25/06/1958

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O tão temido dia da confissão havia chegado, e eu simplesmente não sabia o que fazer. É claro que não deveria ser uma obrigação, mas a madre nos forçou, e agora todas estamos em uma fila até chegar ao padre. Ficamos distante o bastante para não escutar, mas conseguia ver Hannah chorar por alguma coisa e Melina, uma outra noviça, foi levada para algum lugar após a confissão. E se a madre não estava, não queria nem pensar no que poderia fazer caso eu dissesse a verdade.

Não queria mentir sobre Ivy, mas se isso era necessário para ela não ficar distante de mim. Eu acharia fácil, mas não considerando os últimos acontecimentos. Não considerando o que aconteceu ontem a noite, em seu quarto. Apertei os olhos ao pensar nisso, e quando a noviça atrás de mim me dá um leve empurrão, eu percebi que era tarde para correr ou fingir que morri.

Caminhei até o confessionário e percebi que minhas mãos tremiam. Me ajoelhei e fiz o sinal da cruz. Lembrando do que minha mãe ensinou eu comecei a falar:

— Perdoe-me, padre, pois eu pequei. Fazem 3 meses desde a minha última confissão. Estes são meus... pecados... — Hesitei.

Me mantive em silêncio por um momento, e lembrei do que havia acontecido ontem.

Ivy e eu tínhamos terminado nossos deveres, e a hora de ir para os quartos estava prestes a chegar, mas eu queria ficar junto dela, e por isso a convenci de me deixar ir até seu quarto, e isso não pareceu uma péssima ideia, até que eu comecei a olhar para Ivy enquanto ela trocava sua blusa. Eu olhei para o caminho que suas mãos faziam entre os botões, e me espantei quando, poucos segundos depois, pude ver a sua pele. Senti meu rosto quente, uma mistura de vergonha, mas desejo de ver mais. Ivy percebeu o estado de pânico que eu me encontrava, mas ao invés de me acalmar, o que ela fez foi continuar a retirar sua blusa. Eu não conseguia desviar o olhar por mais que eu quisesse, e quando a blusa foi retirada por completo e pisquei algumas vezes e depois olhei para o chão.

— Maria — Ela me chamou, meu pescoço parecia não querer obedecer ao movimento de levantar e olhar para Ivy, mas mesmo assim eu levantei a cabeça. — A blusa. — E apontou para o meu lado.

Eu fui até onde a blusa estava pendurada e assim que peguei, me virei para entregar logo à Ivy. Isso faria ela se vestir mais rápido.

Ao invés de fazer isso, ela ficou segurando a blusa e olhou para mim. Eu também a encarei, e descer meu olhar acidentalmente talvez tenha sido um erro.

— Por que está olhando para os meus peitos, Maria? — Ela quis saber, mas não me olhava com raiva.

— Lo siento! — Respondi tão nervosa que esqueci onde eu estava. — Quer dizer, desculpa — Me corrigi. — Eu não queria que ficasse incomodada. Desculpa.

Ivy se aproximou, a pele ainda exposta.

— Você está curiosa? — Ela perguntou, um ar sorridente. Suas mãos acharam as minhas, e Ivy segurou. Meu rosto já estava em brasa, mas quando ela levou a ponta dos meus dedos a sentir o contato de sua pele eu senti que poderia morrer bem ali. — Se quiser, pode sentir eles.

Eu raramente via meu próprio corpo, porque sempre que tirava minhas roupas, ficava constrangida e as colocava rapidamente. Mas ele deveria se parecer com o de Ivy, e foi isso que me deixou curiosa.

Pressionei então a ponta dos dedos contra a sua pele, e subi até chegar em seus peitos. Coloquei a palma da mão sobre eles e fechei suavemente, sentindo o quanto era macio.

— Você gostou, Maria? — Ela perguntou, segurando meu pulso, e guiou minha mão para cima, me fazendo sentir mais da sua pele até chegar no pescoço. Eu segurei ali, e passei meu polegar em seu queixo. Ivy não parava de me encarar, devia esperar uma resposta.

Eu assenti, incapaz de falar verdadeiramente o que sentia. Porque era difícil, e eu nem sabia direito o que senti.

Só sei que gostei.

Usei a minha outra mão para acariciar seu pescoço, e Ivy ficou tão perto de mim que pude sentir suas coxas contra as minhas. Ela me beijou calorosamente e enroscou seus dedos nos meus fios de cabelo. Naquele momento eu senti uma sensação nova e estranha no meu corpo, e por algum motivo eu queria tocar Ivy e seus seios.

Ivy desceu seus lábios pelo meu pescoço e eu fechei meus olhos, sentindo minha pele se arrepiar e uma sensação no ventre aumentar, misturando tudo.

— i-ivy. — Eu ofeguei, e ela olhou para mim.

— O que foi? — Perguntou, me olhando com o rosto enrusbecido.

— Eu posso ver seu corpo? — Perguntei, com uma coragem que nunca vou saber de onde veio.

Ivy olhou para o relógio, onde já passavam das dez.

Ela hidratou seus lábios e sussurrou no meu ouvido:

— Eu posso ver o seu? — O sussurro acompanhou um toque de nossas mãos. Ela me beijou na bochecha e se afastou.

— Eu não quero ir. — Falei me agarrando ao seu corpo.

— Mas não queremos que acabe agora. Lembra?

Eu assenti, e aquela despedida pareceu mais difícil do que qualquer uma.

Deixei o seu quarto o mais sorrateiramente possível e segui rápido até o meu. Entrei e tranquei a porta, mesmo sabendo que alguma freira poderia abrir com aquelas chaves infinitas que carregavam.

Eu tirei minha roupa para trocar pela camisola, mas ao invés de ficar com vergonha de mim mesma, eu olhei para o meu corpo com atenção. Obviamente não consegui enxergar minhas costas, mas isso foi bom, porque nunca suportei aquelas marcas. Só que havia a parte que eu conseguia ver, e eu toquei minha pele, e sorri ao perceber que nunca houve nada de errado em conhecer a mim mesma.

Mas toda a coragem de ontem pareceu ter acabado, e  eu encarei a almofada que estava ajoelhada.

— Cortez? — O padre perguntou, e me dei conta que haviam outras noviças, e que eu deveria mentir e acabar com isso de uma vez.

— Eu desobedeci a madre — Comecei, lembrando o que tinha feito. — Eu fugi durante uma missa e não cumpri meus deveres corretamente — Fiz outra vez o sinal da cruz e encarei o padre. — Meu Deus, Eu me arrependo de vos ter ofendido Pois sois tão bom e amável. Prometo com a vossa graça Esforçar-me para ser bom! Meu Jesus, Misericórdia, Amém!

Me levantei e deixei o confessionário. A noviça que esperava pela sua vez entrou lá do mesmo jeito que eu, e as outras pareciam ter raiva da minha demora.

Sentei ao lado de Hannah e fiquei esperando junto com ela até que todas as outras se confessassem, e meu maior erro foi olhar ao redor, porque o olhar de Ivy se encontrou com o meu, e várias memórias começaram a surgir.

Ela olhou para frente de novo, mas eu continuei encarando Ivy, e pensando na sua beleza, e no que vivemos ontem.

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