27 - PARTE II

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DANIEL

Não perca sua luta agora, garoto. Só falta um empurrãozinho para você sair dessa, ainda há tanta coisa a ser feita. Você perderia tudo e nós perderíamos você.

(Missing You All Time Low)


Sentado ao lado de Elizabeth nas cadeiras confortáveis do auditório, eu não sei muito bem o que pensar. Algo estranho arranha em meu peito, uma sensação conhecida e ao mesmo tempo distante daquilo que eu me lembrava de sentir.

Elizabeth mexe em seu celular distraidamente e eu passeio o olhar pelo auditório, avaliando a decoração. Em cima do palco tem uma faixa enorme e colorida com a frase "vamos celebrar a vida!" em letras garrafais.

Sinto um aperto quando lembro que isso é, em parte, por minha causa.

O menino que tentou suicídio.

Claro que a escola começou uma campanha forte de prevenção ao suicídio, ao bullying, à depressão e qualquer outra coisa que pudesse deixar os jovens alunos da instituição deprimidos.

A diretora e a coordenadora conversaram sobre isso comigo durante nossa reunião. Acho que elas estavam tentando ser gentis ao afirmarem que estariam fazendo o possível para que a escola fosse um ambiente agradável e livre de conflitos para mim, mas a verdade é que me senti um pouco desconfortável.

Não queria esse tipo de atenção, mas não posso apenas ignorar e virar o rosto toda vez que alguém aleatório me para no corredor para dizer "oi" e perguntar como estou.

Para meu alívio, as apresentações não têm um teor muito melodramático, a não ser por um breve poema recitado por uma aluna do nono ano logo após a fala inicial da diretora.

Meu celular vibra com uma mensagem do grupo intitulado "Clube dos 5", criado por Thalia, claro, que não permite que ninguém saia em momento algum. Inclusive esse foi o nome inicial do grupo: NINGUÉM SAI. Isso porque Anna, por exemplo, já saiu umas três vezes desse grupo na última semana e até mesmo eu tentei sair assim que fui colocado, mas Thalia sempre nos coloca de volta no mesmo segundo. Sugeri uma vez que ela mudasse o nome do grupo para "Porão da Thalia".

"Cadê vcs?", Alissa perguntou há menos de um minuto.

Eu espero alguns segundos até chegar a resposta de Thalia:

"nem queira saber, rsrsrs hehehe"

Ela manda uma figurinha de um gato cinza com um sorriso maligno.

"??", eu envio.

Giro o pescoço procurando por elas pelo auditório, mas só vejo Alissa de pé perto da porta, parecendo uma vigia. Eu percebo que ela também me viu, mas ela faz de conta que seu olhar foi apenas casual e vira o rosto para outro lado.

Ela está vestindo um jeans escuro e a camisa cinza do evento. Seu cabelo está partido quase ao meio, apenas um pouco para o lado, tão sutil que você nem percebe se não prestar atenção. Está praticamente sem maquiagem, mas não faz diferença, porque ela está linda e eu tenho que fazer um esforço para parar de olhar.

Elizabeth vira o rosto para onde estou olhando e pergunta:

– Você não vai falar com ela?

– Não acho que ela queira falar comigo agora – eu murmuro.

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