Epílogo - Parte II

274 40 40
                                    

N.A.: Sim, eu sumi. Sim, estou vivendo minha vida numa grande montanha russa e escrever não está mais sendo uma das minhas prioridades no momento. Não, eu não desisti do livro nem dessa história. Não, não abandonarei o livro seguinte, Em Terra Firme. Ele está disponível em meu perfil e será lá que publicarei a continuação dessa história. Talvez esse não seja o final que alguns de vocês esperavam, mas o final que eu acreditei ser o melhor para essa história. Foi o final que imaginei por meses, até por anos, na verdade, e que, apesar de não ter sido feito exatamente da forma como previ, saiu pelo caminho que eu desejava. Espero que gostem. 


ALISSA

Quero ir embora, sair daqui. Estou cheia dessa festa; eu fugiria. Eu fugiria com você.

(Run Away With Me – Carly Rae Jepsen)


A casa está cheia para a festa de despedida, ops, agradecimento. Porque fomos tão bem acolhidos quando chegamos, porque nossos vizinhos são tão legais e fizemos tantos amigos divertidos e bondosos. Tenho a sensação de que não vou aguentar o dia inteiro.

Anna está aqui, junto com Victor e Thalia. Estamos todos no quintal, com algumas mesas de plástico que foram juntadas para formar uma mesa maior, onde todo mundo pode sentar e conversar enquanto come o almoço que mais parece uma ceia preparada pela minha mãe - com ajuda minha e de Nathan, diga-se de passagem.

Meus avós maternos também estão aqui e até me vem em mente a ideia de implorar para que me deixem morar com eles, mas como são muito conservadores e rígidos, acho que eu odiaria cada segundo. Provavelmente eu seria aprisionada e só poderia sair para a escola e para a igreja.

Na verdade, eles detestam a minha escola por considerarem muito progressista. Talvez acabassem tentando me convencer a não fazer faculdade, agora que estou me formando no ensino médio, ou a buscar cursos profissionalizantes e graduações mais "femininas". Com isso, resolvo ficar quieta.

O meu avô paterno, que é viúvo, é um senhor legal, mas ele viaja muito e mal fica em casa. Acredito que eu seria bem mais independente morando com ele, mas duvido que meus pais fossem concordar. Além do mais, nem somos assim tão próximos. De nenhum dos meus avós, na verdade. Me convidaria para morar com eles por puro interesse e, sendo sincera, se eu sentisse que havia a menor chance de meu plano dar certo, faria isso sem pensar duas vezes.

– Sorria, meu bem, sorria! – Thalia chama minha atenção, estampando um sorriso exagerado enquanto passa por mim com duas mini empadinhas em cada mão.

Esboço um sorriso que estou certa que parece mais uma careta, então ela ri.

– A cara da felicidade.

Eu a sigo com o olhar pelo gramado do quintal, observando-a caminhar com uma animação que eu não compartilho. Ela está cada vez mais bonita e confiante, tão diferente daquela pessoa confusa e quebrada que voltou do acampamento de férias tantos meses atrás. Ela nunca mais falou sobre Sofia e não compartilha tanto a respeito dos projetos que lançou com sua família de apoio à causa LGBTQIA+, e eu também nunca parei alguns minutos do meu dia para conversar sobre isso. De repente, me sinto uma péssima amiga.

Assisto enquanto Thalia tenta acenar com a mão segurando as mini empadas e meu foco muda para o grupo que vem chegando: Leo, Sarah, Madu, Lilo e, claro, Daniel. Eu dou um suspiro nervoso, mas minha expressão se suaviza quando ele olha para mim. Ele inclina o rosto para o lado, sussurrando algo para seu pai, e então anda em minha direção enquanto eu sinto meu fôlego lentamente se esvair. Tudo o que eu consigo fazer é ficar parada pensando em como ele sempre consegue me deixar sem jeito, sem palavras.

EmergidosOnde histórias criam vida. Descubra agora