doze

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- Lou, podemos conversar? - Era Bella, soube que ela estava vindo antes mesmo de chegar, seu cheiro invadia tudo ao redor. Por mais que não quisesse ser grosseiro com ela, apenas ignorei, não tinha condições de falar naquele momento.

O silêncio a seguir foi longo, mesmo ainda sentindo seu cheiro achei que a ômega tinha se afastado. Pensando nisso, voltei para a cama e ali fiquei o restante do dia. Cobri minha cabeça com um travesseiro para evitar ouvir qualquer barulho de lá de fora.

De noite, sem mais opção, levantei da onde estava e fui para a cozinha, eu ainda não tinha muitas coisas, mas o básico estava ali. Peguei uma panela e comecei a esquentar a comida do dia anterior. Foi nesse momento que percebi não estar sozinho.

Respirei fundo, sabendo que iria ter que enfrentar meus problemas de frente e terminei de montar dois pratos, os deixei em cima da mesa e fui até a porta da frente.

- Entre - disse voltando de onde havia saído e não olhei para trás, sabia quem era e esperava que soubesse o quanto eu não queria falar.

Victoria sentou na cadeira à minha frente e pegou seu prato, comemos sem dizer uma palavra sequer. Na verdade, eu e ela pouco nos falamos até hoje. Ela provavelmente veio até aqui a mando de Bella e felizmente com o estômago cheio ela irá me deixar sozinho.

Quando terminamos a comida me levantei, tirei os pratos e os lavei. Evitei qualquer olhar a mais, já ela me encarava a todo instante, como se precisasse ler meus sentidos. Não me importei, no entanto. Victoria estar ali não me incomodava, pois eu sei que dentre todas as pessoas que poderia vir até mim, ela é a que menos tem algo a me dizer.

Sentei na cadeira um pouco mais a frente de onde ela estava, ainda não tínhamos um sofá em casa, mas pra mim aquela cadeira já era minha sala, fiquei de costas para a alfa e pude sentir ela se levantando.

Se desse tudo certo ela iria embora agora.

- Louis - droga, porque ela ainda está aqui?

Virei para olhá-la, ela estava de costas e observando a paisagem lá fora, na única janela da casa, sendo assim voltei para minha posição e apenas aguardei a continuação de suas palavras, essas que demoraram bem mais do que imaginei.

- Não quero ter que pedir isso a você, - começou em tom ameno - Harry insistiu muito para te deixar longe disso, mas - senti sua voz vacilar e naquele momento entendi porque era ela que estava ali e não Bella, então a cortei.

- Eu não consigo.

- Ele me contou sobre o Cassiano, Louis-

- Cassiano não existe mais, assim como aquele Louis, eu estou realmente tentando superar - não estava irritado, mas estava profundamente incomodado com todas minhas memórias.

- Essa é a sua oportunidade. Você foi preso porque tinha encontrado a injustiça e foi atrás de arrumar aquilo. Você não é de ver isso e deixar passar.

- Não posso.

- Por que? Nós precisamos de alguém como você aqui. Precisamos que eles cresçam com força e minimizem os traumas, você pode ajudar.

- Não posso.

- Sabe, - ela disse depois de alguns minutos em silêncio, - quando Harry me pediu para não te envolver eu achei que era porque ele gosta muito de ter tudo só para ele, até revirei os olhos pro discurso de meia hora que ele deu - isso era a cara dele, por isso não contive o sorriso que brotou em meus lábios, - mas, agora consigo entender o que ele estava dizendo. Harry sabe muito bem que só você é capaz de ajudar de verdade essas crianças, sabe que você tem o que elas precisam. Mas também sabe de algo que eu não sei, sabe que você é o melhor, mas que de alguma forma ser o melhor te machuca. Eu entendi.

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