25/07/1958

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Eu havia desistido de escrever porque estava cansada e acreditava que ninguém nunca leria aquilo. Mas uma carta de Ivy me despertou novamente, e eu senti a necessidade de reescrever no diário caso se perdesse.

"Espero que ainda consiga receber minhas cartas.

Se conseguir, saberá tudo que vêm acontecendo comigo enquanto não escrevi. Se não conseguir, espero que possamos nos ver em breve.

Desde que recebi sua última carta eu vinha tentando escrever alguma coisa, mas nada parecia bom o bastante, só que eu decidi enviar assim mesmo. O problema foi depois que a formação terminou. Agora sou freira, você sabe, e por isso não posso sair tanto. Tentei várias vezes deixar a carta, mas sempre me viam e pediam favores ou eu só não conseguia sair naquele dia.

Mas eu quero que saiba, Maria, que apesar de tudo eu não te esqueci. Você não me respondeu sobre Mirtes, mas eu espero que esteja tudo bem com você.

Eu prometi que iria voltar, mas não consegui, então me perdoe Maria, e se nunca me perdoar, eu posso entender você.

Para Maria Cortez, com todo meu coração."

Eu rapidamente quis escrever de volta, e entregaria a Patrick no outro dia como havíamos combinado.

"Por favor não me deixe no escuro outra vez. Tive medo que algo tivesse acontecido com você, e isso me perturbou por dias. Bem, acho que posso dizer a verdade, e se te consola, Mirtes foi embora, eu apenas não sei para onde. É, você não leu errado, ela foi embora, mas foi necessário que ela me machucasse primeiro, e isso não é algo que me consola. Também queria dizer que pretendo fugir. Eu não sei como farei isso dar certo, mas tenho algo em mente que pode funcionar, apenas me diga onde está."

Ivy me escreveu de volta:

"Nunca quis que isso acontecesse. Eu deveria ter feito algo com Mirtes enquanto podia, mas fui burra, uma idiota que mereceu o sofrimento que passou por não ter coragem o suficiente.

Maria, por que quer se arriscar desse jeito? Fugir pode ser fácil, mas como pretende sobreviver depois? Como pretende chegar aqui em Londres? Não posso deixar que faça isso.

-Ivy"

A última carta de Ivy me deixou confusa, mas tudo aquilo me fazia pensar mais em como eu fugiria, porque a saudade superava qualquer dificuldade que eu encontrasse.

No dia combinado com Patrick eu não entreguei carta alguma, mas me encontrei com ele mesmo assim.

- Não há carta? - Ele perguntou.

- Preciso de dinheiro e uma passagem para Londres.

Seus olhos se arregalaram, depois ele sorriu, mas me mantive séria.

- Para que, Maria?

- As cartas são enviadas para lá. Finalmente posso me encontrar com quem estou conversando por essas cartas.

Ele me olhou com desconfiança.

- Você pode se perder em Londres.

- Não importa! - elevei meu tom de voz, mas me controlei, precisava dele. - Só me ajude essa última vez, Patrick.

Eu fiquei encarando ele e cogitei a possibilidade de beijar sua boca, mas não conseguiria fazer aquilo tão rapidamente, e eu nunca faria isso com Ivy. Então pensei nele como um irmão ou parente próximo e beijei sua bochecha.

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