EXTRA: Águas Escuras - Parte II

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6. Ça Ira - Joyce Jonathan

Para você, como é se apaixonar? Para mim, é uma queda longa e inesperada em algum lugar no qual nunca estive antes. É lento e angustiante, ao mesmo tempo em que pode ser algo que me empolga e, claro, me tira o fôlego. Se eu me concentrar com muita força, serei capaz de sentir o vento batendo contra minha pele enquanto caio e isso é semelhante a sensação que tenho durante cada momento que passo com a pessoa que amo. É estranho e libertador. E assustador também.

Se apaixonar é como mergulhar em águas escuras, sem fazer ideia do que te espera embaixo da superfície. O inesperado é perceber que quando enfim nos encontramos submersos, as águas inteiras se iluminam e te fazem enxergar o mundo maravilhoso que é o mundo do apaixonado. Isso se sua paixão for correspondida, claro. Às vezes as águas escuras te cobrem inteira e te sufocam, te tiram o fôlego e te fazem se arrepender de ter mergulhado em primeiro lugar.

Mas só às vezes. Por isso é preciso arriscar. O processo pode ser aterrorizante, mas o resultado quase sempre é bom.

Ainda assim, o risco para mim sempre foi um problema. Pular em águas escuras pode ser algo difícil para alguém que sempre enxergou em plano horizontal, alguém que sempre gostou de manter tudo no controle.

É por isso que o amor não é para poucos. Tirei o bilhete premiado.

≈ ≈ ≈

De repente, de um dia para o outro, Victor liderava o time junto comigo. Não foi bem de um dia para o outro, preciso admitir. Ele se esforçou bastante por um tempo, mas Linda já o queria na liderança desde o momento em que ele entrou pela porta e se apresentou.

Para piorar, ele ficou literalmente como capitão, enquanto eu fui rebaixada a co-capitã. Claro que protestei, bati o pé, resmunguei, rebati, argumentei até mesmo sobre a sociedade patriarcal que me subjugava com a força do poder social de todos os seres do sexo masculino, mas não teve jeito.

E é claro, mas é claro mesmo, que ele teve que se gabar.

– Isso é mais uma prova das minhas grandes qualidades e da minha incrível capacidade de conquista – ele afirmou, com seu ar convencido e zombeteiro de sempre. – Já estou preparado pra te ouvir admitir que quer sair comigo.

– RÁ! – exclamei, rindo alto. – Sonha.

Já fazia um tempo que suas cantadas bregas haviam assumido um tom mais sério e até eu mesma já vinha sentindo um leve comichão na barriga sempre que ele me dirigia a palavra naqueles tons.

De qualquer forma, não abaixaria a cabeça tão fácil assim.

– Não vá pensando que agora vai poder sair por aí me dizendo o que fazer – eu fui logo cortando suas asinhas.

Ele me encarou com o cenho franzido e soltou a declaração que me mexeria até com a mais insignificante das células do meu corpo.

– Por que eu te diria o que fazer? Te conheci assim, me apaixonei por você assim, não faz sentido querer que você mude para me agradar.

Meu corpo deu um giro perfeito em direção a ele.

– O que foi que você disse?

Com o sorriso mais deslavado de todos, Victor deu de ombros:

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