31/07/1958

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Estava difícil manter as esperanças a cada dia que se passava, porque Londres era simplesmente gigante, e por mais que eu sentisse estar perto, a todo momento eu me sentia exausta, mas sempre me lembrava de Ivy e do que desejávamos. Se eu continuasse, poderíamos ser livres, como eu já tinha desejado uma vez.

Arrumei os lençóis da cama e me preparei para mais um dia procurando Ivy. Não tinha como ela tirar uma fotografia e me enviar junto com suas cartas, mas eu queria muito isso, porque assim saberia onde ela estava com precisão.

Deixei a casa onde passei a segunda noite depois da péssima experiência de ficar perdida e dormir no meio da cidade, arrumei meu xale e sai pelas ruas, seguindo os prédios. As vezes eu me atrapalhava, indo na direção errada e precisando voltar de muito longe. Pensei várias vezes em perguntar a qualquer pessoa, mas todos em Londres pareciam ter pressa, e até a pessoa de mais idade parecia correr, além de terem caras mal humoradas.

Westminster era mais movimentada que o normal, até mais que a antiga cidade onde o convento ficava. Eu me sentia invisível, e as vezes era bom porque realmente era necessário passar despercebida algumas vezes, já que eu havia fugido do convento em bakewell, e se soubessem do meu desaparecimento eu não sabia do que eram capazes.

As paradas ficaram mais longas quando eu me sentia cansada, e depois de passar grande parte do dia procurando, eu finalmente quis desistir, pelo menos naquele dia. Sentei em um banco de praça para descansar e respirei fundo. Olhei ao redor e vi várias pessoas apressadas, passando com bíblias em suas mãos. Levantei o olhar imediatamente e as segui, andando por ruas estreitas que não havia andado.

Me apressei também, meu coração pareceu disparar com a ideia de reencontrar Ivy, e assim que vi a igreja e o nome do convento que estava ao seu lado, eu senti meus olhos se encherem de lágrimas. Segurei forte as cartas de Ivy, e tentei controlar meu choro. Segui o fluxo de pessoas até estar dentro da capela, e assim que entrei comecei a procurar por ela.

Segui as pessoas para o lado onde era reservado para nós, mas não deixei de olhar para onde as freiras estavam sentadas. Mesmo rápido, não consegui ver Ivy entre elas, e quando o desespero começou a me tomar, eu olhei para frente e a vi, mas esplêndida do que nunca, com um buquê de flores nas mãos enquanto as arrumava.

Quis correr até ela e lhe encher de beijos, sentir o cheiro dos seus cabelos e abraçá-la até que ela estivesse implorando para ser solta.

Fui para os bancos da frente na esperança que ela me visse, e propositalmente criei um burburinho para chamar sua atenção quando comecei a discutir com uma pessoa que estava sentada. Disse que ela estava no meu lugar, e isso gerou uma pequena comoção, o suficiente para que os olhos azuis de Ivy encontrassem os meus, já que eu falava sem tirar meu olhar dela.

Talvez Ivy tivesse tido a mesma vontade que eu tive, mas pareceu ficar em tanto choque que deixou o buquê cair no chão. Suas mãos estavam trêmulas, seus olhos se encheram de lágrimas, e por mais que eu quisesse consolar Ivy naquele momento, a única coisa que fiz foi correr para pegar o buquê. Me abaixei, e o segurei por um instante antes de entregar à ela.

- Maria... - Ela sussurrou baixo, e só pude entender porque não tirei os olhos dos seus lábios.

- A missa já irá começar, irmã Lowell. - Alguém disse, e eu não prestei atenção, estava ocupada olhando para minha amada.

Entreguei o buquê e me apressei para sentar em qualquer lugar que me permitisse ver Ivy pelo resto do tempo que eu passaria ali.

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