Ivy estava prestes a partir, e não faltavam mais que poucas horas para isso. Pela manhã, quando a vi, me senti envergonhada e lembrei do momento que seu rosto estava entre minhas pernas. Ela sentou ao meu lado no banco da capela e segurei suas mãos, mas não tão firme quanto gostaria.
Mas assim que a missa acabou e voltamos para o convento, a madre mandou as futuras freiras se arrumarem para partir, e eu fiquei na sala junto com as outras, esperando pela partida da garota que eu amava.
Respirei fundo a abracei uma almofada, mas não demorou para que outras freiras aparecessem, e quando Mirtes parou ao meu lado eu mantive minha postura séria e cerrei meus punhos. Podia sentir que ela me observava, mas não a encarei de volta, porque queria continuar ali e me despedir de Ivy. Hannah estava prestes a perder Diana, e estava inconsolável, embora estivesse dando a desculpa que perderia sua melhor amiga, ao invés de dizer que perderia seu amor, e eu entendi seu sentimento de uma forma tão clara que meu coração ficou partido pela forma que ela estava.
Turgueniev sentou-se ao seu lado, e ficou esperando também.
Meus olhos marejaram quando vi Ivy em fila com as outras noviças. Ela segurava sua bolsa com as roupas e assim que pararam de andar, Ivy olhou para mim. Ela acenou discretamente, e tudo que a madre falava pareceu se dissolver, porque eu só conseguia olhar para a garota que eu amava.
As portas foram abertas, as noviças caminharam para fora e, sem pensar nas consequências, eu corri atrás delas. Ivy percebeu o burburinho e olhou para trás, então parou onde estava eu corri para abraçar ela. Mesmo com medo, o que eu achava compreensível porque eu também estava, ela me abraçou, e eu sussurei em seu ouvido:
- Eres la mejor novia del mundo.
Ivy sorriu e sussurrou de volta:
- Espero que em breve me diga o que significa.
Eu sorri assentindo, e de repente me dei conta de onde estávamos e que algumas noviças nos olhavam. A madre olhou para mim e eu voltei para dentro, me afastando devagar.
Maryonice ajudou elas a entrarem nos carros que seguiriam até a estação de trem, e assim que Ivy entrou no dela, acenei, e observei ela se afastar. Mas Ivy iria voltar, nós iríamos fugir e ser felizes do jeito que eu desejava.
Mas naquele momento a única coisa que aconteceu foi que eu perdi o controle quando ouvi Florence falando que as garotas não fariam falta e que eu era uma idiota.
Voltei para dentro, ela sorriu e parecia me ameaçar com aquele olhar.
- Ivy deixou você, Maria - Turgueniev disse e semicerrou seus olhos. - Já estava na hora daquela garota sair daqui. Ela precisava ir antes que atacassem todas nós, assim como fez com você.
Naquele momento eu fiquei com tanta raiva por ela ter falado de Ivy que acertei seu rosto com o meu punho, e foi com tanta força que ela cambaleou para trás e colocou a mão sobre seu olho que eu havia acertado.
- Maldita! - Florence gritou e cerrou seus dentes com força. - Espero que as piores coisas aconteçam, mas não com você, e sim com Ivy, essa imbecil que você parece amar.
Minha respiração ficou acelerada porque lembrei do que a freira havia tido, e eu não podia duvidar de ninguém ali. A tristeza se misturou com raiva e medo, então eu acertei ela de novo e de novo.
E quando comecei a me perguntar porque ela não revidava, entendi que seria a vítima, e eu não poderia dizer o que de verdade me fez fazer aquilo.
Olhei meus punhos, vermelhos e doloridos, e quando a madre voltou para dentro ela nos lançou um daqueles olhares assustadores, mas principalmente para mim. Ela se aproximou, quase bati nela também, mas as coisas já estavam bastante complicadas para mim.
- Minha paciência com você se esgotou, Cortez.
Ela saiu de perto e começou a andar na frente, depois fez um gesto e alguma freira me empurrou e fui forçada a seguir a madre até sua sala.
Quando estávamos lá dentro, a madre foi até seu armário, e percebendo que estava resistindo, ela mesma deixou minhas costas a mostra, e antes que eu pudesse sequer pensar, fui acertada.
Havia tanto ódio que eu era acertada com mais força do que aguentava, e ao invés de gritar, eu chorei, chorei o quanto queria, sentindo a dor do chicote e da perda de Ivy. Senti ainda mais ódio da madre, e enquanto ela me batia por uma quantidade de vezes que eu havia perdido a conta, eu me lembrava do que ela fazia, e desejei que ela morresse enquanto acertava alguém, ou enquanto vivia um momento feliz de sua vida, se aquilo fosse possível.
O barulho cessou, a madre me virou de frente para ela e deu um forte tapa no meu rosto.
Mirtes foi a freira responsável por me trazer, e ela estava sorrindo de mim, e conseguia perceber isso mesmo com meu rosto embaçado de lágrimas.
- Você não tem salvação, Maria Cortez - A madre falou. - É uma pecadora que merece ir para o inferno.
Eu precisava ser mais forte do que nunca, como Ivy havia me falado.
E dizer para a madre que ela também iria para o inferno não seria uma boa ideia, então eu assenti e coloquei a minha blusa novamente, evitando que a freira olhasse meu corpo por mais tempo.
Saí da sala e fui direto para o meu quarto pegar uma pilha novas de roupa e tentar parar aquele sangue que escorria pela minha pele. Nunca soube como Ivy suportava tanto aquela dor, e quando eu tirei minha blusa mais uma vez para tentar limpar o sangue, Mirtes entrou em meu quarto com um caixa na mão, e sorriu alto o bastante para que eu pudesse ouvir.
- Disse que precisaria de proteção - Ela segurou meu queixo e me forçou a olhar seu rosto. - Não consegue sequer parar o sangue.
A freira se sentou em minha cama e ficou atrás de mim. Senti o algodão em contato com minha pele e chorei mais.
- Eu irei ajudar você, Cortez - A freira passou o algodão mais uma vez. - Mas lembre-se que nós, seres humanos pecadores não fazemos nada por pura bondade, e que em troca terei sua obediência - Eu não tinha forças, não era tão forte quanto Ivy, mas eu deveria ter sido, deveria ter afastado aquela mulher de mim, mesmo que aquilo me fizesse sentir uma dor insuportável todos os dias. - Estamos entendidas?
Eu demorei pra responder porque não parava de soluçar, e percebi que ela não tinha piedade nenhuma, principalmente quando ela passou álcool em minhas feridas e me fez sentir mais dor.
- Estamos, Maria Cortez?
Eu assenti, e percebi que naquele momento eu havia me perdido.
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Convent | ⚢
Romance"Maria Cortez é levada para um convento. A causa disso? Sua escolha de ser livre, e não querer seguir os passos religiosos da mãe. Lá, conhece Ivy Lowell, uma das garotas enviadas pela avó, que a mandou para lá após descobrir que ela havia se 'desvi...