vinte e três

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Depois de algum tempo andando, chegamos a nossa casa. Harry entra na minha frente e corre para a cozinha.

É nosso último dia juntos e prometemos que iríamos comer e depois ir ao lago.

Ele prepara macarrão, o mais simples e rápido que podia, pois o tempo estava contado. Nós comemos na mesa enquanto conversamos sobre o dia e coisas normais.

Quando a louça já estava limpa e tudo organizado, saímos de casa em direção ao lago. Ele segurava com firmeza meus dedos e tinha o corpo próximo do meu. Eram nossas últimas 3 horas juntos e parecia que nenhum dos dois queria desperdiçar qualquer minuto longe.

Chegamos e sentamos na frente do mesmo. Harry segura meus dedos e beija cada um deles enquanto me olha, sorria assim que terminou com o contato e depois me abraça.

- Vou sentir falta a cada dia que chegar da delegacia e você não estiver em casa.

- Então você poderá me ligar, nos falamos até dormir.

- Bella te deu o celular? - Ele me pergunta assim que desfaz o contato.

- Sim. Por favor, me ligue todos os dias. - Respondo tranquilo, mas no fundo há certa preocupação. Ele iria me ligar, certo?

- Eu vou ligar, Lou - então como se me ouvisse nos pensamentos mais estranhos, ele tranquiliza.

- Okay - respondo mais baixo.

- Sabe, hoje é um dia pra gente se despedir... Já fizemos isso tantas vezes - Harry relembra e com o tempo deita sua cabeça no ombro no meu ombro, - tantas vezes você se foi, mas muitas outras era eu. Só que dessa vez não é igual... Você sente?

- Sinto que dessa vez não é uma despedida.

- Sente? - Ele levanta sua cabeça e me olha imediatamente.

- Sim - eu suspiro mais baixo, tentando evitar que toda minha vulnerabilidade venha a tona, mas então só o vejo na minha frente e não tem nada que eu não posso ser com ele. - Antes, em qualquer despedida, nós estávamos fugindo um do outro, mesmo nas despedidas que eram para "ajudar" as crianças tinha o fim de fugir um do outro. Dessa vez, eu não estou fugindo de você e nem você de mim. Estamos realmente só ajudando essas crianças e lutando pelo que acreditamos, mas estamos aqui pelo outro...

- Você tem razão - ele sorri sem dentes e me observa.

- Harry, - ele pisca ao me encarar, eu queria mergulhar nos seus olhos e na calma desse momento. A vida inteira poderia ser assim. - Sei que não falo isso e com você indo acho que é necessário você ouvir...

- O quê? - Existe uma certa preocupação em sua feição, mas no geral ele só me olha fixamente procurando por continuidade no que digo.

- Eu sou um alfa, assim como você. Fomos criados da mesma forma e talvez seja por isso que você foi tão compreensível comigo até hoje. Só que eu não quero isso-

- Você não me quer? - Ele franze o cenho e mesmo que minimamente sinto se afastar, o trago de volta com meus braços e continuo.

- Eu te quero - tranquilizo para poder enfim continuar. - Eu não quero que você seja compreensível comigo. Os anos passaram e nós dois crescemos, não só eu, mas você também. Temos vontades, desejos e precisamos deixar que nossos corpos falem. Você sempre foi mais desenvolvido que eu nesse aspecto e eu percebi que comigo você se retrai, porque me compreende demais e acaba achando que pode me assustar.

- Eu só não quero que você desista do que estamos construindo. Todas minhas vontades podem ser deixadas de lado no momento, eu fico bem.

- Irrelevante se você fica bem ou não. Não é esse o ponto. O ponto é que eu escolhi estar aqui, eu escolhi você, eu fui atrás de você quando você estava para fugir mais uma vez, eu quis e eu quero. Então é necessário que não seja mais tão compreensível.

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