17/05/1958

114 14 22
                                    

Uma batida forte e estridente na porta. O som de um objeto pousado no chão. Uma voz alta e autoritária.

- São cinco e meia! A primeira chamada para a missa acaba de tocar!

O estrado da cama rangeu quando eu apoiei o corpo nos cotovelos para me levantar. Olhei ao redor com espanto, assustada pela forma que me acordaram. Levantei me arrastando, sentindo meu coração acelerado pelo susto. Ao abrir a porta, olhei para baixo, vi um jarro com água morna e uma roupa dobrada na mão de uma freira.

- Bom... dia? - Perguntei, sonolenta.

- A missa vai começar. Arrume-se!

Olhei para o jarro e o coloquei para dentro. A freira fechou a porta e eu lavei meu rosto, mas me joguei na cama em seguida.

Quanta gente estaria lá, nessa reunião fantasmagórica de gente ainda com sono? As quinze noviças, talvez? e algumas freiras? além do padre.

- Maria Cortez! - Ela disse quase gritando, quando me viu deitada. - Prefere ser levada até a madre?

Fechei minha mão em punho e soltei um grunhido baixo. Todas as ameaças sempre levaram a uma pessoa específica, e ao chegar lá sempre iria receber a mesma punição.

- Irei me arrumar, irmã. - Disse, me levantando.

Ela saiu do quarto e eu reúni coragem para colocar a nova roupa. Essa parecia mais folgada, e havia uma nova cor: o lilás. Também tinha um hábito, num tom de roxo.

Arrumei meu cabelo em um coque, coloquei o hábito com um pouco de dificuldade e depois estava pronta. A meia calça branca ficava totalmente coberta por conta da saia mais longa.

- Estou pronta. - Falei para ela assim que eu estava fora do quarto.

Meu véu foi ajustado, em seguida acompanhei ela em silêncio até a capela que já conhecia. No caminho, vi freiras saindo de uma sala com mais roupas, todas com a cara feia, o que suspeitei ser um tipo de regra. Na capela, escolhi um lugar ao lado de Ivy, que segurava uma pequena bíblia, aberta em algum texto específico. Ela olhou para mim assim que me sentei, e peguei uma bíblia em seguida.

- O que está lendo? Não parecem ter muitas histórias interessantes aqui. - Eu falei, folheando aleatoriamente o livro.

- Veja - Ivy sussurrou, aproximando a bíblia do meu rosto e apontando com o indicador para um trecho. - Aqui diz que a besta vai subir do mar - Disse, meio que sorrindo. - Mas aqui não tem praias, então... Como a madre surgiu?

Olhei para os lados tentando controlar a vontade de sorrir, mas as freiras estavam nos bancos da frente, então não hesitei em me divertir com a situação. Sorri baixo, cobrindo a boca tão forte que a palma da mão ficou vermelha. Ivy era a única que me fazia sorrir assim, mas eu ainda não sabia.

Quando dei mais algumas risadas mais baixas, olhei de relance para Ivy, que usava a mesma roupa que eu. Seus lábios tentavam não deixar um sorriso escapar, eu sorri da cena.

- Isso aqui me dá tédio - Ela disse, apontando vagamente para os arredores. - Tenho um lugar melhor, vamos.

- E se nos procurarem?

- Que se dane! Não vão sentir nossa falta.

Duas noviças sentadas na nossa frente olharam para trás com o indicador na frente dos lábios, um sinal típico para fazer silêncio. Eu revirei os olhos, em seguida concordei com a cabeça para Ivy. Elas se viraram, era a oportunidade perfeita.

A garota se agachou atrás dos bancos enquanto o padre fazia uma oração, eu fui seguindo ela em passos sorrateiros até estarmos numa espécie de jardim meio abandonado. O que deveria ser uma fonte de água se tornou mais um pântano, com anjos cheios de musgos e uma água verde cheia de folhas. A grama estava alta e tinha orvalho, molhando as saias. Em um descuido, eu escorreguei numa poça de lama camuflada pela grama, mas não cheguei a cair, pois no reflexo do momento, me segurei no antebraço de Ivy, que olhou para trás e me ajudou a ter equilíbrio novamente.

Convent | ⚢ Onde histórias criam vida. Descubra agora