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sete

As paredes das cabanas eram grossas, todas eram feitas pela melhor madeira que encontravam na mata, assim como o chão e o teto. Sendo tão poderosas que impedia Louis de sentir o cheiro ou conversa de qualquer pessoa do lado de fora. Entretanto, desde o momento que Harry pisou na matilha, foi como estar dentro de uma casa com paredes de papel A4 e teto aberto. Ele ouvia cada palavra que o alfa dizia, mas para além disso, sentia seu cheiro 24 horas por dia.

Demorou cerca de seis horas pra ele conseguir pegar no sono na primeira noite de Harry por ali, isso porque o cheiro dele estava fixo no seu nariz e cada vez que olhava para o lado só o conseguia o ver, mesmo que em nenhum momento o contato deles tivesse acontecido.

As noites seguintes aconteceu o mesmo.

Louis não saiu da cabana para nada, esperava que a estadia do alfa durasse apenas alguns dias e então seu pesadelo acabaria.

Bella, todas as manhãs, saía de casa na esperança de ser seguida pelo alfa, mas não, ele continuava no seu lugar e nem ao mesmo tentava emitir qualquer desculpa.

Durante o dia ele lia algum livro, arrumava a casa e deixava a comida pronta. Quando alguém o chamava ele farejava o cheiro de todos ao redor, tudo para ter certeza de que Styles não estava perto. Porém, o cheiro dele sempre estava ali.

De noite, quando a omega voltava, Louis sorria feliz e dava toda a sua atenção a ela. Ele gostava de verdade de Bella. Na sua vida, Tomlinson não foi muito de fazer amizades, muito menos com uma ômega, mas com ela as coisas simplesmente funcionam.

Na quarta feira de noite ele foi avisado que os infiltrados voltariam para sua vida na cidade no dia seguinte, ele respirou aliviado, mas logo depois ficou decepcionado por saber que isso incluiria ficar longe da Bella. Victoria observava toda a aproximação de longe, nunca dizia nada, sempre saía cedo demais e voltava tão tarde que ninguém a via, porém isso não a impedia de ter olhos em todos os lugares.

Naquela noite Louis não conseguiu dormir.

Ele revirou na cama por mais tempo que conseguiu contar e desejou acabar com aquele sentimento mais do que nunca. Foi com esse pensamento e atitude que se levantou da cama, vestiu um casaco e saiu da cabana pela primeira vez em dias. Não foi difícil a partir dali encontrar o que queria. O cheiro dele era forte, potente e único. Harry também não dormiu, estava de pé perto de uma fogueira do lado contrário das cabanas.

Em passos lentos, tentou não fazer barulho ao se aproximar, mas Styles sentia aquele cheiro até mesmo do outro lado da cidade.

- Não achei que viria - disse após algum tempo em silêncio, Louis chegou e não conseguiu pronunciar nada.

- Eu não queria vir.

- Entendo.

- Entende mesmo? - Perguntou genuinamente, estava esgotado demais para qualquer briga.

- Acredito que sim...

- Seu cheiro voltou - Tomlinson disse depois de minutos sem nada dito, Harry concordou com a cabeça, mas não disse nada, então se viu na obrigação de seguir. - Ele se destaca muito entre os outros, entendo o porquê de não tê-lo na cidade.

- Nem é só por isso...

- Agora eu sei. Me contaram - explicou ao ver a feição de dúvida no maior.

- Ah! O que você acha daqui?

- Você sabe o que eu acho.

- Quero ouvir de você...

- Eu acho que aqui é exatamente o que precisamos - falou sem pudor incluindo Harry na frase.

- A primeira vez que estive aqui senti o mesmo, minha cabeça gritava: preciso mostrar isso pro Louis. Por um ano inteiro procurei você em listas telefônicas pela Europa inteira - sorriu sem humor -, mas eu sabia que não te encontraria. Então, - pigarreou - tive que olhar pra frente e escolher meu futuro. Ser alfa ou ômega era arriscado demais, não tive problema algum em me tornar outra pessoa... A única coisa que sempre me deixava intrigado era em como você me acharia se não pudesse sentir meu cheiro.

- Harry...

