27 - PARTE I

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DANIEL

Segure firme, essa é uma jornada selvagem. Não se engane, o dia chegará quando você não poderá encobrir o que você fez.

(Missing You - All Time Low)


– Todo mundo comete erros – eu repito para mim mesmo enquanto sento num dos assentos na primeira fila do auditório da escola.

Faltam apenas alguns minutos para a abertura da II Semana de Exposições que marca oficialmente o início do segundo semestre e eu estou ansioso para assistir às apresentações.

Tenho um copo de suco de manga nas mãos e não estou usando o uniforme da escola, porque não faço parte da organização do evento e não vou apresentar nada, para meu completo alívio.

Ao meu lado, Elizabeth alisa a saia do vestido branco com estampa de pequenas flores azuis ao se sentar, arrumando-a para que não amasse. O vestido é charmoso, nem muito curto nem muito longo. Vai até um palmo acima dos seus joelhos e é justo o bastante para marcar as curvas do seu corpo até a cintura, onde se alarga numa saia leve e ondulada.

Ela está muito bonita hoje, preciso admitir. Mas não a elogio em voz alta, apenas em pensamento.

– Bem, você cometeu um erro terrível – ela afirma, mas o canto direito de sua boca se ergue sutilmente quando ela termina de falar.

Parece que estamos tendo uma conversa muito séria, mas é só um diálogo banal sobre o fato de eu ter errado o sabor do seu suco ao fazer nossos pedidos na cantina.

– Sério – ela continua, se esforçando para soar indignada ao mesmo tempo em que tenta transparecer que não está tão incomodada assim. – Quem confunde morango com goiaba?

– São parecidos - eu tento me justificar. – Vermelhos e tal.

Ela me encara como se não pudesse acreditar.

- Goiaba e morango são duas palavras muito diferentes, Daniel. E goiaba não é exatamente vermelha.

Seu olhar desce até minha camisa e ela deixa o sorriso se abrir de uma só vez em seu rosto. Está observando outra vez a cor da camisa, que é azul escura e sem estampa alguma.

– Vou te perdoar só porque você está combinando comigo hoje – ela diz, esticando a mão para tocar meu ombro, passando a mão suavemente pelo tecido.

Foi pura coincidência termos vindo com roupas da mesma cor e ela sabe disso, mas nós dois não dizemos nada.

De certa forma, a ironia do acontecimento nos deixa com um ar de nostalgia, como se estivéssemos de volta aos velhos tempos, quando andávamos por aí com estilos parecidos e cores alternadas: ela de branco, eu de preto.

É até engraçado, apesar de careta. Curiosamente, Thalia me lançou um olhar atravessado quando esbarrou conosco hoje mais cedo e percebeu a nossa similar escolha de cores. Ela nem sequer me deu a chance de contar que não havia sido premeditado, apenas revirou os olhos e seguiu pelo corredor em busca de Anna.

Acho que ela está um pouco incomodada com a aproximação rápida e imediata que ocorreu entre mim e Elizabeth. Talvez ela pensasse que queríamos distância um do outro, ou pelo menos que eu queria.

Sendo sincero, eu pensava isso também. Sempre pensei que, caso um dia ela voltasse, seria um longo processo para consertar as coisas entre nós. O que aconteceu foi exatamente o oposto. Ela apareceu e lá estava eu, agindo como se ela nunca tivesse ido embora em primeiro lugar.

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