Passei muito mais tempo que o necessário fazendo atividades do lado de fora do convento, já que haviam menos noviças para ajudar. Coloquei a carta no bolso e fiquei esperando o garoto dos vestidos passar, e quando finalmente o vi, montado em sua bicicleta, comecei a mover a vassoura com força e fiz movimentos exagerados, como se eu estivesse num circo. Patrick viu e sorriu, então começou a chegar mais perto e eu olhei ao redor para garantir que a madre não estava observando.
- Não precisa de muito para chamar a minha atenção - Ele disse descendo da sua bicicleta e arrumando a boina. - Só sendo uma bela moça como você já é o bastante.
Forcei um sorriso, provavelmente fiquei parecendo uma maluca, mas fez ele sorrir, por mais idiota que eu tivesse achado.
- Você poderia fazer um favor para mim?
Ele arqueou a sobrancelha.
- Achei que finalmente tinha se rendido ao meu charme irresistível, mas eu estava errado. - Ele se virou, estava indo embora, mas eu precisava falar com Ivy.
- E você não me ouviu! - Falei, e Patrick se virou para ouvir. Mostrei a carta, ele estava prestes a abrir, mas eu impedi. - Preciso que entregue cartas para mim, não posso ir muito longe do convento.
- Eu deveria ajudar depois de você ter pisado em meu pé? - Ele ameaçou abrir a carta mais uma vez. - E, aliás, para quem não pode respirar perto de um garoto, você está se saindo bem.
- Eu preciso que essas cartas cheguem até... Uma pessoa que amo muito, e você pode me ajudar, Patrick, é a única pessoa que eu conheço e parece andar por toda Inglaterra.
- As cartas vão para a capital?
Assenti.
- Estou quase andando por toda Inglaterra, mas ainda não fiz a loucura de ir até Londres. Ainda - Ele respirou fundo. - Posso deixar suas cartas com os carteiros que vão até Londres, mas o que eu ganho em troca?
- Eu posso tirar meu hábito se você quiser!
Não sabia que ele estava tão empolgado para ver meu cabelo, mas essa ideia o animou, e eu fiquei aliviada, porque não tinha dinheiro.
Estava ficando escuro e poucas pessoas estavam nas ruas, então eu me apressei para tirar o hábito. Patrick me olhou espantado.
- Posso ter uma fotografia do seu cabelo, Maria?
- Não! - Eu coloquei o hábito de volta, ele analisou a carta em suas mãos, como se estivesse me ameaçando silenciosamente. Revirei os olhos. - Bem, se seu trabalho for bom, então eu deixo.
Ele colocou a carta em sua bolsa, eu olhei para o papel e em seguida para Patrick.
- Nada de ler o que escrevi - Eu disse estendendo minha mão para ele apertar. - E se eu receber uma resposta, me entregue de algum jeito.
- Sigo suas ordens, senhorita. - Ele beijou minha mão ao invés de apertar, e eu a recolhi imediatamente após o beijo.
- Vai antes que alguém veja você!
Ele correu até pegar certa velocidade e montou em sua bicicleta mais uma vez. Eu não o conhecia o suficiente, nem sabia se podia confiar nele, mas eu tentei. Tentei por Ivy. Tentei por nosso amor.
⛧
O coral parecia meio vazio, e senti falta de algumas vozes, as únicas que de verdade pareciam afinadas. Toquei aquela música prestando atenção em cada garota, mas de repente foquei em Catalina, que estava com bolsas sob os olhos e parecia cansada, como se não dormisse há dias. Acabei errando por causa disso, e a irmã Daisy reclamou comigo.
- Desculpa. - Eu disse, piscando várias vezes.
- O ensaio acabou, para sua sorte. - Ela disse e as noviças começaram a sair. Eu as acompanhei até a mesa para não ficar sozinha.
Assim que sentei, Florence sentou ao meu lado e falou baixo:
- Ivy mal foi embora e você já arrumou um garoto, Cortez?
Cerrei meus punhos, mas me controlei para não fazer nada, já que não queria sentir aquela dor novamente.
- Ele está me ajudando. - Eu disse, e fui rápida em ocupar minha mão com o guardanapo antes que eu a usasse para bater em Turgueniev.
Ela deu um sorriso debochado, mas fiquei aliviada quando passou o resto do jantar quieta, sem nenhuma provocação dirigida a mim.
Terminamos o jantar sem nos matar, o que considerei um avanço, e Hannah se colocou ao meu lado quando estávamos fora de visão da madre ou das freiras.
- Como você está, Maria? Tem realmente um garoto agora?
- Eu quero saber sobre você, Hannah - Eu disse, me lembrando do dia em que Diana foi embora. - E não, não há nenhum garoto.
- Eu... - Ela respirou fundo. - Não sei. Sinto falta de Diana, ela era a única que me fazia esquecer do caos que é este lugar.
- Ivy me fazia sentir isso - Sorri tristemente, mas balancei a cabeça. - Espero que ela volte em breve, então poderemos fugir.
- Maria... - Hannah começou, mas fomos interrompidas quando ela chegou em seu quarto, e uma freira vinha em nossa direção. Ela se calou, e não pude fazer nada para fazer ela me contar o que queria.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Convent | ⚢
Romance"Maria Cortez é levada para um convento. A causa disso? Sua escolha de ser livre, e não querer seguir os passos religiosos da mãe. Lá, conhece Ivy Lowell, uma das garotas enviadas pela avó, que a mandou para lá após descobrir que ela havia se 'desvi...