26/06/1958

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Muitas vezes eu desejava que eu e Ivy pudéssemos ficar juntas a vista de todos, mas acabei me acostumando com isso, mesmo contra minha vontade, então Ivy combinou de se encontrar comigo em meu quarto para subirmos até o telhado, e isso me fez ficar nervosa, me incentivando a mexer nas quinquilharias ao meu lado.

Ouvi a porta bater e abri rápido. Ivy entrou sem cerimônia e depois de garantir que tinha fechado corretamente, eu a beijei e fiquei abraçada com ela.

Te amo muchísimo. — Eu disse, e tirei aquele véu para admirar os fios ruivos do seu cabelo.

Ivy me beijou outra vez.

— Eu também te amo... — Ela tentou imitar o meu sotaque. — Muchísimo?

Sorri, e distribui vários beijos pelo seu rosto.

— Vamos subir. — Segurei sua mão e abri as janelas do meu quarto.

Estava meio nublado, mas mesmo assim subimos. Ivy foi primeiro, e fez isso devagar, para que eu pudesse acompanhar seus passos. Eu imitei o que estava fazendo, mas quando cheguei no final, precisei da sua ajuda.

— Como você consegue? — Questionei, sentindo meu coração acelerado pelo medo de cair.

— Alguém da minha família fazia escaladas e eu herdei. Pelo menos eu acho.

Sentei ao seu lado e fiquei admirada quando vi a vista aqui de cima. Era alto, as pessoas poderiam nos ver se não tivéssemos cuidado, mas mesmo assim eu aproveitei a oportunidade e admirei as casas, construídas como se estivessem em um círculo, e tudo isso ao redor do convento e da capela.

— Aqui é lindo, Ivy. — Disse, e me segurei em seu antebraço, com medo de cair.

Ela beijou o dorso da minha mão e depois acariciou.

— Imagina só quantos outros lugares lindos existem por aí também? Eu vou te levar a todos eles, Maria!

Meus olhos lacrimejaram, eu me senti feliz. Feliz de verdade. Ivy era uma garota única, e que me amava.

— Eu quero morar na Itália! — Falei animada, mesmo sabendo que eu muito dificilmente sairia daquele convento.

Senti alguns pingos de chuva, mas sequer saí do meu lugar. Ivy por outro lado aproveitou a deixa para acender um cigarro, e quando olhei o que estava fazendo, lembrei da minha tia Martha, que tinha morrido porque fumou bastante. Senti um aperto no peito e peguei o cigarro da sua mão mesmo antes dela levar aos lábios.

— Por que fez isso, Maria?

— Não posso deixar você morrer. — Eu disse, e pisei várias vezes para apagar.

— Do que está falando?

— Eu tenho medo de te perder e esse cigarro pode fazer isso.

Ela não discordou e ficou olhando o horizonte.

— Você está certa.

— Então... Você vai parar? — Segurei suas mãos e as trouxe para perto de mim. — Por mim, Ivy?

Hesitando, Ivy me entregou o maço que estava escondido.

— Por você, Maria. — Ela olhou para o maço uma última vez e balançou a cabeça.

Os pingos de chuva começaram a cair mais fortes e sequencialmente, molhando rapidamente Ivy e eu. Ela desceu rápido do telhado e me ajudou logo depois. Antes de entrarmos no meu quarto, Ivy segurou firme minha cintura e acariciou. A chuva caía sobre nós, mas mesmo assim ela me beijou, sem se importar com o tempo.

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