XLIII - A Verdade Nua e Crua

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  Olá leitores, é a Anne de novo, bom pelo menos ainda, vamos ver até onde a minha sanidade vai durar!
  Quando cheguei no quarto me deparei com Tom agitado, caminhando em círculos de um lado para o outro na frente da cama, estava nervoso e continuava com a mesma mania de puxar os cabelos alisando-os para trás. Os cachinhos loiros se desmanchando a cada puxão.
  - Qual é o outro problema Tom?! - Indaguei irritada com a reação dele, o que podia ser tão terrível assim? Ele estava com medo de eu ter me apaixonado? E daí se eu tivesse? Era tão errado assim? Tinhamos poucos anos de diferença!
  - Esquece Anne, só não pode acontecer mais. - Tom tentou desconversar enquanto saia da posição em que estava e ia até a mochila, começando a recolher suas coisas espalhadas pelo meu quarto.
  Não ele não podia me deixar e ir embora assim! Não depois do que aconteceu ali naquele banheiro a dois minutos atrás! Se não tinha sentimentos da parte dele o que foi que eu presenciei então?! E porquê?
  - Tom, mas e se eu quiser de novo? - Perguntei mais, indo até ele para tomar a bolsa de sua mão, queria que ele prestasse atenção em mim e tudo que fazia era andar de um lado para o outro distraído! - Tom não é a minha idade! Ou pelo menos não só ela pra você ficar desse jeito, o que tem de errado? Você não gosta de mim é isso?! Porque não foi o que pareceu a poucos minutos atrás! - Rebati nervosa a minha própria pergunta e Tom ergueu um dedo acusador na minha direção, mas não falou nada, sua expressão tinha voltado a ficar fria e outra vez pude vislumbrar a fúria passando pelas íris azuis do homem na minha frente.
  - Deixa Anne, você vai se machucar, e não falo que eu vou por as mãos em você, eu não quero seu mal! Mas não é...! - Ele parou de falar bufando de frustração e então tomou a mochila de volta, continuando com a limpa das suas coisas pelo chão e na cômoda. Estava esvaziando até a gaveta pras roupas dele que eu havia aberto espaço.
  - Tom... - Comecei a formular, mas desisti no meio do caminho, ele não estava olhando pra mim, mal tinha encostado em mim depois do que aconteceu, como ele podia fazer isso? Um assombro rodeou meu coração e fez um cerco. Como ele podia querer ir embora depois dessa descoberta? Eu finalmente tive coragem pra juntar ar nos pulmões o bastante para dizer, e tudo pra ele ir embora assim e me deixar pra trás?! - Tom pro favor me escuta! - Comecei a ficar nervosa sentindo o nó formando na garganta ao saber que não adiantaria, ele estava determinado, e o que eu iria fazer? Gritar e espernear feito uma criança? Só provaria mais do que ele provavelmente já pensava de mim. Ele tinha terminado de recolher suas coisas quando eu surtei de uma vez e gritei - TOM! Tom eu te amo! O que tem de tão errado em amar você?! Vai me matar também!!? - Eu me arrependi assim que a última frase saiu dos meus lábios.
  - Não! Porra! - Tom gritou de volta erguendo o dedo indicador de forma acusatória pra mim outra vez e dessa vez ele veio ao meu encontro, largando a bolsa no chão para ficar frente a frente comigo.
  - Então por que? Eu não sou o suficiente pra você...? - Consegui perguntar sentindo as lágrimas rolando como uma avalanche de pedras dolorosas pelo meu rosto e Tom começou a ficar vermelho. O maxilar trincado enquanto um punho seu ficava cerrado junto do corpo e o outro estava no meu rosto apontando o dedo na minha cara. Me senti tão patética, era claro que não e tá recíproco... Onde eu estava com a cabeça...?
  - Anne você é tão inteligente! Como não consegue perceber! - Ele bufou irritado e se virou para o lado para esmurrar a parede. Me encolhi automaticamente e então ele voltou até mim, usando as duas mãos para segurar o meu rosto, ele estava tremendo. - Anne não é real.
  - O-o que não é real? - Indaguei com receio da resposta, será que Tom era só fruto da minha imaginação como o TDI(Transtorno Dissociativo de Identidade)? Engoli em seco esperando a resposta e Tom usou os polegares para enxugar meu rosto molhado de lágrimas.
  - Anne você não me ama, isso... Você não gosta de mim de verdade, é só afeição... Nunca ouviu falar na síndrome de Estocolmo? Eu te sequestrei e só por que nós nos entendemos e eu virei seu amigo você acabou se apaixonando... Mas não é real Anne, e nem nunca vai ser. - Agora quem tinha começado a chorar era Tom - Eu queria não ter passado tanto tempo com você, agora quem está apaixonado sozinho sou eu. - Tom enxugou suas lágrimas e eu senti meu coração se partindo em mil pedaços como um espelho. - Eu vou embora Anne, eu preciso jogar uma água no corpo antes de ir, e então vou embora e não vou voltar mais.
  Engoli o choro, ainda tentando assimilar e a ferroada amarga que atravessou o que restava da minha estrutura.
  Lentamente me sentei no chão, em frangalhos assim como o órgão que batia desesperado dentro do meu peito. E então escutei três batidas à porta.
  - Vai embora! - Gritei pra madeira esguia e percebi uma silhueta do outro lado vindo pela fresta embaixo da porta.
  A pessoa continuo batendo, mesmo depois da minha última resposta e então eu me levantei bufando, enxugando as lágrimas com a manga da blusa enquanto fechava os botões depressa.
  Quando abri a porta me deparei imediatamente com quem menos esperava. E ele cheirava a álcool e muito vinho misturado com cerveja e sabe-se lá o que mais, enquanto me fulminava com aqueles olhos esmeraldas.
  Alguma coisa dentro de mim começou a berrar em pânico para fechar a porta depressa, mas eu não tive tempo de assimilar direito, ele já tinha avançado para cima de mim antes que eu pudesse reagir.

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