XXXVII - O Que Acontece No Bar, Fica no Bar

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  Olá queridos leitores, estão intrigados? Porquê eu também estou!
  - Como assim irmã de um velho gaga? - Rebati assim que o garçom se afastou e Tom riu de mim, me dando um peteleco na testa.
  - Sussega pigmeu, você não é tão nova assim.
  - Mas pra você eu sou! - Ainda tentei contestar e ele, que estava sentado bem do meu lado com a mão ainda em cima do meu antebraço e com aquela camisa social azul linda combinando com os olhos da mesma cor me fitou pensativo por um momento.
  - Quantos anos você acha que eu tenho Anne? - Sua expressão ficou nebulosa, mesmo com o sorriso fácil brincando naqueles lábios. Fiquei imaginando, se ele sabia minha idade, o que mais ele poderia saber através das papeladas que deram pra ele quando o destinaram a me encontrar e me entregar pros mafiosos? O que ele não sabia de mim?
  - Idade suficiente pra ser meu pai. - Soltei e ele caiu na gargalhada, afastando sua mão da minha pra segurar a barriga que começou a doer de tanto rir. Acho que deve ter sido automático, ele agiu como se nem tivesse percebido.
  - Aí Anne! Tudo isso?! - Ele riu mais enxugando uma lágrima solitária que começou a se acumular no canto do seu olho esquerdo e então olhou dentro dos meus olhos, ainda com as bochechas vermelhas de rir. Não tinha ninguém naquela sala mesmo tão cheia de mesas, e por um momento senti como se ela estivesse cheia. Depois que percebi que era só a risada dele. Era tão solta e tão leve que preenchia o cômodo. Comecei a rir também. Era tão contagiante.
  - Não tem tanta graça assim. - Ri mais e ele colocou a mão no meu cabelo, colocando uma mecha atrás da minha orelha enquanto se aproximava do meu ouvido.
  - Eu tenho bem menos idade do que você acha. - Sussurrou, a voz rouca me fez arrepiar por completo.
  - Quantos anos você tem então Tom? - Sussurrei de volta e ele se afastou um pouco, olhando nos meus olhos com apenas dez centímetros nos separando.
  - Você tem 17, eu tenho apenas 11 a mais que você. Se eu tivesse sido seu pai, além de nem ter idade pra isso aliás... Seria muito jovem. - Ele franziu o cenho calculando mentalmente a idade e então percebeu o quanto estávamos perto, e o quanto sua boca estava perto da minha. E que eu estava olhando pra ela, pra boca dele instintivamente. Nem tinha percebido, fui notar quando ele pigarreou e se afastou dando outro peteleco na minha testa.
  - Aí! Isso dói sabia! - Reclamei tentando dar outro peteleco nele de vingança e ele segurou meu pulso com aquele sorrisinho sarcástico estampado na boca. A eletricidade que vinha da ansiedade quando a pele dele começava a ter contato com a minha começou a me deixar extasiada. Puxei o braço de volta me livrando de seu toque e então fitei a mesa, respirando fundo.
  - É pra você parar de babar, a comida vai chegar em breve, não precisa me devorar pra matar sua fome. - Ele brincou e então o garçom como se tivesse adivinhado chegou com uma bandeja cheia de pratos antes que eu pudesse reclamar de alguma coisa.
  Dentre eles, primeiro foi distribuído meu copo cheio de coca com gelo, e depois a bebida de Tom, logo depois a mesa já estava cheia de guloseimas, desde bolo de chocolate cheio de calda de brigadeiro, à batata frita com molho laranja e muitas outras porções de frituras e docinhos.
  Não demorou muito e outro show começou a ser apresentado ao invés do tiozinho de cinquenta anos que estava tocando violão lá no fundo do salão.
  Comecei a comer, foi chegando mais gente e quatro da dançarinas cheias de brincos e anéis e pulseiras começaram a dançar num ritmo diferente, todas em sincronia com uma música cheia de batidas e sons. Depois de dar umas boas goladas em sua marguerita Tom olhou pra mim e me explicou que aquelas dançarinas cheias de saias e roupas coloridas com sinos e coisas barulhentas e brilhantes eram damas que faziam dança do ventre para apresentação em público. Era uma atração muito bonita, e ele gostava de ir naquele bar em específico no Canadá para ver isso porquê as vezes ficava deprimido com o trabalho e lá era tão colorido que melhorava seu astral.
