Prólogo.

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10 ANOS ATRÁS...

DONNA SORRENTINO

Tudo começou em uma noite chuvosa e barulhenta pelos fortes trovões, que acompanhavam os raios que iluminavam a velha e grande mansão Santoro.

Um barulho estrondoso me faz acordar e sentar na pequena cama, assustada pelo mesmo.

Observo o arredores do quarto que dividia com Danna, minha irmã mais nova de nove anos. Olho em sua direção, para ver se estava dormindo, mas a falta de volume em baixo dos lençóis era visível pela luz dos relâmpagos e isso me faz entrar em pânico instantâneamente.

Céus, onde essa garota pode ter se metido? — Levanto-me e caminho lentamente rumo a porta do quarto, abrindo-a e tomando cuidado para não fazer barulho. — Mas acontece que faz trezentos anos que não é colocado óleo. — A mesma range enquanto vou puxando-a calmamente.

As paredes eram tomadas pelas sombras macabras, formadas pelas cortinas de cada janela que tinha no corredor. Mesmo com um medo enorme, caminho devagar para que todos da casa não fossem acordados, principalmente meus pais e os donos da mansão, os Srs. Santoro, junto com seus quatro filhos: Giovanni e Gael, que eram gêmeos, Pietro e a caçula, cuja tinha a mesma idade que minha irmã e se chamava Giulia.

Inclusive, as duas eram melhores amigas e sempre brincavam juntas as escondidas. Pois nossos pais sempre repreendiam Danna, dizendo que ela não podia se igualar a filha dos patrões.

Falando sobre meus pais, nunca foram muito amorosos conosco. Mas ainda sim, sempre cuidaram de nós e nunca nos deixaram faltar nada.

De repente, um choro vindo do andar de baixo me tira dos meus devaneios e faz meu coração se retorcer dentro do peito. Vendo que já não estava mais próxima aos quartos, comecei a correr em disparada.

— Danna? — Minha voz sai como um ruído, comparada aos açoites dados pelas rajadas do vento lá fora. A silhueta de uma criança está mais à frente, a cena seria horripilante se não soubesse que se tratava da minha irmã, que conheci pelas mechas loiras e ao que parecia, estava chorando. Parecendo sentida com algo, me aproximo o mais rápido que posso e a puxo pelos ombros. — O que aconteceu? — Pergunto enquanto enxugo seu pequeno rosto com as costas da mão.

— Não fiz nada... — Sussurra. — Eu não fiz...

— Do que está falando? — Analiso-a por inteiro e meus olhos se esbugalham ao ver manchas de sangue espalhadas por todo seu frágil e pequeno corpo. — Céus, Danna! O que houve meu favo de mel?

— Estávamos brincando, ela tropeçou e...

— Quem tropeçou? — Pergunto temendo sua resposta.

— Giulia... — Sinto o chão se abrir em baixo de meus pés.

— E onde ela está? — Tento manter a calma, para não assustá-la.

— Na biblioteca... — Seguro em sua mão e junto à mim, a levo na direção da grande sala cheia de livros e velharias caras. Uma vez que alcançamos o local, abro a porta com receio e quase dou um infarto ao ver um minúsculo corpo estirado no chão. Me movo até o mesmo, mas não sinto minhas pernas e um suor frio escorre em minhas costas.

— Giu, acorde bambina... — Tento acordá-la, mas a mesma não se mexia de forma alguma. — Céus, faça-a acordar... — Olho para o alto, na esperança de que a menina abrisse os olhos, mas nada.

De repente, sou puxada para trás e dou de cara com meus pais, que observam a cena com total incredulidade em suas expressões.

— O que está acontecendo, Donna? — Pergunta papai.

— Danna e Giulia estavam brincando e houve um acidente... — Afasto-me para o lado e dou-lhes a visão da criança desfalecida no chão. Minha mãe leva as mãos para a boca, que formava um “O”. E meu pai, fica imóvel feito uma pedra.

— Céus, estamos perdidos... — Diz meu pai já saindo para fora da biblioteca e minha mãe o acompanha, permaneço no mesmo lugar sob o olhar amedrontado de Danna.

Alguns intermináveis minutos se passam e finalmente eles retornam, com bolsas e alguns de nossos pertences em suas mãos.

— Tome, a partir de agora você será responsável por sua irmã e por si mesma, já és maior de idade e sabe se cuidar. Leve Danna para este endereço e entregue esta carta para Maria Ricci. Depois disso, suma e nunca mais volte para cá ou terá um fim trágico. — Diz minha mãe, em um tom frio. — Em sua mochila, há o suficiente para sair do país e viver tranquilamente por alguns meses em outro lugar. Agora vá e leve sua irmã consigo.

— Mas e vocês? — Pergunto em um fio de voz.

— Não sabemos o que irá acontecer... Agora vão... — Agarro a pequena mão de Danna e saio mansão à fora, indo pelos confins da floresta que rodeava a propriedade dos Santoro.

[...]

Seguro firme a mão da minha jovem irmãzinha, que treme pelo frio da madrugada. Já estávamos chegando em uma parte mais civilizada, pois já se podia ver luzes e aquilo, de alguma maneira me deixou mais calma.

— Irmã, para onde estamos indo? — A voz de Danna preenche o silêncio e me faz estremecer.

— Para longe.

— Estou com medo, a mamãe e o papai... — Paro e ajoelho-me em sua frente.

— Escute-me bem Danna: nunca pense em voltar para aquela mansão e em hipótese alguma tente encontrar a mamãe e o papai, és pequena, mas já tem idade o suficiente para entender que se voltar, mesmo que não seja culpada pelo que aconteceu, eles irão levá-la para a cadeia. Pois pessoas como eles, não se importam com a inocência de pessoas como nós. — A mesma assente e limpa suas lágrimas, envolvendo seus bracinhos em meu pescoço, inalo seu cheiro, gravando-o em minha mente.

— Irmã, diga-me que vai ficar ao meu lado. — Diz e essas palavras machucam meu coração.

— Sinto muito, mas não posso. O lugar para onde a levarei não permite moças da minha idade... Então quero dizer apenas que se comporte e nunca tente voltar para lá. — A mesma assente e assim continuamos com nossa caminhada.

Em um certo momento, finalmente chegamos ao local que constava no endereço. Pedi a uma senhora que chamasse a tal Maria Ricci e em alguns minutos mais tarde, a mesma aparece em minha frente e pergunta:

— És a filha de Andrea Sorrentino? — Assinto e aproximo-me.

— Sim, sou Donna, sua filha mais velha. — Apertamos as mãos e me afasto para apresentar Danna. — Esta é minha sorella minore, Danna. Minha mamma pediu-me que lhe entregasse isso. — Tiro a carta de meu bolso e entrego para a mesma. Abaixo-me na altura de Danna e sussurro em seu ouvido: — Nunca esqueça de mim, um dia virei lhe buscar il mio piccolo tesoro. — Dou-lhe um beijo na testa e entrego sua bolsa com seus pertences para Maria. Em seguida dou dois passos para trás e dou-lhes as costas.

— Donna... — Ouço a fraca voz e não ouso olhar para trás.

Precisava seguir em frente por minha irmãzinha...

O Juiz Mafioso (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora