20 - PARTE I

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DANIEL

Eu sou uma ilha perdida no oceano. Eu estou esperando - pelo quê eu não sei.

(The City Don't Care Leon Else feat Oliver)


– Sabe porque toda Disco Night precisa ter essa música? – meu pai me pergunta, de pé ao meu lado perto da pista que Thalia e sua mãe improvisaram com um cerco de LEDs coloridas.

A música a qual ele se refere é Rythm is a Dancer, de Snap!, que está tocando agora. Faço que não com a cabeça, observando silencioso todos os meus amigos se espalharem pelo recinto descobrindo cada pequeno espaço decorado e soltando exclamações altas e animadas.

Anna e Alissa param em frente a um pequeno espelho com as bordas cheias de adesivos coloridos. Elas pegam alguns acessórios dispostos sobre uma mesa em frente ao espelho e testam um por um, decidindo qual fica melhor.

– Porque é a música do primeiro beijo que dei com a sua mãe – ele diz, tomando minha atenção num estalo.

– Sério? Eu achei que a música de vocês dois fosse aquela do Roupa Nova, como é mesmo que chama?

– Whisky a Go Go.

– Isso.

– É, essa também. Eu e sua mãe tivemos muitas músicas. Rythm is a Dancer foi a música do nosso segundo encontro, quando demos nosso primeiro beijo.

Notando que conseguiu captar meu interesse, meu pai sorri e lança um olhar intenso para a pista de dança.

– Vou te contar essa história qualquer dia desses – ele promete. Quer dizer, eu entendo como uma promessa, porque definitivamente irei cobrar.

Minha mãe sempre me contou diversas histórias sobre como ela havia conhecido meu pai e se apaixonado perdidamente por ele, mas eram tantas narrativas diferentes e todas tão fantasiosas, geralmente com uma roupagem de conto de fadas, que eu nunca soube como tudo realmente aconteceu.

Depois desse breve e estranho diálogo, meu pai assume a mesa de bebidas. Houvera um combinado entre os adultos sobre quais bebidas seriam permitidas nesta festa, principalmente depois da discussão nada amigável entre Nathan e sua mãe alguns dias atrás na mesa do café-da-manhã.

Ficou decidido que quem comandará a parte das bebidas serão meu pai e Xavier, pai de Thalia, e eles se revezarão no preparo dos drinks. Helena e a mãe de Alissa, Vanessa, ficarão de olhos bem abertos para qualquer engraçadinho que tente burlar os combinados. Isso, claro, na teoria.

Todos os maiores de 30 anos desfrutarão de gin tônica e Sex On The Beach, um drink pra lá de elaborado que mistura vodka, licor de pêssego, suco de laranja e xarope de groselha. Nós, que somos mais jovens e, óbvio, muito inocentes, ficaremos com a versão pobre desta bebida, que é basicamente uma quantia milimetricamente calculada por Vanessa de vodka com suco de laranja.

Também teremos um coquetel de frutas não alcoólico, mas este é mais para Celine e os irmãos de Alissa, incluindo Nathan, que está de castigo, e eu, que não estou de castigo, mas não posso colocar uma gota sequer de álcool na boca enquanto estiver tomando meus remédios. Por mais que eu já esteja tão inserido nessa rotina que às vezes até esqueça um pouco que ela existe, ainda estou em tratamento psicológico com terapia e medicação.

Para parecerem legais, nossos pais nos dizem que o drink de vodka com suco de laranja que meus amigos sedentos pela bebedeira e pelo descontrole poderão tomar é chamado de Screwdriver - o que não deixa de ser uma verdade, mas não convence ninguém da sua importância.

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