09/06/1958

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Os dias passavam, e eu relembrava quase o tempo inteiro daquela conversa que tivemos, e por causa daquilo eu comecei a observar mais seus lábios, mesmo quando estávamos junto das outras, e isso me trazia medo por causa das punições severas, mas havia algo em Ivy que fazia meu coração bater mais forte.

Eu me sentia ansiosa quando acordava, e ficava ainda mais ansiosa quando esperava por ela em alguma lição ou na capela. Meu rosto esquentava quando ela olhava demais para mim ou quando estávamos muito perto. Eu ficava nervosa quando ela segurava minha mão, mesmo que por pouco tempo.

Então eu comecei a me perguntar se gostava de uma garota. Se gostava de Ivy. Me perguntava se isso era certo.

Hannah e Diana eram próximas. Talvez até mais do que eu e Ivy, então, naquele dia, na aula de música, eu esperei as outras saírem e fiquei perto dela.

- Hannah - Falei em tom baixo, ela quase não virou a cabeça, mas fez um gesto para que eu continuasse falando. - É possível que uma garota goste de outra, não é?

Sua mão apertou a saia, e ela assentiu.

- Sim. E não há nada errado. - Ela disse, parecia brava, falava como uma das freiras.

- Eu sei que não, Hannah - Respirei fundo. - É que eu acho que gosto de uma garota.

- A Ivy?

A menção ao seu nome me fez ficar nervosa, meu coração acelerou.

- É. A Ivy.

Ela riu, parecia menos brava.

- Ah, Maria... Eu adoro a forma que vocês se olham.

- Nos olhamos... Normal. Eu acho.

- Você está cheia de dúvidas, mas não se preocupe. Conte a ela quando achar que for o momento.

- E se eu nunca achar que é o momento?

- Um dia precisará agir.

Três freiras entraram, Hannah e eu deixamos a sala, e enquanto eu me dirigia para o quarto, vi Ivy e minhas mãos tremeram, minha respiração acelerou conforme estávamos mais perto por aquele corredor, mas ela sequer olhou de relance para mim, e talvez o motivo tivesse sido a freira no início do corredor, mas Ivy não era de ligar para as regras, e como eu estava confusa, aquele mísero acontecimento foi suficiente para que eu chorasse em meu quarto.

Nos vimos na capela, na hora da missa, mas ela não sentou perto de mim, meus olhos estavam inchados e meu peito doía de tristeza.

Mas eu deveria saber que aquele sofrimento nem se comparava ao que ainda estava por vir.

Esperei em silêncio Ivy dizer alguma coisa, mas ela parecia ter pedido a voz.

Tirei o pó, varri e passei pano, limpando a cozinha para fazer tudo de novo no dia seguinte. Junto com Ivy. A garota que aparentemente perdeu a fala.

O clima parecia pesado, eu queria conversar com ela e ouvir sua voz. Queria ouvir sua risada linda.

- O trabalho acabou - Uma freira disse, chegando de repente na cozinha. Queria argumentar e dizer que não acabamos, mas eu preferia estar no quarto se era para ficar em silêncio ao lado de Ivy. - Estão dispensadas esta noite.

Larguei o espanador sobre a mesa e fui em direção a saída, Ivy ao meu lado. Chegamos na soleira da porta e a freira para Ivy, colocando a sua mão na frente e a impedindo de passar.

- Você fica.

Olhei para trás, mas Ivy não teve nenhuma reação além de parar e abaixar a cabeça em obediência.

Então a deixei, cansada de ser intrometida e pensar demais.

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