11/05/1958

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Pela manhã, uma freira entrou em meu quarto e me acordou. Ela abriu as cortinas e puxou o lençol, me causando certa irritação.

— Acorde — Ela disse, não era Maryonice. — Precisa fazer seus votos. Mas precisa rezar antes de sair daqui.

A desconhecida colocou o terço em minha mão, em seguida se ajoelhou e colocou a cabeça na parte lateral da cama. Ela juntou suas mãos e eu entendi que deveria fazer a mesma coisa. Me ajoelhei ao seu lado, fiz o que ela já havia feito, mas fiquei apenas em silêncio, os olhos fechados por conta do sono.

A freira ou noviça, seja o que ela fosse, pois até hoje não tenho certeza, começou a declamar algum tipo de oração, eu fiquei assentindo para caso ela olhasse para mim.

Em certo momento, ela falou de um jeito desconhecido, em seguida agradeceu pelos feitos e disse um "amém".

Não entendia muito sobre o que deveria fazer ou como precisava agir, mas tinha certeza que essa última palavra indicaca que acabou. Ela se levantou primeiro, eu fiz isso em seguida.

— Arrume-se para o desjejum — Disse com autoridade. — Em seguida siga as outras noviças até a capela, onde fará seu voto na frente de todas.

Meu estômago embrulhou só de pensar. Fazer voto na frente de todas, e ter que jurar uma fidelidade falsa.

Assenti, ela saiu do quarto e me deixou sozinha, eu olhei ao redor impacientemente, girando e movimentando meus braços. Olhei para a cruz fixada na porta, relembrando pelo motivo que estou aqui.

Lavei meu rosto e o enxuguei, era um momento perfeito para chorar, mas não fiz isso. Não queria parecer uma idiota. Era só seguir o que mandavam e tudo supostamente ficaria bem. Coloquei o vestido e ajustei ele nos ombros, onde era mais desconfortável. Prendi meu cabelo como sempre via as outras usando.

Não haviam espelhos no convento, eu achava que era para evitar que elas se idolatrassem demais ou algo assim.

Sai do quarto, não havia uma fila daquela vez, mas sim freiras a postos em cada porta. A que estava de frente ao meu já não era a desconhecida ou Maryonice. Acho que eu odiava não ter uma placa informando os nomes delas. Não teve bom dia para mim nem nada do tipo, apenas um comando. Eu a segui, nos juntamos ao fluxo de outras freiras e garotas que faziam a mesma coisa.

A garota do telhado, Ivy, estava ao meu lado, e eu olhei de relance para ela, que puxava impacientemente o tecido do seu vestido na parte das costas.

— Oi. — Eu disse.

Ivy apenas sorriu e deu um aceno tímido, o que já foi suficiente para atrair o olhar da freira que acompanhava ela.

— Comporte-se, Ivy! — A freira disse severamente.

— Ela apenas me cumprimentou. — A confrontei, mas com medo de precisar conhecer a tal punição que disseram ter aqui.

A freira que a acompanhava, e a que estava comigo, pararam e nos encararam. Engoli em seco.

— Levarei as duas até a madre. — Uma das freiras disse.

— Eu não precisava fazer os... votos? — Perguntei, nervosa.

— Sua situação será decidida pela madre.

Eu e Ivy fomos levadas até a sala da madre, eu não conseguia controlar meu nervosismo. Havia chegado no dia anterior e nem havia me adaptado o suficiente para já arrumar confusão.

Uma freira bateu na porta, meu olhar implorando por uma segunda chance tinha sumido, eu a olhei com um certo ódio.

— Fique quieta. — Ivy sussurrou conforme nos aproximavamos da mesa.

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