treze

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Faz 3 dias que não volto para nossa casa.

Toda vez que penso em sair de perto das crianças alguma coisa acontece e eu volto minha total atenção à elas. Para ajudar nesse início, chamei dois jovens adolescentes, Joseph e Marie, um homem e uma mulher. Não posso me dar ao luxo de ter apenas um gênero entre as crianças, qualquer coisa pode ser demais para eles e então simplesmente a uma bomba explodir.

Joseph tem 16 anos e está aqui sem família alguma, ele tem sua própria barraca e prefere não ter seus cios. Bella me contou que ele foi aprisionado por anos pelo tio, esse que é conhecido de Victor. Desde a primeira vez que conversamos senti algo diferente nele, hoje cuidando das crianças comigo, consigo enxergar, Joseph é fiel e protetor. Por mais que a vida o levou ao limite, ele voltou para o lugar certo.

Me identifico com ele.

Marie por outro lado, não tem nenhuma das qualidades de Joe, na verdade, ela é a pessoa mais prática e direta que já conheci. Não me identifico com ela. Porém, só entendo o quanto é necessário tê-la perto. A ômega não hesita, é como se todos os problemas que ela já teve na vida fossem por água abaixo apenas para trazer e defender o que é certo. E ela só tem 15 anos.

Juntos, nós três nos revezamos durante as noites e assim que o sol nasce estamos prontos para mais um dia.

Diferente do que seria normal, cuidar de 11 crianças traumatizadas está sendo calmo demais. A maioria delas evita chorar ou reclamar, algumas foram ter a primeira refeição a menos de 1 dia, isso porque elas não entendem até onde podem ir. É triste imaginar tudo que cada uma delas pode ter passado. É horrível pensar que se hoje elas são assim é porque alguém as impediu de ser quem elas queriam ser.

Dentre nós 3, Marie é a que mais tem tato com elas - contradizendo todo seu jeito -, mas é que as crianças sentem a firmeza em sua voz e, sobretudo, conseguem sentir que nela não há nenhum rastro de pena.

Eu vivi anos lidando com tudo isso e em mim só existe raiva. Já em Joseph, a pena o domina.

Ainda estamos no dia 3, então há muito que aprender e lidar com cada uma delas.

A cabana que estamos é a antiga cabana comunitária, por aqui há cerca de 20 camas e uma cozinha. Foi feita quando os infiltrados disseram que um dia seria necessário um lugar grande e afastado para lidar com situações críticas. E sim, eles estavam certos. O dia havia chegado e hoje essa cabana está sendo muito útil.

Por ser mais afastado do campo, as crianças ficam mais tranquilas a maior parte do tempo. Quando chegaram aqui e houve toda a movimentação da festa elas se agitaram demais, deixando que o medo tomasse conta das suas emoções.

No fundo, eu entendo os motivos, tanto da festa quanto do medo.

Hoje elas estão seguras aqui, eu sei disso, mas é difícil confiar que nada mais acontecerá com você quando se tem um histórico ruim.

- Louis, ainda temos uma que não quer comer - Marie veio até onde eu estava para me avisar, nós conseguimos fazer com que todos comessem, menos um.

- Ele já disse algo? - Perguntei preocupado.

- Ainda nada, além de não querer tomar banho.

- Acho que vou tentar uma coisa diferente com ele.

- O que você está pensando?

- Quando eu era adolescente e tinha problemas assim, também me recusei a comer, falar e dormir, mas então eu encontrei um amigo... Ele me ajudou.

- Mas aqui já tem 10 crianças com ele-

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