dezoito

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- Ele 'tá feliz - Victoria se aproximou da onde eu estava dizendo, ela se referia a Harry que estava um pouco mais a frente com algumas crianças junto de Bella e Joseph.

- Você acha?

- Acho. Vocês conversaram? - A olhei tentando decifrar o que ela poderia estar querendo dizer, será que estava na cara o que houve desde ontem a noite? As pessoas sabiam que nos beijamos? - Lena contou que ele não dormiu lá, mas também falou que você foi atrás dele, então achei que vocês pudessem ter conversado.

- Conversamos... - Disse sem muita explicação.

Ainda não entendo até onde Harry e eu vamos e nem o que somos. Poderia pedir conselhos a Victoria tenho quase certeza que ela não acharia estranho, porém ainda tinha minhas questões com as pessoas que estavam por ali.

O que o pai de Henri diria?

E Lena? Será que ela acabaria se sentindo traída por ter sido tirada do alfa que a protegia?

Haviam pessoas demais que poderiam se envolver na gente. Isso me dá medo, não posso mentir.

- Acho bom - Victoria continuou, - vocês dois precisam parar de ser gato e rato. Se não vão ficar juntos, tudo bem. Mas, que pelo menos mantenha a civilidade dentro do nosso campo. - Eu sorri assim que ela terminou de falar, não por algo específico que disse, mas por saber que pelo menos alguém torcia para que estivéssemos bem.

- Acredito que as brigas tenham acabado de vez.

- Como pode ter tanta certeza disso? - Ela era direta.

- Apenas sinto-

- Eu não acredito nisso - Bella chegou correndo perto de nós, ela tinha todos os dentes para fora da boca de tanto que sorria e logo atrás estava Harry com sua feição mais preocupada e medrosa, ele tentou conter os passos da ômega, mas ela foi mais rápida.

- Por favor - ele disse assim que Bella me abraçou forte e com muita velocidade.

- Posso saber o que está acontecendo aqui? - Victoria perguntou um tanto quanto grossa.

-  Nada! - Harry falou um pouco mais alto e olhou feio para Bella assim que ela saiu do meu abraço.

- É só que - ela limpou a garganta para enfim terminar, - eu descobri que os dois se acertaram - Harry cutucou o braço da ômega e entendi tudo que estava acontecendo, era claro que esse alfa iria contar pra alguém, ele se contém perto de mim, mas com certeza queria falar com quem o entendesse. - Quero dizer, eles não estão mais brigados.

- É, é isso. Somente isso.

- Pelo amor de deus, vocês estão se pegando é? - Victoria falou na lata o que me fez engasgar com minha própria saliva e Bella gargalhar, a ômega vendo meu desespero retirou sua alfa de perto, ficando somente eu e esse alfa bobo no lugar.

- Não fique bravo comigo, por favor, eu só queria um conselho e ela te conhece tão bem.

- O quanto disso, conversar com ela, tem a ver com mostrar que eu estou com você e não ela? - Sempre soube do ciúmes irracional que Harry tem por Bella, então não seria nenhuma novidade ele ter falado apenas para poder marcar território.

Harry bufou derrotado após um tempo, ele sabia que eu o conhecia bem. - Talvez um pouco, mas eu tenho certeza que ela não vai contar pra ninguém. Se você quiser, eu posso fazê-la prometer isso e também-

- Tá tudo bem - sorri.

- Bem mesmo? - Falou desconfiado.

- É, está! Não posso te dizer que está tudo bem falar pra todo mundo, mas eu confio nelas...

Minhas palavras tinham a coragem que meu corpo e mente não tinham, mas é o que dizem "se você fala muito a mesma coisa, aquilo se torna real".

- Ok - ele sorriu, - eu gosto de você. Você sabe disso, não é mesmo?

- Sei. E é recíproco, Harry - seu cheiro ficou mais forte assim que terminei de falar, não precisando dizer nada, pois eu sabia que ele gostava do que estava acontecendo.

