DANIEL
E todo dia, eu nasço, eu cresço, eu adoeço. Eu morro um pouco mais, pra me trazer pra vida.
(Acordar – Fresno)
Eu não preciso de uma sessão de terapia para sentir que passei um pouco da conta na noite anterior. Então, quando o dia amanhece, a sensação é de tensão e constrangimento.
Acordo cedo, mas somente desço para tomar meu café da manhã quando tenho certeza de que não há mais ninguém na cozinha. Faço o mesmo na hora do almoço. Quando o fim da tarde se aproxima, eu mando mensagem para Thalia e Alissa e depois passo cerca de meia hora no chuveiro.
Quando, enfim, saio do quarto, espero um bom tempo no topo das escadas para ter certeza que é seguro descer e não darei de cara com ninguém, mas quando entro na cozinha, Sarah está mexendo em uma panela no fogão enquanto o cheiro de café domina o ambiente saindo direto da cafeteira, que ainda está ligada. Obviamente, ela não fala comigo.
Decido então fazer uma vitamina de banana com chia e aveia. Não é o jantar ideal, na verdade costumo tomar isso de manhã, mas posso comer algo fora mais tarde.
Ao passar por Sarah para pegar o iogurte que vai substituir o leite em minha vitamina, sinto o seu corpo enrijecer e hesito por um segundo, quase fechando a geladeira antes mesmo de pegar o que preciso, mas então retomo minha tarefa com cuidado e preparo meu jantar evitando qualquer contato visual.
Tomo a vitamina em silêncio, de pé, encostado na bancada da pia. Em seguida, lavo a louça suja e ando até a outra extremidade da bancada, onde há um armário acoplado e no qual se encontra uma cesta de medicamentos.
– Cadê o sorriso?! Cadê o sorriso?!
A voz alta e alegre do meu pai falando com Madu em algum outro cômodo da casa reverbera até a cozinha de forma repentina, quebrando o silêncio frio que envolve a mim e a Sarah, me surpreendendo a ponto de me fazer deixar cair o frasco do remédio que havia acabado de pegar.
O vidro se choca no chão, sem quebrar, e o barulho de chocalho provocado pelos comprimidos em seu interior é alto e seco.
Sarah se vira e encara o frasco que rolou até perto dos seus pés enquanto me abaixo e o pego rapidamente. Ela, no entanto, continua com o olhar fixo no chão, agora um espaço vazio.
Sinto seu olhar sobre mim quando giro a tampa do frasco e o inclino em minha mão direita, deixando cair apenas um comprimido. E depois, quando pego um copo de água para empurrar este comprimido através da minha garganta. Sinto seus olhos me seguindo quando fecho o frasco, o guardo de volta na cesta e caminho até a pia, onde lavo o copo da mesma forma que lavei a louça anterior, e o deixo no escorredor.
Quando giro em direção a saída da cozinha, não consigo mais evitar e flagro seu olhar. Ela me encara com seriedade e, percebo, uma nota de impaciência. Eu sei o que ela está esperando.
– Ontem à noite... – eu começo, sem muito sucesso.
– Sim – ela instiga, ao perceber minha abrupta interrupção de mim mesmo.
– Eu disse coisas.
– Sim – ela repete.
– Eu não queria magoar seus sentimentos – assumo, enfim, sem olhá-la nos olhos.
Não consigo ir além disso e Sarah parece compreender. Ela suspira, resignada, e cerra os lábios, então descruza os braços e me diz:
– Eu sei que é difícil para você, também é difícil para mim. Nós dois somos importantes para seu pai, nós dois nos importamos com ele.
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Emergidos
Teen Fiction‣ LIVRO 3 DA SÉRIE SUBMERSOS Daniel e Alissa estão exaustos da longa playlist de canções difíceis em que estão sintonizados. E justo quando pensam que estão terminando, a vida vem e mostra que só ela decide seu próprio fim. Sem tempestades, o mar es...