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ALISSA

Às vezes, quando olho nos seus olhos, eu finjo que você é meu todo o maldito tempo, porque eu gosto de você. Está tudo bem eu ter dito tudo isso? É normal que você esteja na minha cabeça? Porque eu sei que é delicado.

(Delicate Taylor Swift)


Eu acordo pensando que tive o melhor sonho da minha vida, quando descubro que não foi um sonho. É que logo ao abrir os olhos me dou conta de que não estou no quarto que divido com as garotas.

A cama é espaçosa demais, o colchão é bem mais macio e o cobertor é de um tecido suave e morno, com um perfume que eu reconheço.

Giro até ficar de barriga para cima quando percebo que estou sozinha. Um pouco confusa, sorrio ao ver o desenho no forro. Se no quarto da sua casa Daniel tem o desenho do universo, aqui, no quarto da casa de praia, o teto é decorado com o desenho do fundo do mar.

Não percebi isso ontem à noite porque provavelmente a tinta não é fluorescente, mas ainda assim é algo bonito de se admirar ao acordar.

Sento na cama, olhando ao redor e buscando o resto das minhas roupas. Estou vestindo apenas as roupas íntimas, um conjunto nada sexy de algodão cor-de-rosa. Encontro o short e a blusa que usava na noite anterior dobrados em cima da cômoda e me levanto devagar para apanhá-los, sentindo alguns músculos, principalmente os das pernas, meio doloridos.

Depois de me vestir, eu vejo, num relógio de pulso deixado ao lado das roupas, que ainda são cinco da manhã. Devo ter acordado apenas por estranhar o ambiente onde dormi, assim como nas primeiras noites de férias aqui.

Caminho pelo quarto com uma sensação de comichão subindo pela barriga. Estou nervosa, mas não muito preocupada. Não ouço barulho de ninguém mexendo em nada na cozinha, então sei que não preciso me preocupar em ser flagrada por alguém indesejado, como minha mãe.

Preciso sair daqui logo, mas acho que ainda tenho tempo de observar um pouco mais deste quarto e talvez tentar descobrir onde está Daniel.

Em cima da cômoda, além do relógio de pulso que ele tirou e guardou ali, há dois porta retratos com fotos suas e de seus pais em diferentes momentos, todos na praia. Há também uma caixinha amarela decorada graciosamente, aberta e cheia até a borda de conchas do mar. Por fim, o moleskine com o qual o presenteei ano passado. Fico feliz em saber que ele o manteve consigo mesmo depois de termos nos afastado.

Além de um guarda-roupa enorme que vai até o teto do quarto com as paredes pintadas de branco, há apenas uma simplória estante de livros e dois pufes azuis em cima de um tapete branco e felpudo num pequeno espaço ao lado da cama. Jogados entre a estante e a parede, um violão de brinquedo e um urso de pelúcia se destacam no piso escuro.

Perto da porta, duas malas cheias. Ele deve ter arrumado com antecedência, pelo visto, o que não me surpreende.

Eu não toco em nada, somente admiro o quarto tão diferente do que ele possui em sua casa. Mais simples e ao mesmo tempo mais íntimo, com fotografias, brinquedos velhos e pertences de grande valor simbólico, expostos sem medo de que alguém possa descobrir.

De repente, me sinto invadindo um espaço que não é meu e não tem nada a ver comigo, então me apresso em sair do quarto.

Encontro Daniel na sala de estar, deitado no sofá, mas acordado, com um leve sombreado abaixo dos olhos indicando que ele não dormiu.

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