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ALISSA

A gente sabe como se enganar direito, a gente sabe como se perder no caminho.

(Alto Mar Plutão Já Foi Planeta)


Dentro de quatro carros, nós viajamos para a casa de praia. Viajamos porque, apesar de a cidade em que moramos ser litorânea, a casa de praia de Leo não é em nenhuma das várias praias aqui perto. É no extremo norte, em outro município, numa viagem de carro que dura quase três horas.

Precisamos de quatro carros porque somos muitos, aí fazemos uma escala de quem vai aonde. É nessa parte que meu desconforto começa.

Como o carro da minha mãe é o maior, com espaço para sete pessoas, mas sem espaço para bagagem - o que é normal para quem tem quatro filhos e uma raridade para quem mora neste país -, fica decidido que a maior parte de nós vai com ela. O problema é que quero ir com Anna e Thalia, mas Thalia quer ir com Daniel e Victor não quer ir sozinho. Ou seja: depois de uma rápida deliberação em que eu não intervenho nenhuma vez para não causar mais stress, nós cinco vamos no carro com minha mãe e Celine, a irmã mais nova de Victor, que também foi convidada.

Aí Luke começa uma briga porque quer ir junto com Gabe, Noah e Eric, o que logo é resolvido por meu pai, que toma a frente e diz que irá no carro com eles. Então o pai de Daniel vai com Sarah, a bebê, a outra filha de Sarah, Lilo, e meu irmão Nathan, que sobrou. E os pais de Thalia e Noah vão sozinhos no próprio carro junto com as malas que não couberam no resto dos carros.

Então é isso, todo mundo está feliz. Menos eu, que estou ocupada demais pensando na distância mínima a que estarei de Daniel durante esse tempo. Ele senta no banco atrás de Thalia, que está ao meu lado, e os dois ficam no lado da janela. Se eu bobear e olhar para trás um segundo sequer, todo mundo vai achar que estava olhando para ele, então fico quieta e imóvel no meu canto.

Nós não dizemos uma palavra um para o outro, mas o restante do pessoal não para de falar. Até minha mãe tagarela durante metade do caminho. Ela conversa principalmente com Victor e Celine, porque ela mal os conhece e porque fica obcecada assim que descobre que eles tem dupla nacionalidade francesa. Ela fica o tempo todo pedindo para que eles falem coisas em francês e contem histórias sobre a França.

– Você já esteve na Torre Eiffel? Ah, que pergunta! Claro que sim. Mas me diz, como se pronúncia Torre Eiffel? Porque eu sempre falei "êi-fel", mas ouvi dizer que está errado.

Victor está no banco do carona ao lado da minha mãe e ele fala normalmente, sem precisar aumentar o tom de voz, porque de repente o carro silenciou e só ele e minha mãe estão conversando um com o outro.

– Em francês, nós dizemos tour Eiffel.

Ela olha para a estrada pensativa, mais como se falasse consigo mesma.

– HM, "ii-féll", com esse L dobrado.

– A última sílaba é sempre a mais forte. – ele dá a dica, mas minha mãe já foi para outro lugar.

– E o palácio de Versailles? Le Château de Versailles – ela repete em francês, com ar sonhador. – Sempre quis conhecer.

Eles tagarelam durante quase uma hora, mas nem é tão ruim assim, porque Victor tem umas histórias bem engraçadas sobre sua infância em outro país e falar sobre isso acaba dando oportunidade a sua irmã, Celine, de se enturmar um pouco.

Ela tem a idade dos meus irmãos mais novos e é incrivelmente bonita, com olhos azuis acinzentados e cabelo longo castanho claro. Antes de ela entrar no carro eu pude ver o quanto é alta, praticamente do meu tamanho, que sou quatro anos mais velha.

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