Acidental

150 16 815
                                    

Nós finalmente terminamos de acertar os últimos detalhes da coreografia definitiva para o próximo jogo dos garotos do futebol americano, olho para o céu, onde o sol nascente se ergue atrás dos prédios no horizonte, por um milagre, hoje não tive que aturar a Helena, já que por algum motivo ainda desconhecido, ela não compareceu. Torço para que seus pais tenham decidido ir morar em alguma ilha deserta nos confins do planeta e a tenham levado consigo.

Infelizmente, é provável que a peste só esteja doente, ontem eu a vi passando pelos corredores tossindo muito, e com a voz fanha, o que já deve ser o suficiente para explicar sua ausência. Ainda assim, tenho que lidar com Ana, Alison e Diana, os cães de guarda da jararaca. Dentre elas, a pior é Ana, além de seu porte físico avantajado, que lhe dá um aspecto mais dominante, a garota sabe como intimidar sem de fato precisar usar sua força, exatamente como está fazendo agora, me encarando com o canto de seus olhos cinza azulados, é um olhar que quando combinados ao seu rosto rígido e sua voz firme, coloca qualquer uma em estado de alerta.

Se eu pudesse fazer um desejo que pudesse ser realizado, com certeza pediria uma valentona gostosa que fosse legal com quem é bom, e cruel com quem é mau. Se isso realmente acontecesse, começaria a suspeitar que sou a protagonista de algum livro qualquer de romance adolescente, e o autor, em um dos seus raros momentos de bondade, decidiu me conceder essa bênção. Pensar assim, por mais estranho que possa parecer, faz com que eu abra um pequeno sorrisinho, apenas pelo fugaz momento.

Só depois que acontece é que volto à minha realidade, percebendo que deixei escapar um sorriso quase debochado, olhando fixamente a garota brutamonte, que logo se aborrece com minha atitude e vem andando com passos pesados na minha direção. Antes que Ana me mate com seu olhar furtivo penetrante, ou mesmo com suas mãos em volta do meu pescoço, Sarah surge ao meu lado, e dá uma boa encarada em minha inimiga, que hesita um instante, ponderando se deveria ou não iniciar essa guerra. Sarah se mantém firme, ela molha os lábios com a língua e muda o peso da perna enquanto cruza os braços.

– Algum problema? – Minha amiga diz, exibindo um belo sorriso confiante no rosto.

– Nenhum – a garota responde com a cara fechada, e pega suas coisas sobre o primeiro degrau da arquibancada de madeira e vai embora.

– Obrigada – digo, batendo a mão na testa. – Eu estava viajando aqui!

Sarah ergue as sobrancelhas e suspira.

– Deixa eu adivinhar: estava pensando em como essa escola carece de magia, e que se fosse que nem um livro, já teria encontrado seu príncipe encantado? – A moça gargalha antes mesmo de eu dar minha resposta.

– Sou tão bobinha assim? – Rio, para tentar disfarçar a vergonha que sinto.

– Ultimamente nem tanto, mas na maioria das vezes sim – ela me provoca cutucando minha costela com o cotovelo enquanto caminhamos para fora do campo. – Antes eu te chamava de louca dos livros, mas não fica chateada.

– Ah, obrigada, agora estou muito mais feliz – respondo com sarcasmo.

– Disponha – faz uma reverência. – Vamos ao que interessa: por que Laura simplesmente não contou como faremos o plano de uma vez ao invés de fazer esse suspense?

Porque ela não tem um plano, é o que penso em responder, mas prefiro não entregá-la.

– Porque temos que estar todos reunidos, vamos agir melhor assim.

– Mas estávamos todos reunidos ontem, ou tem mais alguém que vai fazer parte? – Sarah vira o rosto para mim, dessa vez, me esforço ao máximo para não desviar o olhar. Só espero que ela não questione o fato dos ferimentos do Ben depois da festa, e sobre eu ter me afastado de Jerry e seus amigos. Não que eu fosse próxima. – Como você explica essa mudança de clima na escola então? Se só vocês sabiam, por que o Ben parecia tão afetado? Perguntei o que houve, porém ele não quis me responder.

Meu Amor Adolescente [Completa]Onde histórias criam vida. Descubra agora