e esperava que ela se comportasse.

Polly gostava muito de beber aqueles coquetéis alcoólicos que o seu pai adorava. Whisky, conhaque, rum... tinha um pouco de tudo em um armarinho na sala de jantar. Tinha vezes que ele bebia só um cálice após o almoço, mas outras que exagerava e chegava bêbado em casa. Ao contrário da maioria dos bêbados que via na televisão ou até mesmo pessoalmente — como Waterguns, por exemplo — seu pai ficava um bêbado manhoso. Choroso, dizia coisas para a sua mãe que, se ela o largasse, ele tiraria a própria vida, e ela nunca mais poderia reatar — ok, aquilo não era nada manhoso. Joanne ficava dando risada, pois nunca imaginaria o poderoso e impotente Severo Snape falando coisas tão doces.

Bem, precisava colocar o seu plano em prática. Passou pela sala de estar e entrou na de jantar, indo no armário de bebidas e pegando uma garrafa de conhaque. Voltou, silenciosamente, passando pela cozinha — sua mãe estava distraída com o almoço, ainda bem — e subiu até seu quarto.

— Olha o que eu te trouxe, Polly... — Joanne mostrou a garrafa para Polly, que começou a pular e mostrar sua longa língua e tentando alcançar a bebida.

Joanne abriu a portinhola da sua casinha e a colocou em cima do ombro, descendo até a sala de estar. Perto da lareira, havia alguns potes com água e comida — ração para pufosos, que Polly detestava... ela é uma pufosa muito exigente; gosta apenas de comida boa e nada dessas rações sem graça — e o pote estava vazio. Joanne abriu a garrafa, sentindo o cheiro horrendo do álcool que a deixou com leves náuseas e despejou um pouco.

— Isso, beba tudinho. — Polly saltou do ombro, e foi para um banquinho colocado ali para que ela conseguisse alcançar os potes e começou a beber — Isso... você tem que ficar bem animada... beba tudo. — Joanne deu um sorriso malicioso para onde estava o seu pai.

Joanne conseguiu o que queria. Severo olhou na direção do pote e fechou o livro na hora, retirando os óculos de leitura — eles tinham duas cordas presas nas hastes que fizeram o objeto ficar pendurado — e indo nela, removendo a garrafa de conhaque. Polly continuava bebendo como se não houvesse amanhã, depois de amanhã, enfim...

Apenas em SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora