XLI - Alma de Assassino

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  Olá leitores, é a Anne de novo, ainda viva só pra constar! Agora vamos ao que interessa, Tom está abalado, isso dá pra ver de longe. E eu me recusei a sair do quarto, e comecei a me aproximar do homem.
  Os olhos azuis dele me cercaram como se eu fosse um cervo indefeso na frente de um leão faminto. Enquanto seu maxilar cerrado parecia capaz de quebrar uma noz com os molares de tão rígido que estava.
  - Anne some daqui, você não tem medo de mim? - Ele ladrou como se fosse um rotwailler nervoso e então eu ergui a mão até seu rosto, ainda com medo, indo devagar enquanto a minha respiração parecia estar sendo liberada em fragmentos.
  - Você está sofrendo, tem alguma coisa fazendo mal pro seu coração Tom, me deixa ajudar você! - Pedi chegando mais perto, quando encostei no seu rosto Tom fechou a os olhos, como s emeu toque fosse acolhedor, mas logo ele fechou a cara e agarrou meu pulso com força e destreza, apertando meus nervos dentre seus dedos, e então ele me fulminou com o olhar.
  - Eu vou botar você pra fora aos chutes! É isso que você quer? - Seu semblante ameaçador ficou ainda mais macabro com os pingos de sangue espalhados pela cara, mas era praticamente impossível discernir naquele escuro de fim de tarde se era dele o sangue ou não.
  - Não! Você não vai fazer nada ou eu vou começar a gritar que tem um maluco dentro do meu quarto! Quanto tempo você acha que vão demorar pra te pegar Tom? Você vai ficar quieto e vai me deixar te ajudar! Esse quarto é meu e quem dita as regras aqui sou eu! - Esbravejei sagaz como resposta a sua ameaça e Tom arregalou os olhos estupefato enquanto agarrou meu outro pulso e me encurralou contra a parede ao nosso lado. Batendo minhas omoplatas no concreto frio enquanto eu arquejava.
  - Desde quando ficou tão teimosa? - Ele indagou surpreso e então respirou fundo, soltando uma das minhas mãos para enxugar mais lágrimas que corriam pelo seu rosto, e eu fiz o mesmo. Usando a mão livre para colocar um de seus cachinhos loiros no lugar e enxugar as lágrimas de sua bochecha.
  Ele estava tão perto, e tão... Longe. Seu peito musculoso subiu e desceu de encontro ao meu, ele estava a milímetros de distância, mas eu seria um animal cruel e mostruoso se me aproveitasse da fragilidade dele naquele momento. Meu coração se contraiu de frustração.
  - Vem Tom, vamos limpar essa sujeira. - Pedi fitando seus olhos por um segundo tentando transparecer o máximo de compaixão que consegui, antes de começar a puxa-lo pelo meu pulso que ele ainda estava segurando. E então ele me abraçou, envolvendo meu corpo naqueles braços fortes, até começar a soluçar.
  Quando Tom se acalmou eu insisti em começar a puxa-lo para o banheiro. E quando chegamos no mesmo, eu liguei o chuveiro na direção da banheira e comecei a encher a porcelana enquanto pegava uma bucha e começava a limpar o sangue do rosto dele e das suas mãos que estavam vermelhas.
  Quando terminei, o rosto de Tom estava corado e seus olhos vermelhos de tanto chorar, mas ele pelo menos tinha parado de soluçar. Foi então que ele tirou a camisa de botão e expôs seu peito, mostrando diversas marcas de unhas em sua pele repleta de músculos.
  - Tom... O que foi que aconteceu? - Insisti em perguntar, mesmo com receio da resposta e ele conseguiu conter um pouco o choro, enquanto olhava desalentado para a pia tão branca quanto a banheira de água vermelha e suja.
  - Uma mulher. - Foi tudo que disse e então eu recomecei o trabalho de passar a bucha molhada em seu peito, tirando o excesso de pele morta arranhada e toda aquele sangue que dessa vez era dele de sua pele.
  - Te acharam de novo? - Perguntei passando a bucha com calma por seus ombros largos e firmes. Já devia ser a quinta vez que o achavam na rua, estavam chegando cada vez mais perto mesmo ele sendo cauteloso, mas o que eu não entendo é porque ele está abalado? Está acostumado a matar, o faz sem nem precisar fechar os olhos, então não entendo como isso ocorreu pra ele ficar nesse estado.
  Ele levantou os olhos pra mim, ainda cheios de água. E então fez um movimento depressa para enxugar as lágrimas antes que elas caíssem.
  - Eu não fui assim a minha vida inteira Anne, não precisa fazer essa cara, eu consigo sentir seus olhos me julgando. - Ele abriu um sorriso sem graça e então passou as mãos no cabelo loiro empurrando os lindos cachinhos para trás. - Eu era uma pessoa boa antes, até matarem ela... Eu não consegui mais segurar a sede de vingança que existia em mim depois que tudo aconteceu... Eu só... Eu precisava acertar as contas e a lei não faria isso por mim, então eu fiz por conta própria.
  - E o que você fez por conta própria?
  - Eu a matei. - Tom falou de uma vez e eu vi uma faísca de frustração passar por suas íris.
  - Mas você não acabou de falar que a amava? - Perguntei em choque.
  - E eu amei... - Ele suspirou parando de chorar por um momento para soltar uma gargalhada sarcástica carregado de melancolia. - O nome dela era Arizona. - Tom mordeu o lábio então tomou a bucha das minhas mãos, se aproximando de mim - Ela era como você Anne. Jovem demais, bonita demais e inocente demais pra esse mundo também.
  - E por a matou? - Perguntei parando o que estava fazendo enquanto observava ele jogar a bucha para o lado e se aproximar mais de mim. - Porque matou se disse que a amava?

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