Prólogo

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— Quem você acha que é para virar as costas para mim? Volte aqui, seu pedaço de merda.

Paro com o pé no primeiro degrau da escada e lentamente me viro. Minha vontade é de ignora-lo e ir para meu quarto, mas sei que seria muito pior para mim se eu o fizesse.

Caminho até ele e paro na sua frente, sua testa bate em meu queixo, já faz um bom tempo que eu deixei de ser menor que ele, mas não de temê-lo.

— Você ouviu o que eu disse? — Ele pergunta chegando mais perto e cutucando meu peito com seu dedo, posso sentir o cheiro de álcool em seu hálito podre.

— Ouvi. — Digo com o maxilar cerrado, a voz baixa e controlada.

— Então porque não me respondeu, porra? — Ele grita e tenho vontade de vomitar por causa do cheiro forte que exala por entre seus dentes amarelos.

— Porque nós perdemos. — Respondo me preparando para o que está por vir.

— Eu sabia que isso ia acontecer. — Ele diz cutucando meu peito novamente, com mais força. — Você é um inútil mesmo, não é Vincent? Eu já disse mais de mil vezes para você desistir dessa ideia de jogar futebol, mas você não me escutou, você nunca me escuta. Ao invés de estar trabalhando e ajudando na casa, você perde tempo indo nesses treinos estúpidos, e para que? Se você nem ao menos ganha a porra de um jogo! Você não serve para nada mesmo, é tão inútil como sua mãe.

— Não fale assim da mãe. — Descontrolo-me por um segundo e elevo a voz. Grande erro.

— Não grite comigo, porra! Você tem que me respeitar. — Ele grita na minha cara, me fazendo dar um passo involuntário para trás. Merda.

— Você é um fracassado, um bosta, e sua mãe, aquela vadia...

— Não chame a mamãe de vadia, porra! — Grito, perdendo a calma e colocando um dedo na sua cara, sinto meu rosto esquentando por causa da raiva. Minha outra mão se fecha em um punho e eu aperto-a com raiva.

— Seu bostinha, quem você pensa que é? Vou te ensinar a não me desrespeitar de novo.

A próxima coisa que eu vejo é seu punho vindo em direção ao meu olho esquerdo. Solto um urro por causa da dor e me encolho, com ambas as mãos no rosto.

Ele quase nunca bate em meu rosto, ou em qualquer outro lugar que os hematomas fiquem visíveis, na verdade. Meu olho ficará roxo e eu terei que inventar que escorreguei e cai, ou qualquer merda parecida com isso.

Antes que eu possa endireitar o corpo, outro soco vem e atinge meu estômago, me curvo mais, sem fôlego. Uma joelhada nas costelas e eu caio, ela já estava machucada da última surra que ele me deu. Aliás, foi por causa das minhas costelas que nós perdemos hoje, achei que eu poderia aguentar a dor, não queria decepcionar meu time, minha escola. Aguentei muito bem o jogo inteiro, estávamos empatados com o outro time, Leo me passou a bola em um lance perfeito, corri o máximo que eu podia, mas não consegui desviar o jogador do outro time. Fui para o chão com ele em cima de mim, senti uma fisgada em minhas costelas e soltei a bola.

Eles fizeram um touchdown e venceram.

Cubro a cabeça com os braços enquanto ele me chuta, aprendi ao longo dos anos, que o melhor é não revidar, só piora a situação. O melhor é me encolher e esperar que ele se canse.

Normalmente não demora muito para que ele se canse, mas hoje parece que ele está com a determinação revigorada, e os golpes não param.

— Você acha mesmo que um fracassado como você vai conseguir jogar profissionalmente, hum? — Ele grita enquanto me chuta com força.

A dor começa a se tornar demais e não vejo outra opção a não ser implorar.

— Para, pai, por favor. Para.

Mas ele não para.

Paixão em Jogo         (Livro 5)Onde histórias criam vida. Descubra agora