20/05/1958

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Depois do desjejum, a madre ordenou que todas ficassem na sala de estar, esperando que os novos vestidos chegassem. Eram uma espécie de uniforme, que usaríamos para as aulas de estudo bíblico.

Elisa atendeu a porta quando bateram, as garotas ao meu lado estavam cochichando sobre algo. Ao olhar para a porta, percebi que o murmurinho estava vindo dali por conta de um garoto que tinha acabado de entrar. Ele segurava uma caixa grande de madeira, e se exibia por conseguir levantar todo aquele peso sozinho.

O estranho deu batidinhas na caixa e depois piscou para as garotas, eu revirei os olhos. Ele era exibido demais, e faz questão de mostrar esses seus músculos horríveis. Uma das noviças deu um gritinho quando ele mexeu no cabelo, eu escondi meu rosto com um livro, aquilo era totalmente vergonhoso, mas ele não percebia, e acredito que faria isso até hoje se tivesse chance, e eu ainda acharia totalmente vergonhoso.

— Elas ficam assim toda vez — Ivy sussurrou, eu assenti. — Patrick nem é tudo isso. Na verdade, seu queixo é muito pontudo e seus olhos tem uma cor tão normal quanto o de qualquer outro.

— Ele é perfeito, Ivy. — A garota de tranças ao nosso lado disse.

Ivy sorriu ironicamente.

— Não precisa mentir para mim, Hannah

— Bem, sim. Ele é bonito — Falei. — Meio bonito, na verdade. Seu cabelo não ajuda muito, e essa barba deve ser horrível quando ele vai beijar alguém.

— Já está pensando em beijos com ele? — A Hannah perguntou.

As duas olharam para mim com curiosidade, eu brinquei com minhas mãos.

— Está bem, um pouco menos exibido e eu provavelmente estaria que nem as outras garotas aqui — Olhei ao redor, percebi que do outro lado da sala, uma noviça de cabelo castanho olhava para nós, acho que para Hannah. Lembrei que ela se sentava ao meu lado direito, um pouco mais simpática do que a da esquerda. — Quem é aquela? — Perguntei.

Hannah e Ivy olharam para lá, a rebelde soltou uma risada nasal.

— Diana. — Ivy disse, quase num tom provocativo, fazendo Hannah se empertigar no sofá.

— Nos falamos algumas vezes — Hannah rebateu, gesticulando. — Nada além disso.

Voltamos a olhar para o garoto quando ele começou a vir na nossa direção.

Na minha direção.

Deveria ser algum tipo de maldição.

— Como se chama, senhorita? — Ele perguntou, se inclinando um pouco para frente.

— Maria Cortez. — Eu disse, olhando para a sua barba idêntica a de um daqueles homens de selva.

— É um lindo nome. Lembro-me de ter o visto num livro de romance, há algum tempo.

As outras noviças me encaravam com certo ódio, mas olhar para elas me fez lembrar de algo.

— O que está querendo dizer?

— Bem, vejo um padrão aqui. Seu nome em um dos meus livros preferidos de romance.

— Está querendo dizer que apenas porque meu nome está lá eu deveria conversar com você? — Perguntei, tentando fazer uma voz igual a de uma viúva. — Não posso respirar o mesmo ar que os homens, eu sou uma noviça dedicada ao que faço isso e não aceito distrações.

Ele colocou sua boina novamente, recebeu o pagamento de Maryonice e em seguida saiu do convento. Eu sorri.

— Ele é insuportável.

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