  Fiquei feliz por ter conhecido outra cultura através da música e da dança, era tudo tão envolvente e bonito que até eu queria aprender a dançar.
  Não demorou muito e um trio com rapazes novos que deveriam ser um pouco mais velhos do que eu chegaram no recinto também, fazendo barulho e mexendo com as dançarinas, até um segurança aparecer na porta e eles se sentaram depressa.
  Mesmo assim um deles, que era loiro e estava com uma jaqueta de couro esbarrou na minha cadeira e saiu cambaleando com seu rastro de cheiro de álcool bem forte. Estavam bêbados, todos eles.
  - Vamos Anne, eles vão criar confusão, acho que está tarde também, é hora de irmos. - Tom foi se levantando e fui levantar também, já tinha comido de tudo e estava bem cheia, estava até começando a ficar com sono então nem questionei, porém quando eu fui me levantar tropecei e cai, de cara no chão. Foi tão tenso que até às dançarinas pararam para ver o que aconteceu.
  - Oh Anne, até parece que foi você quem bebeu a Marguerita. - Ele brincou tentando me transparecer confiança e ajudou a me levantar, mas já tínhamos chamado atenção o bastante já que o loiro do trio de bêbados levantou e veio na nossa mesa.
  - Ei coroa, já que não consegue segurar a namoradinha dá ela pra mim, eu te garanto que eu e meus amigos vamos cuidar dela com muito carinho. - Provocou o loiro abrindo um sorriso largo cheio de dentes amarelos e eu mostrei o dedo do meio pra ele.
  - Vamos Anne, - Tom começou a me puxar e eu chutei a cadeira pra mostrar que era brava, não ia deixar aquele loiro horroroso achar que podia zombar de mim e sair impune! Estou cansada de sentir vergonha de ser quem sou, e cansada de ser motivo de chacota pra todos.
  - Vai catar coquinhos loiro aguado! - Mostrei a língua pro jovem e ele fechou a cara ficando bravo, não sei de onde tinha tirado aquela valentia, mas me arrependi de abrir a boca assim que eu percebi que ele fechou a mão e estava vindo pra cima de mim pra me bater.
  - Ah sua putinha, perai que vou te ensinar bons modos! - O loiro pulou a mesa onde eu e Tom estávamos sentados a poucos minutos e veio pra cima. Na mesma hora Tom me passou pra trás e não deu nem graça, o loiro ameaçou levantar o punho pra brigar e Tom deu um soco de direita bem dado no loirinho a ponto de deixar ele besta e cair no chão desacordado. Os amigos ficaram ressentidos com o loiro e vieram pra brigar também, a essa altura o segurança da porta começou a se aproximar pra intervir enquanto as dançarinas corriam pra fora da sala pra chamar ajuda, do jeito que o rapaz de cabelo preto veio pra segurar o tom enquanto o outro ruivo pretendia bater, Tom pegou a taça de vidro da mesa e quebrou ela, enfiando sem pensar a taça no braço de um dos rapazes e o outro ele deu um golpe de mão aberta bem no pomo de Adão. Enquanto o que tinha sido golpeado na goela caia sem ar no chão o outro de cabelo preto que tinha sido ferido com a taça de vidro se aproximou pra revidar, mal sabia ele que só apanharia mais.
  Tom pegou ele pelos cabelos compridos e mal cortados e bateu sua cabeça na mesa umas três vezes, quando o rapaz voltou com o rosto pingando sangue do nariz e da boca ele soltou o moleque no chão, como se tivesse nojo do que tinha posto a mão.
  Quando achei que finalmente iríamos embora, e estava até assustada, ele entregou um bolinho de dinheiro na mão do segurança, pedindo desculpas pelo ocorrido, e então o loiro que tinha mexido comigo primeiro, levantou, pegando a taça que Tom tinha usado pra se defender a pouco tempo atrás para tentar ferir seu agressor, mas Tom era mais esperto, rendeu o loiro antes de qualquer coisas e quebrou sua mão pra trás das costas.
  Os três ficaram lá estirados no chão, dois desacordados e um gritando de dor enquanto nós saíamos pela porta da frente como se nada tivesse acontecido.

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