22

889 143 78
                                    

N.A.: Feliz dia das Mães! Esse capítulo é, além de um reencontro de Daniel consigo mesmo, uma homenagem à Hanna e a todas as mães deste mundo. Até as que são pais, avós, tios, tias e todos que nos cuidam com amor quando nossa genitora não pode o fazer.


DANIEL

Com falta de ar, você explicou o infinito, quão raro e bonito é o fato de apenas existir.

(Saturn - Sleeping At Last)


Hoje é aniversário de Alissa.

De madrugada, quando o relógio bateu uma hora e trinta minutos da manhã, Thalia, Anna e a mãe de Alissa a acordaram com beijos, abraços e muitos "parabéns". Depois que a garota assustada se recuperou do ataque surpresa de felicitações desejadas a ela e voltou a dormir, a casa pôde descansar tranquila até às 7 horas, quando outra vez fomos acordados por uma alta cantoria de "parabéns pra você".

Desta vez, elas estavam acompanhadas por um lindo bolo com glacê cor-de-rosa e plaquinhas de flamingos. Alissa sorria tanto que achei que sua boca ia se rasgar. Não sei de onde arranjaram o bolo, nem como conseguiram trazê-lo para cá tão cedo ou porque fizeram isso, já que depois do parabéns matinal, ele foi guardado na geladeira e todos voltaram à rotina normal até o entardecer, quando trouxeram o bolo outra vez e outra vez cantaram parabéns para só então podermos comer.

Estava começando a pensar que se tivesse que ouvir cantarem mais uma vez aquela música iria acabar saindo correndo pela rua e me jogando de cara em algum poste para desmaiar e não precisar ouvir nenhum parabéns até o dia seguinte.

Não quero ser mal-educado e não lhe desejar feliz aniversário, mas com tanta gente ao redor o tempo todo e todos sendo tão afetuosos dando-lhe abraços calorosos e beijos no rosto, fico sem jeito sobre como fazer direito sem ter que tocá-la e ao mesmo tempo sem querer parecer frio e grosseiro.

Acabo falhando miseravelmente na missão quando, na primeira oportunidade em que a vejo passar sozinha por mim, murmuro baixo e rápido:

- Parabéns.

Até tento consertar com um sorriso o fiasco da minha felicitação, mas Alissa apenas me olha de lado, com estranheza, e agradece do mesmo modo:

- Obrigada.

Depois, por estar tão desconfortável comigo mesmo pelo meu fracasso em ser o menos esquisito possível, decido me afastar um pouco do grupo que comemora.

De volta ao meu quarto, puxo meu moleskine, presente de Alissa no ano passado, e tento rabiscar algumas ideias soltas, palavras que representam aquilo que eu desejo a ela neste dia. Não sei se entregarei, mas me sinto melhor de no mínimo ter a chance de pôr para fora.

Para buscar inspiração e me sentir mais à vontade enquanto escrevo deitado em minha cama, ouço uma das minhas antigas playlists, com músicas que costumava ouvir no passado e me trazem uma sensação nostálgica e boa. Passeando entre as vozes de Aurora, Alec Benjamin e Lauv, sou transportado até um antigo eu do qual ainda tento, insistente e apegado, resgatar os bons pedaços da personalidade.

Revezo com algumas músicas que me fazem lembrar a própria Alissa e nossos momentos mais especiais, mesmo algumas das nossas simples e pequenas conversas, o que me deixa em uma espécie de tristeza resignada de algo que lamento ter deixado passar, mas ao mesmo tempo sinto que pode não estar completamente perdido, pois ainda sinto um enorme carinho por ela. E, ao pensar nesse carinho que me aquece e me conforta, permito-me sorrir vez ou outra enquanto escrevo.

EmergidosOnde histórias criam vida. Descubra agora