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DANIEL

O que dizer de você sempre estar aqui? Mesmo quando fecho, você vem abrir - meu sorriso, sei que vai ser seu.

(O Que Dizer De VocêOutroEu)


Uma pessoa muito importante e marcante para mim foi Karen.

Ela esteve comigo durante vários momentos difíceis. Como enfermeira da escola, era ela que me recebia quando eu fingia algum mal estar para conseguir dispensa de todas as aulas.

Depois de um tempo, Karen começou a conversar comigo, tentar me entender melhor. Mesmo que eu não tenha lhe dado tanta abertura quanto gostaria, ela não parou de tentar se aproximar. Ficou amiga do meu pai, visitou a nossa casa várias vezes e fez faxinas e arrumou a casa quando nenhum de nós dois dava a mínima para isso, sem nem sequer pedirmos.

Ela fazia um bolo de limão que curava todas as minhas dores de cabeça e momentos de tristeza. Tinha um aperto de mão caloroso, assim como uma forma doce e maternal de acariciar meu cabelo quando eu evitava todo mundo. Inclusive, foi ela a primeira pessoa a me tocar tão intimamente após a morte da minha mãe e antes de Alissa.

Desde que voltei para casa, não vi mais Karen. Ela saiu da escola depois de mais de 5 anos trabalhando lá e arrumou emprego em outro local. Eu penso nela às vezes, em meio a minha nova e agitada rotina, cheia de atividades e passatempos que me ajudam a manter a mente focada.

É por isso que peço ao meu pai, após nossa pedalada de sábado, para visitá-la em sua casa. Ele concorda e, junto com Madu, que vai na cadeirinha no banco de trás, comigo, atravessamos a cidade até a casa de Karen.

Estou ansioso e nervoso para vê-la. Então, quando ela abre a porta e me encara com a expressão confusa, eu me pergunto se foi uma boa ideia ter vindo até aqui.

– Daniel? – ela pergunta, surpresa. – Aconteceu alguma coisa?

– Oi – eu murmuro, meio inseguro sobre o que dizer.

Mas aí ela vê o bebê em meu colo e meu pai ao meu lado, e sua careta de preocupação se desmonta, transmutando-se em um sorriso de alegria e satisfação.

– Menino, como você tá diferente! – ela exclama, animada, escancarando a porta da sua casa e nos dando passagem. – Entrem!

Nós entramos e ela nos leva até a sala de visitas. Madu em meus braços, curiosa, vira o pescoço para todos os lados, tentando entender o que está acontecendo.

– Quanto tempo, não é? – meu pai diz, abraçando Karen.

Ela olha para mim o tempo todo, espantada, e para Madu, em completo encantamento. Eu nem sei direito o que falar.

– É minha irmã – é o que consigo dizer. – Ela está com quase oito meses agora.

– Ela é linda. Como se chama? – Karen sorri, pegando de leve nos dedos da mãozinha gorda e inquieta da minha irmã. – É a sua cara.

Então ela se vira para o meu pai, em tom acusatório, mas brincalhona:

– A sua genética não falha.

– Maria Eduarda – eu respondo, soando mais alto que o riso do meu pai. – Cadê seus filhos?

Ela segue o olhar que direciono pela casa, inspecionando o local como se a qualquer momento algum pré-adolescente fosse saltar de trás do sofá ou do armário.

– O mais velho está no quarto, vive jogando no computador. A mais nova está na casa de uma amiga. E você, como está?

– Eu tô bem.

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