Seu sorriso cresceu e então saiu da onde estávamos para voltar às crianças. Mesmo querendo conter minha alegria, eu me permiti sorrir assim que o vi chegando perto das meninas menores para ajudá-las a calçar suas sandálias.

...

Quanto tempo demora para uma mudança acontecer?

Será que as coisas mudam de uma hora para a outra ou as coisas mudam depois de muitos anos maturando?

Acredito que eu esteja mudando. Não só pelo que aconteceu mais cedo, mas por um total. O principal motivo da minha mudança é com certeza me sentir seguro.

Saber que estou no campo e que posso ajudar outras pessoas, que essas mesmas pessoas podem ou não concordar com os meus gostos, mas que mesmo assim não farão nada para atacar a mim ou o Harry, me mudou.

Saber que o cara que sempre esteve comigo, do meu lado, que também é o cara que gosta de mim - romanticamente falando -, está disposto a me acompanhar em qualquer jornada e além disso me deseja como homem, me mudou.

Saber que tenho a liberdade pra começar a sentir e fazer meus sentimentos se tornarem físicos, me mudou.

Saber que existem crianças como eu era e que aqui elas possuem o melhor tratamento, podendo crescer em um ciclo saudável e familiar, me mudou.

Saber que eu tenho uma casa, só minha e dele, me mudou.

Talvez a mudança ocorra de forma contínua, hoje eu mudei um pouco e amanhã mudarei mais.

A mudança deve ocorrer nesses buracos de tempo que achamos que estamos na merda e no nosso pior momento, é ali que a mudança está acontecendo. Nada estaria mudando se algumas coisas terríveis não tivessem acontecido.

...

Mais tarde, Bella e Victoria insistiram para que Harry e eu fossemos para casa juntos. A ômega disse que deveríamos ficar juntos, já que em pouco tempo o alfa voltaria para Paris. Victoria parecia concordar e, sobretudo, ela parecia gostar muito mais da minha versão "com o Harry" do que da minha versão sem ele.

Então, saímos da cabana após arrumar algumas coisas, chamei Henri para o levar em casa e o deixei na sua cabana, seu pai não estava por lá (ainda bem).

Harry falava sobre algumas crianças e comentava coisas aleatórias sobre o dia, em momento algum ele se aproximou de mim ou tentou qualquer coisa, seu jeito não parecia triste por isso, pelo contrário, Harry estava mais brilhante e feliz que nunca. Em toda a vida, hoje estava sendo o primeiro dia que eu o via tão bem, tão leve, tão feliz e tão brilhante. Ousaria o comparar com o sol que se ponha naquele instante, aquele alfa estava dourado e eu juro que conseguia ver seus brilhos voando pelo ar.

Entrelacei meus dedos aos deles, por um instante ele parou com suas palavras, no momento seguinte ele sorriu e tudo brilhou ainda mais.

Ele se aconchegou no meu braço e ficamos assim até entrar dentro de casa. Quando a porta fechou, o segurou pelo braço e aproximei nossos corpos, era um um tiro no escuro que eu queria dar.

- Oi - falei assim que nossos rostos estavam frente a frente.

- Se viciou em mim? - Ele falou baixo e acredito que ele também esteja dando um tiro no escuro.

- Acertou - respondi, agora sem medo, ele sorriu sem dentes e se aproximou para selar nossos lábios.

Em pouco tempo, estávamos em um beijo profundo ainda na porta, em pé.

Eu queria me sentar com ele, poder ficar junto dele o dia todo, mas não havia nenhum lugar na casa - além da cama - que pudesse ser feito isso. Sem reclamar, nós dois continuamos no mesmo lugar, entre beijos, sussurros e sorrisos.

- Precisamos de um sofá - ele falou.

- Você leu minha mente - eu respondi.

- Já te disse, eu sinto você.

Com o fim de suas palavras ele colou nossos lábios mais uma vez e eu aprofundei o beijo.

Eu poderia me acostumar com isso, facilmente.

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