- Quando você entrou na delegacia eu senti você de longe, te segui com os olhos e me certifiquei de estar lá em todo o processo. Quando chegava na esquina de casa eu enchia meus pulmões só pra saber se você estava ali. Quando você foi embora eu precisei enrolar o Victor por quase duas horas e até beijar ele eu beijei, pra conseguir sair de lá e te farejar. E todas as noites desde que cheguei aqui, dormi do lado da sua cabana, porque seu cheiro estava ali e de alguma forma queria que você sentisse o meu.

- Eu senti - alertou.

- Sentiu agora, mas, se eu não tivesse ido atrás de você na delegacia, como seria? Você nunca teria me reconhecido, nunca teria me visto e muito menos me sentido.

- Eu daria um jeito, sempre dei...

- Não é o que parece, não é o que pareceu - virou seu corpo, que antes estava de frente para a fogueira, ficou de virado para Louis que não o olhava, mas precisava terminar, precisava ser sincero e em anos eles não tinham um momento só deles, sem nenhuma interferência, em um lugar que realmente confiassem. Aquele era o momento. - Nada disso é uma escolha minha, você sabe. Esse mundo é o mesmo que você vive, então por que?

- Harry - virou-se também, ficando cara a cara para o maior.

- Estou falando sério, por que?

Então demorou.

Louis olhava o rosto que conhecia tão bem, sentia seu cheiro, reconhecia sua cor, visualizava seus defeitos e preenchia suas dúvidas de respostas. Aquele era o Harry que conheceu, era o Harry da reabilitação, o Harry que o acompanhou. Não tinha linhas, amarras, meias palavras ou hesitação.

Viu tão profundamente que quis mergulhar no momento e só esquecer de todo o resto de suas vidas.

Entretanto, Louis sabia que no dia seguinte ele não estaria mais ali, que a vida deles não era mais a mesma e que aquele mundo não os receberam da mesma forma.

Por isso, após sorriu torto e foi o mais sincero que pode.

- Você pode achar que eu te abandonei, pode acreditar que não existia sentimento dentro de mim todas as vezes que bebi e pedi pra você ir embora, você pode e terá todo o direito de achar isso. Mas, não ouse achar nem por um segundo sequer que eu desisti de te encontrar - abaixou a cabeça pra conseguir continuar, afinal estar ali com a pessoa que o reconhecia era duro demais. - E agora eu te encontrei de novo, depois de anos, eu reencontrei você pela primeira vez hoje, aqui e agora. Antes, na delegacia, na rua, no abrigo - pausou, - aquele não era o que está aqui. Aquele eu nunca iria reconhecer sentindo o cheiro ou não. Agora, esse daqui eu reconheço o cheiro, o rosto, as palavras, o brilho e a verdade - sorriu e levantou o rosto. - A gente prometeu que seríamos sinceros, honestos e sentimental com o outro até nosso último dia, e, aqui está, esse é o Louis que prometeu tudo isso junto do mesmo Harry.

As palavras que poderiam ser ditas foram engolidas e os dois preferiram sentir. Harry sorriu carinhosamente assim que Louis levantou a cabeça e não pôde evitar o desejo que sentiu em o abraçar, mas preferiu manter como estava. Já Louis, ficou feliz em ver que suas palavras não foram omitidas.

A briga deles poderia continuar quando o dia nascesse, mas naquele momento eles preferiram somente ser eles mesmos e falar sobre suas vidas, que somente o outro conhecia.

O resto da noite foi recheado de informações. Harry contou detalhes do lugar, das pessoas e do tempo que estava ali. Louis ouviu tudo com atenção e entendeu seu papel dali em diante: ser o forasteiro experiente que sempre foi, mas dessa vez com um plus, estava ali não para ser liderar e sim para unir.

Quando estava amanhecendo eles se despediram sem muita conversa ou melancolia, Louis prometeu proteger aquele lugar e Harry por nenhum momento duvidou que ele cumpriria.

Chegando em sua cabana o alfa encontrou Bella arrumando suas coisas para partir, ela sorriu de imediato ao sentir o cheiro que dominou o ambiente. Não era apenas o cheiro de dois alfas, era o cheiro de satisfação. A ômega correu para os braços do alfa e não pode conter as lágrimas, ela estava verdadeiramente feliz por ver as coisas dando certo.

E era por isso que Louis gostava dela.