quatro

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Viver os dias com Harry não era de todo ruim.

Ele faz comida toda noite, o que era ótimo porque eu sempre conseguia comer a sobra no almoço. Alguns dias, até tentava puxar um assunto diferente, mas era como se não pudéssemos mais ser nós.

No fim, ele me respeita, assim como eu o respeito.

Então, não era tão difícil.

Ele entrava pela porta da frente de seu apartamento, sem cheiro algum, passava por mim e acenava, ia até a cozinha e começava a ferver água. Logo estava no banho, para depois terminar o jantar.

Mas haviam algumas coisas peculiares que eu gostaria de entender.

Como por exemplo, o fato de que ele saia todos os dias mais cedo. Victor, o advogado que me tirou da cadeia, o esperava no carro do outro lado da rua. Harry nunca o beijou ou então o abraçou mais forte - não que eu tivesse seguindo eles pelas janelas do quarto ou então tentando ver mais de perto pela fresta da sala. A questão é que Harry saia cedo demais e chegava em casa - às quintas-feiras - cerca de 3 horas a mais do que nos outros dias.

3 horas com mais de noite e 1 hora a mais de manhã, davam 4 horas diárias. Ele tinha me contado que um estagiário trabalhava 6 horas diárias. Então... O que diabos Victor tinha de tão legal para o prender por quase um período de estágio?

Não que eu esteja supondo que essas 3 horas tenha a ver com ele. Lógico que não. Só estou preocupado.

- Quer falar alguma coisa? - Me perguntou, estávamos sentados à mesa jantando uma lasanha de queijo feita a pouco tempo, logo depois dele demorar 3 horas a mais para chegar.

- Não - respondi assim que engoli minha comida. - Só fico pensando sobre quando vão tirar essa merda de mim.

- Victor me disse que dessa semana não passa. Já tem quase um mês e eles não podem te deixar por tanto tempo assim com ela - ele colocou outro pedaço de massa na boca e eu só conseguia pensar "Victor te ligou pra falar isso ou foi de manhã?"

- Entendi...

- Louis, eu sei que tem mais coisa que você quer saber. Só fala logo! - Odeio com todas minhas forças o jeito direto dele, sempre tão certeiro que é irritante.

- Você está saindo com aquele alfa?

Então, Harry riu. Não. Harry gargalhou. Com a boca cheia e tudo.

E não me respondeu.

O alfa - que talvez seja melhor só chamar de beta - riu o resto do jantar inteiro e seguiu pra cozinha quando terminou de comer, deixou os pratos sobre a bancada e foi para seu quarto, sem dizer uma palavra.

- A louça é sua como combinamos - ouvi ele dizer assim que a porta de seu quarto foi aberta e antes que ele pudesse fechar continuou. - E nunca mais pense que tem o direito de querer saber algo sobre mim, você perdeu esse direito a 6 anos atrás.

A porta de madeira bateu no batente e pisquei forte com o som.

Como sempre, Harry estava certo. Eu não tinha esse direito.

•••

- Meu nome é Valéria e estou aqui para fazer seu cadastro no país, tudo bem?

- Não. - Respondi para tudo que ela disse. Não queria nenhum cadastro naquele país, tudo que eu desejava era ir embora. A porra do Victor havia me prometido que só iam tiram a tornozeleira e logo estaria em casa, na casa de Harry.

- Por que não? - A ômega tinha olhos escuros e com certeza estava próxima de seu cio, eu sentia sua alteração de hormônios.

- Porque não pertenço a esse país.

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