III: Um Porco à Solta!

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I

Em Ravenclaw's Pride, a tarde estava ensolarada e sem risco de chuvas, o que era ótimo para que todos da aldeia pudessem ver a partida da Escócia com a Bulgária na Copa Mundial de Quadribol. O telão havia sido montado em cima da praça, entre o museu e a livraria. A partida aconteceria a noite, e se tratava das quartas de final, decidindo qual das duas nações iria jogar a final contra o Brasil. A copa deste ano, 2018, estava acontecendo na Rússia, aparelhado com a copa do mundo de futebol dos trouxas, e não havia riscos deles serem descobertos, de acordo com o comitê que organizava os jogos — devem pensar que os trouxas são otários o bastante para não descobrirem — e era uma boa oportunidade dos bruxos acompanharem os dois jogos ao mesmo tempo (seja lá o que eles achavam de tão legal nesse tal futebol).

Erina Snape era a organizadora e investiu os poucos galeões que guardou para financiar o telão, pois não tinha como levar a família até a Rússia para assistirem apenas a um jogo. Seu marido estava morto e aparecer com ele e os filhos para um monte de gente era uma tremenda burrice. Isso fez com que muitas viagens para o exterior fossem canceladas, pois se Severo não fosse, ninguém iria. Erina não achava justo que todos fossem se divertir enquanto ele ficava sozinho em casa. — se bem que, conhecendo o seu marido, ele iria preferir passar dias sozinho do que ficar vendo um monte de gente — A última viagem da família foi em 2001 para Nova York, e não tinha sido uma experiência boa, pelo contrário. Foi péssimo... ao ponto de Erina nem querer se lembrar do ocorrido.

Já estava no final do seu expediente na loja de poções, e quando foi para virar a placa de aberto para fechado, foi surpreendida pela entrada de Dulce Rowle, bem estabanada e quase a fazendo cair.

— Erina... e-eu preciso da sua ajuda...

— O que houve, Dulce?

— Você tem algum xarope para a tosse ou alguma poção? É aquele desgraçado e melequento do Ulrich...

— Eu vou ver se tem alguma coisa no estoque, mas poderia me dizer exatamente o que ele tem?

— N-não sei... acho que pode ser dor de garganta.

Erina estava desconfiada. Ninguém tem dor de garganta do nada. Tentou olhar na mente dela e só viu pequenos lapsos do pequeno Ulrich chorando embaixo das chuvas que deu nos últimos dias. O menino grita pelo pai, e era ignorado. Gritava por Valom, mas ela tinha medo de apanhar e não fez nada. Foram cenas que a deixaram atordoada e com náuseas.

A cabeça em chamas... parecia que iria explodir. Apareceu sentimentos de ódio. Dulce o deixou na chuva de propósito e agora vem com essa conversinha fiada de que precisava de um remédio? Severo tinha razão em odiá-la e querer sua expulsão da aldeia.

— Você o deixou na chuva, Dulce?! — Erina falou com um tom afiado, que fez Dulce estremecer — Me responda!

— Eu o castiguei, só. Ele não quis lavar a louça.

— Você o obriga a lavar a louça? Ele só tem seis anos!

— Ora... não é porque se trata de um melequento que não vai fazer serviço de casa. É desde pequeno que se aprende as coisas.

Erina não disse mais nada, e foi até uma das enormes prateleiras atrás do balcão que tinham as poções para a cura de diversas enfermidades. Localizou um frasco vermelho arredondado com tampa prateada e entregou a Dulce. Explicou que se tratava de uma poção estimulante, muito boa para resfriados.

— Meu marido toma ela toda vez que pega resfriado. Em menos de dois dias, o Ulrich vai estar melhor.

— Obrigada, muito obrigada. Assim o idiota do Pestana não enche mais a porra do meu saco para que eu compre um remédio.

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