quatorze

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Em silêncio voltei para a cabana das crianças, no meio do caminho não senti seu cheiro e muito menos te vi. É como se tivéssemos voltado ao zero.

Nesse ponto minha preocupação é se saio ou não da nossa casa. Você a fez para nós, mas eu não quero dividir ela com você. Estar com você, ver você, me trás um sentimento de angústia. É inevitável.

Os últimos 3 dias foram tranquilos, por mais que tenham sido ruins, foram em paz e nem mesmo voltei para casa, mas agora eu simplesmente não quero mais voltar.

Abro a porta da frente e Marie está com algumas crianças, acredito que brincando, Joseph mais longe está de olho em outras que estão dormindo e tem Henri, ele está conversando com o menino a sua frente e parecem se entender. Se pensar bem, isso parece muito com meu passado, o nosso. Afasto essas memórias na mesma hora e vou até eles, Henri sorri assim que me vê.

- Loueh, - falou animado - o Chris nunca brincou lá fora, a gente pode ir?

- Claro - disse calmo, - mas antes de ir, vocês precisam comer uma fruta.

- Tudo bem! Tem maçã?

- Tem - a entrego uma na mão logo depois de tirar de uma sacola onde tinha algumas frutas, - e você qual vai querer?

- Você pode falar com o Lou - Henri falou para Chris depois de algum tempo, - é ele quem lê pra mim todos os dias - incentivou, mas parecia que não haveria nenhuma palavra que o faria conversar comigo.

- Tudo bem, não precisa, mas é preciso comer, ok? - Falei me abaixando e ficando na altura dos dois. - Henri, vou deixar a sacola com você e podem comer o que quiserem, depois podem ir brincar.

Ele assentiu com a cabeça e então me levantei, deixando os dois sozinhos. Antes mesmo de estar longe o suficiente Chris pegou uma banana e começou a comer. Deu certo.

- Você conseguiu - Marie comentou.

- Ainda bem, estava começando a ficar preocupado.

- O importante é que deu certo, Louis - ela sorriu e logo saiu.

Era só isso que importava, certo? Deixar as crianças salvas e bem, era isso.

Sim. Era isso.

A tarde passou como todas as outras, cada criança em seu lugar, cada um vivendo com mais calma do que eu poderia imaginar. No início da noite o pai de Henri veio o buscar, entretanto o garoto não queria ir, havia gostado do lugar e dos amigos, foi por isso que ele ficou um pouco mais, prometi que o levaria para sua cabana antes de dormir e seu pai - surpreendentemente - aceitou.

Depois do jantar, onde Chris comeu bem, me encontrei com Bella na cabana das crianças, ela foi me pedir para ir descansar e enquanto isso ela e Victoria passariam a noite ali, pensei em recusar, mas para ser sincero, desde o acontecimento de mais cedo tudo que eu mais quero é ficar sozinho por um tempo.

Então, chamei Henri antes das crianças começarem a se ajeitar para dormir, ele se despediu de Chris e pude o ouvir prometendo que no dia seguinte estaria lá. Segurei sua mão e fomos até a cabana de sua família.

Antes de me despedir do seu pai, lembrei de algo e quis perguntar.

- Você sabe quem cuida da Summy?

- Ela fica com a Lena, sabe a ômega que cuida das plantas de manhã.

- Sei. Obrigado.

- O seu alfa cuida muito bem delas... - Me virei para vê-lo, sei que esse homem é desprezível, mas vamos ver até onde ele poderia chegar. - Então tente não estragar uma família que realmente pode dar frutos a nossa comunidade.

- Meu alfa, certo?

- Sim, sabemos que vocês sempre estiveram juntos.

- Exato. Sempre. Então, por que você acha que agora eu o largaria?  - Perguntei sem nenhuma expressão na voz.

- Só pensa, ok? Para de achar que o mundo é seu e veja que eles 3 são muito melhor que só ele e você.

- Sinto em dizer, mas você vai se decepcionar muito então.

Ele não me respondeu mais. Que bom. Porque sinceramente não sei o que deu em mim, eu concordei com ele sobre estar com Harry.

Nós nunca estivemos juntos.

Hoje, de longe, foi o pior dia desde que cheguei até o campo.

Hoje eu senti tudo que prometi nunca mais sentir e tudo isso por quê? Harry desperta situações e coisas dentro do meu peito que infelizmente não consigo lidar, não consigo falar sobre e muito menos agir sobre.

Meus passos a partir da cabana da família de Henri foram automáticos, só quando entrei em casa que lembrei. Aquela era nossa casa e provavelmente você estaria aqui. Mas não senti nenhum cheiro. Você ainda está como beta? Espero que não. Se for para estar na nossa casa que pelo menos esteja sendo você mesmo.

Olhei para todos os cantos e não, você não está aqui.

Não senti alívio, no entanto.

Fui para o banho, me troquei logo depois e fui para a cozinha, queria fazer alguma coisa pra comer, mas não tinha disposição o suficiente pra isso, então parti um pão velho que estava por ali e comi com queijo. Melhor que nada.

Entretanto, minha cabeça não parou. Ela me mandou levantar e procurar por ele, pedia com todas as letras fazer alguma coisa, de alguma forma meu corpo também queria o mesmo...

E como se houvesse qualquer ligação com o que eu quero e o que ele quer fazer, senti seu cheiro chegando até nossa casa. O cheiro dele.

Levantei da onde estava e joguei minhas armas de lado, não era momento de briga. Fui até a porta e a destranquei, a deixei aberta e voltei pro meu lugar. Quando você chegou eu não precisei te olhar, soube que você estava ali sem nem mesmo precisar me virar. É claro que era você.

- Posso entrar? - Claro que pode, é a nossa casa.

- Sim.

Você andou com uma lentidão sentida e então sentou ao meu lado, eu sempre gostei do seu cheiro, sabia?

- Quer comer alguma coisa?

- Eu comi já.

- Na Lena? - Perguntei te olhando pela primeira vez.

- Sim... - Mas você não me olhava. - Você sabe dela?

- Victoria me contou de Summy e o pai de Henri pediu para eu não destruir a família que vocês são - sorri envergonhado.

- Ele o quê? - Sua voz aumentou e pela primeira vez consegui ver um resquício de você, do Harry que não tem medo de mim.

Dei de ombro e então segui. - Não é como se ele tivesse errado. Você cuida bem delas, e pelo que eu saiba Lena não tem um alfa, vai ver ela quer você.

- Se você for começar com isso eu vou embora - disse sem alterar a voz.

- Desculpe, não tá mais aqui quem disse.

- Nunca entendi como tem pessoas que mesmo estando aqui no campo conseguem ter pensamento como o dele.

- Não o culpo.

- Não precisa culpar, mas admita que é um pensamento ruim.

- Pode até ser - virei o rosto, - mas o que você quer que eu diga? Eu também aprendi que ômegas e alfas são melhores para se formar uma família. Você também...

- Mas eu não acredito nisso - ele disse baixo.

- Você está com Victor, Harry? - Perguntei sem aviso, precisava apenas me livrar dos meus pensamentos ruins.

- É complicado, Louis-

- Se você tivesse opção, ele seria um alfa que você amaria?

- Não - respondeu na lata.

- Eu disse, ou melhor, eu concordei com o pai do Henri que você é meu alfa e eu sou seu alfa.

Harry poderia me olhar assustado ou então fazer mil perguntas, mas ao invés disso, ele negou com a cabeça enquanto seus lábios se abriam no melhor sorriso que vi nos últimos anos.

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