she.

vinte e quatro

Bella continuava me olhando de forma engraçada, como se soubesse o que fiz mais cedo.

Era estranho.

Eu ainda não conseguia ser eu mesmo na frente de todos, mesmo que fosse capaz de enfrentar o mundo para defender Louis, ainda não sei o quanto consigo me defender dos comentários e xingamentos dos outros. 

Sabia que poderia bater ou retrucar de volta.

Mas, eu seria capaz de segurar sua mão e o assumir para todos?

Não que morar na mesma casa que ele, mais afastado de todos, ser banhado do seu cheiro por onde fosse e aparecer com vergões no pescoço ou braços, não mostrassem isso. Mas, ainda assim, tudo que vivíamos era apenas eu e ele. Ninguém nesse mundo sabe da nossa intimidade.

Principalmente do nosso pequeno momento no lago há algumas horas atrás.

- Ele beija bem? - Bella então perguntou em meio aos meus pensamentos. Imediatamente, Victoria revirou os olhos, havia um ciúmes fatal dela para Louis e eu não podia negar que gostaria de dizer em detalhes o quanto ele era bom pra mim, só para que Bella sentisse inveja por eu ter e ela não. Mas obviamente eu não tenho ciúmes como Victoria. 

Era besteira.

- Não sei do que você está falando-

- Qual é, Harry? Somos amigos a anos, você sempre me contou tudo-

- Bella, acho que isso não é assunto - Victoria tentou impedir.

- Já disse que você não precisa ter ciúmes. Louis ama esse daqui e eu amo eles dois, juntos.

Depois de algumas interrupções ela disse. Meu corpo desassociou no mesmo instante. 

- Ele falou isso? - Tentei não soar desesperado na forma que falei, mas sei que ela notou.

- Você tinha alguma dúvida? - Ela tinha um sorrisinho no rosto que dizia muito mais do que eu poderia imaginar, claramente fiquei corado na mesma hora. 

- Ele não gosta que eu fale sobre nós... - Respondi tímido, tentando buscar alguma justificativa para refazer o silêncio que existia no carro. 

- Tudo bem - ela continuou sorrindo, mas pelo menos aceitou. 

Respirei aliviado, mas não tanto assim. 

Estar de voltar a Paris depois de dias tão bons longe, significava voltar para uma realidade que eu detestava. Quer dizer, eu amava ajudar as pessoas e contribuir com esse trabalho intenso que fazemos, entretanto, detesto tudo que tenho que ser para estar aqui. 

Nesse momento meu cheiro não existe mais, eu sou um beta. 

Lembro que no começo quando comecei a tomar as pílulas, foi um alivio. Elas não tiravam apenas o meu cheiro, ia muito além. Meus instintos ficavam mais calmos e automaticamente todo meu tempo de "ataque" era cortado pela metade. 

Era seguro ser um beta. Era seguro para mim viver nesse corpo, quando se aprendeu a vida toda que ser um alfa era tão errado. Era seguro amar outro alfa vivendo nesse corpo, assim ficava mais "justificável" o sentimento. 

Mas então, como sempre, tudo mudou. 

Louis me ama no meu corpo real. Ele me deseja e quer meu cheiro. Eu sou um alfa e sendo um alfa eu conquistei o meu alfa. 

Não é mais um alivio ser um beta. Agora é um pesar. Sinto meu corpo brigando com meu lobo enquanto o carro anda pela cidade, é intenso e ao mesmo tempo é silencioso, olho em volta e todos estão normal, mas dentro de mim alguma coisa mudou. Quando chegar em casa vou precisar marcar uma consulta, talvez essa pílula não seja mais tão eficaz e eu precise de alguma mais forte.