dezesseis

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- Eu 'tô com fome - Harry falou assim que fechei a porta, sua mão não estava mais na minha e eu tinha os olhos atentos a cada passo seu.

A verdade é que Harry sempre foi mais espontâneo e animado do que eu. Comigo sempre tinha algum problema, enquanto isso, ele se divertia mais e conseguia ver beleza aonde não existia.

O ver viver sempre foi uma das minhas coisas favoritas. Eu adorava o ver feliz e ter tudo que quisesse. Mas, saber que uma das coisas que ele queria era me ter, sempre me deixou receoso, por muitos motivos, mas principalmente porque eu apagaria sua vida e toda sua espontaneidade.

Queria dizer isso ele, explicar meus motivos e ser direto nas minhas razões. Mas ao invés disso, decidi me juntar a ele e quem sabe dessa vez assistir Harry vivendo de mais perto.

Não podia lhe jurar nada, assim como não sei meus limites, mas sei muito bem que a vida é bem mais legal quando ele está aqui. Então, irei o manter do meu lado.

- Tem pão, queijo e leite, mas eu posso te fazer uma sopa - disse indo para a cozinha para já preparar.

- Não se preocupa, eu faço - ele passou por mim indo para o armário. - Você já cuida das crianças e passa o dia fazendo coisas, deixa que eu cuido.

- Posso te ajudar? - Perguntei com receio, não sabendo ao certo se ele me expulsaria em algum momento.

- Claro que pode - seu sorriso apareceu e ele começou a cortar os pães. - Vou fazer eles no forno com queijo e molho, você gosta?

- Nunca comi...

- Então você vai adorar.

Seus movimentos eram leves e as vezes ele parava o que estava fazendo apenas para me olhar e sorrir. Eu sorria de volta e então ele corava. Era fofo a forma como Harry do meu lado era um homem completamente diferente do que eu vejo no mundo, mas ao mesmo tempo era acalentador o ter daquela forma.

Por algum motivo, ver seu lado mais vulnerável perto de mim e com o mundo ele ser um durão, me fez compreender que não havia problema em ter mais de um jeito de lidar com a vida. Bella, por exemplo, era uma das pessoas mais doces que conheci, mas as pessoas não reconheceriam ela dentro da cabana colocando ordem nas coisas e depois saindo cedo para voltar para Paris, Bella era um doce, mas completamente decidida e correta.

Harry também era assim. O mundo inteiro poderia o ver com medo, ele poderia ser um encrenqueiro e um infiltrado, mas ele também era o cara que corava quando eu o pegava sorrindo para mim, era o cara que ria até se engasgar quando eu fazia cócegas nos seus pés para o fazer esquecer de algum problema, era o cara que me abraçava quando tinha algum problema e abaixava todas as guardas só para dizer o quanto gostava de nós.

Eu também adorava nós.

Assim que os pães ficaram prontos nos sentamos no chão da sala, ao redor da mesa de centro e passamos a comer juntos, Harry me contava sobre Paris e coisas que até hoje eu não sabia e não compreendia. Ele me contou sobre Victor e como era difícil ter que estar com ele por perto. Falou sobre seus medos em relação as novas crianças e eu não pude deixar de me abrir com relação aos mesmos medos.

Com certeza já passava das 3 da madrugada, mas eu não estava com nenhum sono. Seguíamos na sala conversando e trocando todas as informações perdidas durante os anos, até que eu perguntei:

- Você iria embora mesmo?

- Hoje? - Concordei com a cabeça e ele sorriu sorriu sem graça. - Sim... Eu queria poder dizer que não, mas iria sim.

- Você ainda vai?

- Não quero. A menos que você queira, porque se você quiser eu vou.

- Eu não quero, Harry.

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